Resenha: Motorrad




Por Nicole Gomez

Sendo o único longa brasileiro presente no Festival de Toronto, Motorrad, com direção de Vicente Amorim e baseado em uma HQ de Danilo Bayruth, é sem dúvida uma produção com alto nível de sensibilidade, em um nível de deixar o espectador com as emoções afloradas em diversos sentidos e momentos. Isso já é perceptível nos primeiros minutos, em uma cena praticamente silenciosa entre Hugo (Guilherme Prates) e uma jovem misteriosa, vivida por Carla Salle, que o flagra entrando sorrateiramente em um ferro velho em busca de um carburador para sua moto, com o objetivo de acompanhar seu irmão Ricardo (Emilio Dantas). A sequência dispensa falas e muita explicação, pois cada movimento e som natural emitido durante o ato, dá conta de preencher possíveis lacunas que possam ficar.

Foto: Divulgação

Devidamente equipado, Hugo vai juntamente com seu irmão e um grupo de amigos apaixonados por motocicletas através de uma trilha até então desconhecida e misteriosa, onde se deparam com um muro recém-fechado. Todos assumem o risco de avançar através dele, descobrindo que trata-se de rochas que podem ser retiradas do caminho. O grupo abre um espaço para que as motos possam passar e seguem adiante. O que eles não esperam é encontrar novamente a jovem misteriosa do início da história, que os acompanha por um caminho que ela diz conhecer. Desconfiados, eles a seguem. A partir daí, começam a ser perseguidos por um grupo de motociclistas estranhos, todos de capacete, de forma que o espectador jamais consegue enxergar a face deles, assim como os personagens da história. 

Diferentemente dos clássicos de terror, Motorrad é composto por cores mais frias, em tons acinzentados, fugindo totalmente do clichê imposto nesses casos. Além da cena inicial, ao longo do filme, momentos intensos de silêncio se fazem presentes, prevalecendo mais uma percepção maior do que cada um dos personagens está sentindo em cada acontecimento.

Foto: Divulgação

Com atuação impecável por parte dos atores, é um longa que vale a pena ser conferido até pelas pessoas que estão menos acostumadas a este tipo de estética mais intensa e até violenta, por vezes, pois mostra todo o desenrolar de uma história e não simplesmente a violência e o sangue apenas, sem explicação. No fim das contas, o que surpreende é a relação entre os irmãos, que inicialmente não parecem se dar tão bem assim. Em perigo, ambos se unem e mostram um afeto que até então não estava explícito, embora Ricardo sempre esteja do lado do irmão Hugo, cuidando da maneira dele mais dura de ser. 

Chamam a atenção a atuação de Juliana Lohman, na pele de Bia, principalmente em seus momentos finais, quando o grupo de vilões a captura e a executa. A frieza da garota misteriosa, interpretada por Carla Salle também acaba intrigando o espectador, em alguns momentos deixando a dúvida sobre em qual lado ela realmente está. Motorrad chega aos cinemas no dia 1 de março. Aperte o play e confira o trailer.

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