Os Encantos de Cassia Raquel




Por Rodrigo Medeiros

Um talento encantador e com destaque no Teatro Musical Brasileiro a sete anos, atualmente integra o elenco como cover das duas personagens femininas principais de Les Misérables, em cartaz na capital paulista. Cássia Raquel entrou no ramo dos musicais e nunca mais saiu!

Foto: Divulgação

Com os diretores Möeller & Botelho, mais reconhecidos da área, fez “Hair”, “Milton Nascimento – nada será como antes”, “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” e “Beatles num céu de diamantes”. Participou da turnê “New York New York” sob a batuta de Marconi Araújo e direção de José Possi Neto. Interpretou Sarah Vaughan em “Simonal – Simbora o musical” e protagonizou o infantil “Galinha Pintadinha em Ovo de novo” de Ernesto Piccolo. Emprestou sua voz para várias trilhas sonoras de novela, filme e peças teatrais, como Gaby Estrela e Topo da Montanha, Anina, Odd Squad entre outros. Seu trabalho mais recente foi em “60 Década de Arromba – Doc Musical” produzido e dirigido por Frederico Reder da Brain+.

Em Simonal Simbora – O Musical | Foto: Divulgação

Estudou canto lírico na UFRJ e leciona canto em algumas escolas de artes no Rio de Janeiro. Até hoje as pessoas reconhecem pelo programa de calouros da Record, Ídolos 2008. Cassia separou um pouco do seu tempo para responder 5 perguntas para o Acesso Cultural. Confira!

Acesso Cultural: Conte um pouco a sua trajetória na música e como foi parar no Teatro Musical?
Cassia Rachel: Meus pais sempre me incentivaram a cantar e costumávamos cantar em família e nas igrejas que frequentávamos. Me interessei por bateria ainda adolescente e aprendi a tocar nos cultos por conta própria. Estudei clarinete aos 15 anos para ser Sargento da Aeronáutica. No ano seguinte, desenvolvi a técnica de canto lírico e me preparei para entrar na UFRJ. Alguns colegas da turma comentaram sobre as audições de Hair e fiz o teste. Desde então, emendei trabalhos e minha carreira neste mercado se consolidou.

AC: Você já trabalhou com grandes nomes do Teatro Musical Brasileiro em especial Charles Möeller e Claudio Botelho. Como é trabalhar com eles? 

CR: Eu os valorizo e os defendo sempre, não apenas por terem me dado a primeira oportunidade, mas porque admiro toda a estrada percorrida por eles. Eles usam linguagem simples e eu consigo atingir o objetivo bem rápido. Me adaptei com facilidade a metodologia, a forma de fazer cronograma de ensaios e por respeitar os limites do ator, entendendo a importância do descanso também. No total fiz 4 espetáculos, 3 de câmara. Eles confiam em mim e isso me dá um gás extra para estar bem confortável em cena.

Em cena no musical Milton Nascimento – Nada Será como Antes de Moller e Botelho | Foto: Divulgação

AC: Milton Nascimento – Nada Será Como Antes foi seu grande destaque no Teatro Musical Brasileiro. Conte um pouco sobre essa experiência!

CR: Recebi o convite no fim da temporada de Hair em SP e prontamente aceitei. Muitas pessoas que me conheciam apenas do gospel ou por programa de TV, passaram a me reconhecer como atriz e me acompanhar. Foi através deste espetáculo que o preconceito com musicais de muitos se quebrou e passaram a visitar mais os teatros. Coincidiu com o período em que meu pai adoeceu e partiu. Foi difícil me dividir entre ensaios e idas ao hospital. Provei ali o meu profissionalismo pois não me permitia ficar abalada nem me entregar pela metade. É um projeto com vida longa e mesmo com algumas interrupções e mudanças de elenco, não perdeu sua força! Além de que foi meu único trabalho que teve gravação de CD e tem disponível em plataformas digitais.

AC: Você é uma das principais atrizes negras de destaque no Teatro Musical. Como você vê o mercado para atrizes do seu perfil? 

CR: Até pouco tempo atrás, ainda era comum ver os negros interpretando os mesmos tipos de personagens. Hoje, a visão se expandiu e conseguem nos enxergar fazendo diversos tipos de papéis. Meu perfil também é magra, baixinha, que aparente ter menos idade. Basta ter oportunidade para mostrar que sei fazer outras coisas além do estereótipo. Quando fiz o infantil da Galinha Pintadinha, mostrei que tinha ‘time’ de comédia e sei cantar sem fazer firulas.


Quantas vezes eu ouvi que eu era uma negra bonita por ter traços finos! Ora, se eu tivesse um nariz “batatudo” e lábios grossos, não seria aprovada? O meu cabelo crespo não é aceitável? São muitas questões que enfrento desde que me entendo por gente e nesse meio não é diferente. Em muitos elencos eu era a única ou uma das poucas negras. Eu era minoria. Meu talento é avaliado através da cor da minha pele desde o momento que entrego currículo com foto.

Bato palmas pela iniciativa de Love Story (fui aprovada, mas não pude conciliar), que foi feito com o elenco inteiro de negros. Tem uma galera muito boa, porém ainda inexperiente por falta de incentivo.

Ainda vemos produções brasileiras ambientadas aqui no nosso país, parecendo que está retratando uma história europeia. Infelizmente, causaria estranheza se eu fizesse Cinderela, por exemplo.

Me identifico com o discurso da Viola Davis recebendo seus prêmios. Aos poucos, estamos rompendo com essa barreira! Capacidade nós temos, beleza também. Falta interesse.

AC: Você recentemente estava em cartaz com o “60! Década de Arromba” e saiu da produção para fazer o Les Misérables. Nos conta o processo do 60! e a importância que o espetáculo teve na sua trajetória profissional? 

CR: Foi uma das melhoras coisas que o destino me reservou. Dividir o palco com amigos, ter pessoas bacanas no camarim, equipe criativa de respeito, produção amável. Até na minha despedida teve festa porque as colegas entendiam e apoiavam minha escolha de ir fazer um clássico.

O grupo timbrou de primeira!!! Nossos encontros eram muito divertidos e isso era completamente perceptível. Era prazeroso fazer e nem se incomodávamos de estar cansados. Cada cena eu entrava com uma peruca mais incrível que a anterior.

Em cena como Cristie (A primeira Barbie negra) no 60! Década de Arromba Doc.Musical | Foto: Divulgação

Eu ouvia aquelas músicas em casa desde pequena e sabia todas de cór. Os meus figurinos eram um escândalo! O cenário um capricho, os arranjos e coreografias belíssimos. Os meus números eram a minha cara e eu não fui impedida de dar minha interpretação e isso resultava num caloroso aplauso da plateia. Me divertia fazendo a Barbie, me sentia Diva no Aquarela… Quero voltar para fazer os 70 e o 80!!! Experiências como essa merecem repeteco. Sou muita grata ao Fred Reder por ter me recebido tão bem e ter abençoado minha saída.

Acesso Cultural

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