Aos 16 anos, Filipe Bragança ganha destaque por atuação em Les Misérables
O ator que interpreta o jovem Marius PontMercy, levou o Prêmio Bibi Ferreira 2017 de Melhor Ator Revelação
Por colaboradora Letícia Akamine
Ele é bem conhecido pelo público infanto-juvenil como Duda, de Chiquititas, e o jovem Christian Figueiredo (Youtuber), no longa “Eu Fico Loko” (2016). Mas agora, o goiano Filipe Bragança está dando o que falar nos palcos.
Foto: Divulgação
Filipe ganhou na última quinta-feira (18) o Prêmio Bibi Ferreira de teatro com Melhor Ator Revelação pelo seu personagem Marius, do aclamado musical Les Misérables. Quem já viu o menino nos palcos sabe que não é pra menos!
Na história, Marius é um estudante aristocrata dividido entre o amor e a revolução. Ele é um dos personagens principais do espetáculo, baseado na obra de Victor Hugo, em cartaz, no Teatro Renault, em São Paulo, desde março.
Mesmo muito jovem, o ator apresenta um personagem maduro que flerta com a coragem e determinação que a guerra exige, e a doçura e ingenuidade que a paixão aflora, a atuação dele é afiada e bem sintonizada.
Ser um ídolo teen deve ser bem legal, mas imagina arrancar sorrisos e lágrimas – de jovens a velhinhos – por puro talento?
O Acesso Cultural também quis saber como é pra ele viver essa experiência. Confira abaixo a entrevista na íntegra!
Foto: Andy Santana
Acesso Cultural: Você acabou de ganhar o Prêmio Bibi Ferreira 2017 como Melhor Ator Revelação. Qual é a sensação deste reconhecimento?
Filipe Bragança: Eu me sinto muito bem, me sinto muito grato e surpreso também porque, por vários motivos, eu não pensei que eu fosse ganhar. Eu acho que eu sou o mais novo de todos os atores que estavam concorrendo na categoria. É o meu primeiro musical. Mas eu ganhei, e estou muito feliz pelo reconhecimento. Acho que o Prêmio, na verdade, é para fazer o ator se sentir bem depois de todo o trabalho duro que ele colocou naquilo.
AC: Como você vê a importância desse prêmio para a sua carreira?
FB: Para mim, o mais importante de ganhar um prêmio é que você tem que merecer ele depois [de ganhar] também. Não adianta você ter merecido antes de ganhar, aí você ganhou e já está satisfeito. Na verdade, o depois de ganhar o prêmio é o mais importante porque você tem que provar para si mesmo que você merecia. Então, eu acho que meu trabalho, de agora em diante, só tende a ficar mais aprofundado e melhor porque eu preciso provar para mim mesmo que eu mereci.
AC: No fim do ano você estreou “Eu Fico Loko”, baseado na vida do Christian Figueiredo, um filme mais família, mais teen. Agora você está aqui sendo aplaudido por jovens, adultos e idosos. Como você está se sentindo com essa mudança de público?
FB: Eu me sinto muito satisfeito porque, conforme eu fui crescendo, o público que eu estava atingindo também foi mudando de idade. Eu sabia que o “Les Mis” ia ter um público mais adulto, mas eu gosto muito disso. O fato de você atingir vários públicos mostra bastante como você faz o seu trabalho.
Foto: Divulgação
AC: Eu vi, em uma entrevista sua, que você só fazia aula de canto há dois meses quando decidiu tentar o papel do Marius, no “Les Mis”. Mas você já cantava, não é? Quando parou de ser só hobby?
FB: Sim, eu comecei realmente a fazer aula de canto para musical faltando dois meses para começarem as audições. Antes, eu fazia aulas com a Maria Diniz, que é uma professora muito boa de canto popular. Mas depois, eu passei para a Amélia Gumes que é um canto mais destinado para musical. E eu acho que a partir daí parou de ser hobby porque eu realmente estava querendo trabalhar com canto de alguma forma.
AC: Como foi o processo de conseguir o papel de Marius?
FB: O processo para conseguir o papel foi o que é feito em quase todos os musicais, que é o processo de audição em fases. E foi bem difícil para mim porque eu teria sido mandado embora na segunda fase, pelo fato de o diretor achar que minha voz não estava madura o suficiente. Mas eu pedi uma segunda chance para ele, para eu tentar amadurecer minha voz, e ele aceitou. E aí eu fui estudar, estudei muito, para poder chegar na hora e fazer melhor.
AC: O musical está fazendo sucesso e agradando todo mundo. Mas você acha que esse é um mercado tão aberto assim? Quer dizer, no interesse do público?
