CRÍTICA: A Insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera




Por Monise
Rigamonti

Publicado em 1984, o livro A Insustentável Leveza do Ser, é um romance filosófico produzido pelo escritor tcheco Milan Kundera. O autor contextualiza as histórias com os conflitos políticos da Tchecoslováquia (que hoje representa os países República Techa e Eslováquia) como a “Primavera de Praga” e o socialismo.

Foto: Divulgação

A narrativa do livro se passa entre quatro personagens principais: Tereza, Sabina, Tomás e Franz. Retrata a vida desses personagens e as relações de amor sendo as vezes um “amor-ideológico” outras um “amor-real” vivendo seus conflitos que são oras internos, oras externos. 

Tereza é uma mulher que veio do interior fugindo de uma vida pacata e dos seus conflitos com a sua mãe que ridicularizava o fracasso das suas relações amorosas pela nudez do seu corpo, para fugir dessa exposição e buscando um refúgio de seus problemas Tereza se encontrou o universo dos livros, depois se aventurou em conquistar um lugar na vida de Tomás. 

Tomás era um médico renomado, que por questões políticas do regime socialista foi forçado a desistir de sua profissão. Era um amante da sua própria liberdade e a colocava acima de qualquer coisa na sua vida até se encontrar com Tereza a quem descreve como um “bebê encontrado em um cesto à beira de um rio”. 

Sabina era uma artista plástica (que se voltava especialmente para a pintura e fotografia), cuja sua vida era baseada em contrariedades e na busca pela sua liberdade e em não se prender em compromissos, inicialmente era a principal amante de Tomás. Buscava compreender e retratar de forma sutil nas suas pinturas através da beleza das cores a natureza humana, seu amigo mais fiel era seu chapéu choco, herdado do seu avô. 

Franz era um sucedido professor universitário que sempre se destacou desde os tempos primórdios de seus estudos na pesquisa, era um pesquisador renomado. Porém em troca sua vida pessoal sempre fora mais exclusa e convivia apenas com seu ambiente familiar, se casou, mas não havia nenhuma identificação com sua esposa e com a sua filha, passa a perceber e questionar essas relações quando se encontra com Sabina. 

Cada personagem tem seus principais características e maneiras de agir, quando as suas vidas se cruzam, essas relações estabelecidas entre eles se tornam bastante intensas e peculiares, nos levando a refletir sobre os diversos tipos de relações humanas que encontramos e principalmente lidamos com o nosso vazio existencial. Algumas questões são expostas no livro com corpo e alma, claro e escuro e leveza e peso. Concluímos de que não existe certo ou errado, mas apenas pontos de vistas diferentes. 

Uma reflexão que se destaca é a maneira como as pessoas – por questões e conflitos internos, tem a necessidade de serem vistas, notadas e até apreciadas pelos outros. O autor destaca quatro dessas personificações: a primeira ele reflete sobre a busca pelo olhar do público, de uma infinidade de pessoas anônimas que em algum momento vão parar e contemplar a sua performance/ação diante de alguma circunstância prevista ou não. O segundo tipo busca uma aceitação e um reconhecimento do olhar de seus familiares e de pessoas próximas, chamando a atenção destas. A terceira categoria são aqueles que buscam e pensam na aprovação e aceitação da pessoa amada, tudo gira em torno da pessoa com quem eles mantém um relacionamento e por último as que vivem sobre os olhares imaginários das pessoas ausentes, mas que representam para elas algumas lacunas na sua vida. 

Acredito que em algum momento de nossas vidas todos nós passamos por essa “necessidade” do olhar dos outros, sejam eles estrangeiros, pessoas da família, namorados e parceiros de vida, e/ou de pessoas que se foram ou de alguma forma estão ausentes na sua vida. Muitas vezes esses impulsos ou a falta deles nos leva a sentimento de carência, raiva, dor, solidão, ou até mesmo leveza, desapego, indiferença que podem nos servir de impulsos para ações que se referem e se repercutem única e exclusivamente na nossa própria vida. 

O autor trabalha ao mesmo tempo de uma maneira muito intensa e sutil essas potencialidades e características da alma humana, fazendo com quem nós voltamos para a nossa própria persona e buscamos reflexões sobre nossas próprias vidas.

Os personagens se fazem humanos, todos nós podemos identificar aspectos deles nas nossa própria personalidade, a Sabina – com o desejo pelo belo e por retrata-lo na suas pinturas e sua vida, suas contrariedades, seu desejo infinito pelo desapego e pela liberdade e por querer pertencer ao mundo, Tereza – o seu conflito com a sua mãe e o desejo e busca incansável e autônoma pelo conhecimento, por se fazer diferente em um ambiente tosco e a determinação em acreditar que poderia ver sua alma através de encarar-se no espelho, Tomas- seus traumas do passado que o levaram a ter uma verdadeira paixão pela sua liberdade e até mesmo solidão, mas que por outro lado sabe ser uma pessoa com compaixão e solidária especialmente ao cuidar de seus pacientes e Tereza, e por fim Franz – uma pessoa extremamente inteligente e renomada, mas que sente um vazio interior por não se encaixar no mundo tido como “normal” na sua época e por não conseguir compreender e ser compreendido pelas pessoas a sua volta, se sente um peixe fora d’água. 

Muito embora a história seja deslocada em outro espaço-tempo, podemos ver que os conflitos humanos se tornam os mesmos ao decorrer da história, a alma humana é falha, cheia de contrariedades, mas que é justamente desta imperfeição que nos torna vivos, humanos.

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