CRÍTICA: Luke Cage – Herói de Aluguel (sem spoilers!)




Por Fernando Bernardo

Na sexta (30 de Setembro) os treze episódios que compõem a primeira temporada do “Herói de Aluguel” Luke Cage – terceira parceria entre a Netflix e a Marvel, foram disponibilizados. Antes, a parceria rendeu duas temporadas de Demolidor e uma de Jessica Jones. Em 2017 teremos a série de outro herói, Punho de Ferro em Março e a junção de todos na série Os Defensores, prevista para o segundo semestre.

Foto: Divulgação

Luke foi criado em 1972 por Archie Goodwin, John Romita e George Tsuka e possui habilidades sobre humanas como pele invulnerável e força descomunal adquiridas após experimentos científicos realizados no presídio de Seagate. Ambientado no Harlem – bairro de Manhattam em Nova Iorque e tradicional reduto da cultura afro-americana, Luke (vivido por Mike Colter) vive endividado e divide o seu tempo entre dois empregos: como uma espécie de faz-tudo na famosa barbearia de seu amigo Pop (Frankie Faison) e na cozinha de uma boate, propriedade de Cornell Stokes (Mahershala Ali). Porém Stokes não é, digamos, um cidadão modelo. Na realidade ele também é conhecido como Cottonmouth (ou Boca de Algodão), gângster da região e traficante de drogas e armas. Luke evita ao máximo utilizar suas habilidades especiais mesmo em um mundo que agora convive com super seres. Mas similar ao que aconteceu na série do Demolidor entre o personagem título e seu algoz Rei do Crime, alguns eventos colocam Luke e Cottonmouth frente à frente em uma batalha que mudará definitivamente a vida de todos no bairro. É importante salientar que a série se passa meses depois de Jessica Jones, quando tivemos o debut do personagem na telinha.

A série funciona – muito bem!, em muitos aspectos. À começar pela ambientação do Harlem: são inúmeras as referências visuais e musicais que marcam a série. Em alguns momentos as músicas parecem personagens, tamanha a sua relevância no enredo – talvez por isso nomes dos episódios são títulos de músicas do duo de hip hop Gang Starr, da Costa Leste dos EUA. Personagens históricos da luta contra o racismo também são citados, bem como celebridades esportivas e musicais – até mesmo em forma de participações especiais. A fotografia e direção de arte também prestam homenagem ao blackploitation – movimento cinematográfico dos anos 70 caracterizado por produções dirigidas e estreladas por negros. Ao mesmo tempo que presta homenagens a série também acerta ao se manter atualizada com os recentes (mas igualmente antigos) conflitos da população local com abusos e violência policial. Em vários momentos os personagens escancaram o medo das batidas policiais e suas consequências. Ainda alertam sobre o impacto negativo que a violência gera nos mais jovens. Falando em violência, seria muito difícil adaptar as obras da Netflix em outra mídia já que tanto o Harlem como a Cozinha do Inferno (de Demolidor e Jessica Jones) são bairros “barra pesada” e ficaria difícil contextualizar a realidade destes bairros de forma branda ou bem humorada. Luke Cage assim como as demais séries da parceria são graficamente violentas e sensuais, com mortes e cenas de sexo impossíveis de serem vistas nos filmes dos heróis da “Casa das Ideias”. Outro fator muito positivo da série é o reencontro com o universo cinematográfico da Marvel – algo que foi pouco explorado em Jessica Jones e na segunda temporada de Demolidor. Aqui temos muitas referências: o ataque a Nova Iorque no primeiro filme dos Vingadores sob nova perpectiva, a utilização de material alienígena oriundo deste ataque e a citação das indústrias Hammer – empresa rival de Tony Stark em Homem de Ferro 2, além de vários personagens dos filmes, entre eles Thor, Capitão América e Hulk. Isso aumenta a esperança de quem espera um dia a união dos personagens da TV com os do cinema, apesar da evidente diferença de tom entre as produções. Ao mesmo tempo que flerta com os filmes, Luke Cage também cita as demais séries e personagens do universo urbano da Marvel e apresenta o fio condutor deles, a personagem Claire (Rosario Dawson) – de forma bem mais relevante por aqui.

Mas se o enredo teve muita preocupação com o contexto histórico da história e suas muitas referências, o mesmo não pode se dizer da solução encontrada para a apresentação de importantes personagens na trama. Diferente das HQs, Luke Cage não é natural do Harlem e talvez essa mudança tenha causado uma série de “coincidências” rasas demais para dar coesão a trama. Sabe aquela história de dizer “que mundo pequeno”? Pois é, em Luke Cage ele parece pequeno demais! Mesmo! A própria apresentação de Claire lá pelo meio da temporada foi de certa forma forçada e pouco palatável. Não só Claire mas apresentação e condução de um importante personagem vilanesco na segunda metade da temporada ocorre de forma um tanto preguiçosa e caricata. Pesa contra também o ritmo da série: muito lento e chega a incomodar em alguns momentos (um exemplo é o depoimento de uma policial após um interrogatório violento que além de cíclico é diluído em dois episódios e poderia ter sido reduzido na sala de edição). Incomodam também algumas cenas de ação que se tornam demasiadamente repetitivas.

De qualquer forma é uma série que vale ser vista, sobretudo pela grande qualidade técnica, espetacular trilha sonora, inúmeras referências à cultura afro-americana e ao Universo Cinematográfico da Marvel (tente achar o Stan Lee). Assita preferencialmente de forma homeopática devido o ritmo lento e cadenciado da série, principalmente a partir do sexto episódio. 

É isso amigos!

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