FB: Na verdade, esse espetáculo não foi feito para agradar todo mundo. Hoje em dia, eu acho que o público quer não pensar um pouco, quer entretenimento. Com “Les Mis”, não. Você vai ver uma história que quer te passar uma coisa. Ela é muito emotiva, muito profunda e que acontece lentamente. Ela não se preocupa em ser entretenimento. Mas isso agrada muitas pessoas que sabem apreciar esse trabalho. É um espetáculo que tem agradado muita gente, até mais do que eu esperava. Quanto aos musicais, eu acho que o mercado está aberto para divulgação e tal. É uma coisa que está crescendo!
Foto: Talita Alencar
AC: Você tem só 16 anos e está fazendo o papel de um jovem estudante, mas que é tradicionalmente de atores mais velhos. Isso foi uma tentativa da própria direção de trazer autenticidade para o papel ou esse mérito é seu?
FB: Na verdade, eu não sei (risos). Claro que eles tinham um perfil, uma média de idade que eles queriam. Mas acho que eles simplesmente procuraram algo no ator que pudesse dar um brilho para o personagem que ele fosse interpretar. E eu acho que o diretor conseguiu ver esse fator em mim.
AC: Você está fazendo o musical desde março. Não está cansado de fazer isso por tanto tempo?
FB: Eu estou menos cansado do que eu esperava que eu fosse estar agora… já estou fazendo [o espetáculo] desde março. Na verdade, é um processo que começou em março do ano passado (risos), em 2016. Então sim, tem um cansaço, por parte de todo mundo [o elenco]. Mas, mesmo assim, eu gosto tanto de fazer esse meu trabalho que o cansaço meio que fica de lado. Quando eu estou ali, eu descubro coisas novas a cada dia.
AC: Você acha que se descobriu mais versátil nesse desafio?
FB: Com certeza me descobri mais versátil por vários motivos. Eu acho que percebi que eu consigo, sim, cantar e atuar, que é uma coisa que eu não pensei que eu fosse conseguir, sabe?! Eu percebi que eu consigo trabalhar com pessoas diferentes. Eu percebo que em cena, por mais que eu faça sete vezes a mesma coisa na semana, eu consigo descobrir coisas. E é bom porque a cada trabalho que eu tenho feito faz eu me provar cada vez mais que eu sou versátil.
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AC: Você praticamente não tem final de semana por causa das apresentações. Isso te incomoda?
FB: O fato de não ter final de semana não me incomodaria tanto… mas, um problema, é que eu vejo que todo mundo, no domingo tá indo para casa tranquilo e tal porque, teoricamente, eles vão ter um final de semana [que é a folga na segunda e terça], mas eu sei que na segunda eu vou ter que ir para escola, e na terça, quarta, quinta, sexta. Mas eu tento descansar nos momentos que eu consigo. Minha única exigência é conseguir passar um tempo com os meus pais, ir para o cinema, poder ficar com a minha namorada… eu conseguindo aproveitar um tempo com as pessoas que eu amo, para mim já é mais do que suficiente.
AC: Você vem de uma família de artistas. Mas chega um momento na vida que a gente tem que decidir o que quer fazer de verdade. Você chegou nesse ponto ou está deixando rolar?
FB: Olha, eu quero ser ator desde os 5 anos. Eu sofri muita influência do meu pai e da minha mãe que são artistas. Eu aprendi dos filmes que eu assisti, e que me inspiram até hoje para fazer tudo que eu faço. É impressionante! Com 5 anos foi quando eu percebi que a arte e a atuação tinham uma importância tão grande, podiam mudar vidas, eu quis me tornar ator. Então, eu já cheguei no ponto que já sei o que quero fazer, e eu quero isso para minha vida, não tem nem o que discutir.
AC: Quais são os projetos futuros? Pode dar uma dica?
FB: Tem alguns projetos que talvez rolem, mas eu não posso dar dicas (risos).
AC: Quem é o Filipe? Adolescente, ator, namorado…? Algum desses títulos te definem?
FB: Na verdade, esses três títulos me definem bem. Eu sou ator, sou adolescente, sou namorado, filho, irmão, amigo, eu sou apaixonado… Eu fico muito feliz de poder falar que eu sou tudo isso, menos adolescente, porque adolescente é um pouco chato (risos), mas o resto eu tenho até orgulho. Tenho orgulho de quem eu sou, e eu acho que é bem importante que todo mundo tenha orgulho de quem é para conseguir se incentivar a ir em frente.
Foto: Talita Alencar