Dons da Literatura #1: Cecília Meireles
Por Dilson Gross
“Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.”
(Poema Motivo)
Foto: Divulgação
Novembro de 1901 a cidade do Rio de Janeiro ganhava uma estrela e não sabia. Desconhecida de tal fato por pouco tempo. Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no dia 7.
De que algumas dores tiveram influência em sua poesia, isso não temos dúvidas. A infância, marcada pela morte dos pais, trouxe logo a experiência que viria em suas poesias, onde com apenas nove anos de idade escreveu seus primeiros versos.
Com apenas 18 anos de idade publicou seu primeiro livro, “Espectro”, com caráter bastante simbolista (movimento literário da poesia do século XIX, em oposição ao realismo, naturalismo e ao positivismo), indo totalmente na contramão de tudo que era publicado na época. Contendo 18 sonetos e com prefácio de seu antigo professor de língua portuguesa, Alfredo Gomes, o livro ficou sumido por muito tempo, sendo que nem sua família sabia de notícias sobre os exemplares, o livro tinha desaparecido. No entanto, foi incorporado em “Poesia Completa”, uma publicação feita pela Editora Nova Fronteira, em 2001.
“Nas noites tempestuosas, sobretudo
Quando lá fora o vendaval estronda
E do pélago iroso à voz hedionda
Os céus respondem e estremece tudo,”
Jornalista, pintora, professora e escritora, não lhe faltavam adjetivos. Uma das marcas de Cecília é a musicalidade de seus versos, tão conhecida que alguns poemas como “Motivo” e “Canteiros” tiveram gravações pelo cantor Fagner.
A formação pedagógica a levou pelo caminho da educação quando, em 1934, fundou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro. Além de suas obras conhecidas de literatura infantil: “O menino azul”, “Sonhos de menina”, “Colar de Carolina”, são algumas delas.
Outra perda imensa foi o suícidio de seu marido, o pintor Fernando Correia Dias, em 1936, devido a depressão, do qual já estavam juntos há 14 anos. Só se casou novamente quatro anos depois com o engenheiro Heitor Vinícius da Silveira.
Nesse meio tempo, publicou o livro “Viagem” (1939), que lhe renderia o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Cecília ainda lecionou Literatura e Cultura Brasileira em uma Universidade do Texas, em 1940. Tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura. Recebe o Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1962. No ano seguinte, ganha o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro “Poemas de Israel”, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Dentre muitos outros prêmios.
Cecília Meireles morre no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964, devido a um câncer.
Poucos meses antes, em Maio, Cecília deu sua última entrevista ao jornalista Pedro Bloch, onde diz uma frase conhecida: “Tenho um vício terrível. Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.”
Apesar de muitas, segue algumas de suas principais obras:
Espectro – 1919
Criança, meu amor – 1923
Nunca mais… – 1923
Poema dos Poemas -1923
Baladas para El-Rei – 1925
O Espírito Vitorioso – 1935
Viagem – 1939
Vaga Música – 1942
Poetas Novos de Portugal – 1944
Mar Absoluto – 1945
Rute e Alberto – 1945
Retrato Natural – 1949
Amor em Leonoreta – 1952
Romanceiro da Inconfidência -1953
Poemas Escritos na Índia – 1953
Batuque – 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara – 1955
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro – 1955
Panorama Folclórico de Açores -1955
Canções – 1956
Giroflê, Giroflá – 1956
Romance de Santa Cecília – 1957
A Rosa – 1957