Resenha: Submerso, de Eduardo Cilto




De forma leve, o autor de “Traços”, submerge o leitor na história e sentimentos de Dimitri, um adolescente de conflitos profundos.

Por Walace Toledo

Foto: Reprodução / @planetadelivrosbrasil

SINOPSE
Aos dezessete anos, Dimitri não é mais capaz de enxergar a si mesmo quando encara o próprio reflexo no espelho. Dividindo seu tempo entre o colégio e um emprego na última locadora de filmes da cidade, ele vê sua realidade colidir quando um simples encontro com os amigos acaba sendo gatilho para uma de suas maiores crises. Lutando contra a nova vida e consigo mesmo, Dimitri é obrigado a passar o resto do ano em um acampamento para jovens desajustados que promete colocá-lo de volta aos eixos. Porém, um lugar que abriga tantos desajustados pode não ser tão perfeito quanto todos pensam, o que antes parecia ser a solução dos problemas, acaba se tornando apenas o começo de um dos maiores deles.

Foto: Reprodução / @eduardocilto

Dimitri é um adolescente paulistano comum, estuda, trabalha e sai com os amigos. Entretanto, a morte da sua mãe desencadeia conflitos internos que o deixam em estado depressivo. O leitor dá à mão ao jovem a partir do momento que ele retoma à vida social, após ficar internado por tentativa de suicídio. 

Em tempos da série viral “13 Reasons Why”, o pertinente tema é mais uma vez abordado na ficção juvenil. O fato aqui é tratado bem sutilmente. Até o meio do livro, o autor oferece ao leitor cenários e diálogos para suas próprias conclusões sobre as angústias e situações enfretadas pelo protagonista até então.

De volta à vida cotidiana, é a hora de reencontrar os amigos Clarissa e Bernardo. A saída para beber e aproveitar a noite não acaba nada bem. Gatilho acionado, Dimitri perturbado. 

Em seguida presenciamos o forte laço entre pai e filho. Há poucos momentos entre os dois, quando acontecem, são de cumplicidade. Antes, o leitor poderia achar que não havia amor neste lar, felizmente a realidade é o contrário.

A solução encontrada pelo pai e avô – alerta relação conflituosa familiar patriarcal – de Dimitri é mandar o garoto para o ‘Acampamento Misfit’, local para jovens com a saúde mental abalada relaxar, estudar e praticar múltiplas atividades.

Foto: Reprodução / @eduardocilto

Vendo que é o melhor para todos, um tanto curioso, Dimitri decide seguir para o lugar. Em pouco tempo ele se aproxima de duas pessoas, Alma, a amável filha dos responsáveis pela instituição e Henrique, o atlético e simpático companheiro de quarto… e futuro motivo das ‘borboletas no estômago’ de Dimitri.

Enquanto nosso querido personagem trilha o caminho do autoconhecimento e aprende a lidar com novas pessoas e rotina, Cilto adiciona elementos de aventura e mistério à trama. Vale lembrar que o humor permeia os diálogos, não é tudo tão sério quanto parece. Esses toques de adrenalina, suspense e humor lembram muito as histórias dos volumes da ‘coleção Vaga-Lume’. Quem foi criança nos anos 90 vai lembrar bem desta referência, a coleção era a queridinha dos professores e alunos para trabalhos escolares – ‘Millenials’ joguem no Google (rs).

Vejo “Submerso” nessa vibe, é uma história para jovens dos dias de hoje, entretém e propõe temas como transtornos mentais, drogas e representatividade LGBT de um jeito maduro e leve, sem banalizar. Se você é professor e está lendo essa resenha, pense em levar – de de forma literária – esses assuntos que deveriam ser mais discutidos na sala de aula. 

Foto: Reprodução / @eduardocilto

Eduardo sabe como cativar o leitor, estou até agora apegado e com vontade de dar um abraço no trio Dimi, Alma e Henri e ser amigo  deles. Bernardo e Clarissa não me chamaram a atenção, confesso. Porém, são ganchos importantes da trama. Senti falta de saber mais sobre outros personagens do acampamento, mas como Dimitri disse “deve ser falta de ética perguntar porque eles estão aqui”. 

Mesmo sendo um leitor de 34 anos, lendo a história de um garoto de 17, a identificação se mostra presente de duas formas. Personagens reais, com problemas reais, sem questões de idade. Atual e saudoso ao mesmo tempo, Cilto é aquele cara novo de alma antiga. Percebe-se pela trilha sonora, de Lana Del Rey à Elvis Presley, a escolha pelo mundo analógico ao inserir locadora (lugar onde alugava-se filmes em VHS), Walkman (tocador de fitas K-7) e clássicos cinematográficos como “Laranja Mecânica” (1972), de Stanley Kubrick, ao texto. Referências que aproximam leitores de faixas etárias distintas.

“É no caos que minha mente se esvazia e meus pensamentos se encontram”

É nos agradecimentos que vemos quão sensível e pessoal é a obra para o escritor. “Foi como escrever uma versão nova do que vivi em um universo paralelo ficcional”, relata Cilto. (Abraço forte)

“Submerso” é para ler na sombra de uma árvore em algum parque e sentir-se à beira do lago do Acampamento Misfit. Haverá certa turbulência, por isso agarre-se sempre ao azul da calmaria. É de leitura rápida e de mensagem que fica, se a sua sensibilidade e coração permitir. <3


“Submerso” é o segundo livro de Eduardo Cilto publicado pela editora Planeta. Adquira seu exemplar nas livrarias físicas e virtuais. Boa leitura!

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39 respostas para “Resenha: Submerso, de Eduardo Cilto”

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