CRÍTICA: O Grande Sucesso
Por Samuel Carrasco
Um espetáculo há 10 anos (ou mais) em cartaz. Um elenco que se reveza em cena incansavelmente. Um entra e sai de protagonistas, uma troca de angústias que se alojam cada hora em um personagem.
Foto: Priscila Prade
O Grande Sucesso parece que acompanha nossas conversas de bar, parece que somos nós, artistas de uma vida não tão fácil quanto se pretende, que estamos lá sendo representados por alguns seres majestosamente irônicos. E rimos de nós, e rimos deles, e engolimos o choro quase que simultaneamente ao riso.
O texto e a direção de Diego Fortes é um primoroso resumo das nossas pequenas frustrações diárias com nossas expectativas mal executadas. O “sucesso” ali tem suas variantes: “alguém que planeja fracassar e fracassa, obteve sucesso?” Indaga um, indagamos nós. O que é fazer sucesso? O que é chegar ao topo? Onde é o topo? O que é o topo?
Os atores da companhia estão no backstage (camarim/coxia) esperando suas deixas para entrarem em cena. Alguns estão desde o começo da longa temporada, outros foram entrando aos poucos substituindo alguém. Logo se percebe que a peça em si não agrada a nenhum deles, quase ninguém entende o que fala, quase ninguém sabe o que está fazendo de fato ali, apenas fazem. O jogo entre o que acontece naquele espaço que antecede à fantasia e a nossa própria vida, se dá o tempo todo: nossas prioridades, nossas buscas incessantes por algo que nem sabemos o que é, a mistificação desmedida do que não é nada, nossa sina de planejar e planejar e, quando chegar a hora, fazer errado e se julgar depois.
Na grande espera pela nossa “deixa” para viver, nos vemos ali, cheios de aparatos que não concordamos, cheios de opiniões que não desenvolvemos sozinhos, mas sempre prontos para entrar e fazer… O que mesmo?
Alexandre Nero e grande elenco dão vida (e que vida!) às palavras de Fortes. As músicas, ácidas e pontuais, dão o andamento e a atmosfera necessária para captarmos, mesmo que inconscientemente (na pior das hipóteses), o peso dessa comédia. A versatilidade dos artistas agrada até o mais leigo da platéia.
Do início ao fim o público se sente convidado a agir e a reagir. Como tudo na vida que “tem um começo, acontece algumas coisas e acaba”, assim é O Grande Sucesso que, como tudo o que é bom, não queremos que termine.
Vida longa aos questionamentos! Vida longa a “O Grande Sucesso”, em cartaz no Teatro Vivo até o dia 16/10.