O Cego e o Louco: Lunática Companhia de Teatro encena pela primeira vez um texto brasileiro




No espetáculo, a chegada de uma vizinha interfere no delicado equilíbrio entre dois irmãos que dividem o mesmo apartamento

Por Andréia Bueno
Quarto espetáculo da Lunática Companhia de Teatro, a comédia dramática “O Cego e o Louco” representa a primeira incursão do grupo por um texto brasileiro. Na bagagem, os elogiados “O princípio de Arquimedes” (2017), “Esse vazio” (2016) e “Matador” (2012), o primeiro, escrito originalmente em catalão e os outros dois em espanhol. A despeito da mudança da língua-mãe, há um fio de interesse que amarra todos os trabalhos: a presença de autores contemporâneos perspicazes no exercício de refletir as questões do mundo onde vivemos. Exemplar dessa busca, o espetáculo está em cartaz na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, com sessões de sexta-feira a domingo, às 18h. Fica em cartaz até o dia 27 de janeiro.
Foto: Zero8onze Photo Cine (Aguinaldo Flor / Fernando Cunha Jr. )
Parceria entre a Territórios Produções e a Cineteatro Produções, “O Cego e o Louco” acolhe a dramaturgia da escritora Claudia Barral, nascida na Bahia e radicada em São Paulo. Embora tenha sido criado em 2000, o texto permanece inédito no Rio e se destaca pela construção precisa dos personagens, dois irmãos que moram juntos e dividem há anos o mesmo cotidiano solitário.
Nestor é um pintor cego de personalidade forte. Apesar da deficiência, ele é um homem vigoroso e domina o frágil e taciturno Lázaro, o caçula. Entre eles se estabelece uma dinâmica eventualmente perversa, em que o cuidado fraterno cede lugar ao rancor desenfreado. A relação é testada com a possibilidade da chegada de uma vizinha, a quem convidam para tomar chá. A montagem se concentra nessa noite de espera, quando os traumas do passado vêm à tona, embalados por delírios, sonhos e culpas.
“Apesar de ter apenas 16 páginas, a peça é extremamente rica e aborda a fronteira entre a loucura e a arte, uma questão que me instiga há muito tempo”, reforça o ator e produtor Daniel Dias da Silva, que interpreta Lázaro. Ele recorda que o tema já estava presente no diálogo travado entre touro e toureiro em “Matador”, primeira montagem da Lunática. A pergunta implícita lá – qual o limite da arte? – ganha ressonância agora, a partir de um recorte simples, sustentado na conversa de duas almas doídas.
O ator Alexandre Lino interpreta Nestor, trazendo com isso uma experiência de cena que remonta a outros trabalhos no teatro. Lino já viveu um deficiente visual em outro espetáculo (“Asilo Paraíso”) e, recentemente, dirigiu o elogiado “Volúpia da cegueira”, que contava com atores cegos no elenco.
Foto: Zero8onze Photo Cine (Aguinaldo Flor / Fernando Cunha Jr. )
Mantendo a troca criativa e a fluidez que marca o trabalho do Lunática, “O Cego e o Louco” é dirigido por Gustavo Wabner, que acaba de dirigir em São Paulo o elogiado “Navalha na Carne”, uma homenagem de Luisa Thiré para a avó Tonia Carrero. A peça tem previsão de estrear no Rio em 2019. Gustavo também integrou o elenco de “O princípio de Arquimedes”, este realizado sob a direção de Daniel.
Serviço
“O Cego e o Louco”
Datas: 04 a 27 de janeiro de 2019
Horário: Sexta a domingo, às 18h
Local: Sala Multiuso do Sesc Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia), R$ 30 (inteira)
Informações: (21) 2547-0156
Bilheteria – Horário de funcionamento:
Segundas – de 9h às 16h;
Terça a Sexta – de 9h às 21h;
Sábados – de 13h às 21h;
Domingos – de 13h às 20h.
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60min
Lotação: 50 lugares
Gênero: Comédia Dramática

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