Eduardo Kobra destaca a importância dos livros em novo mural
O conhecido artista urbano Eduardo Kobra finalizou na última sexta-feira, (22), um mural de 22 metros de altura por 11 de largura, na cidade de Sorocaba (empena do Colégio Ser! – à rua Doutor José Aleixo Irmão, 301, no Alto da Boa Vista) , interior de São Paulo. O mural mostra um menino subindo uma estante em uma biblioteca à procura de um livro.
O artista, que não tem formação acadêmica, é autodidata. “Pesquiso muito as biografias dos ‘personagens’ que destaco em minhas obras e, também, sobre as cidades que visito: busco imagens, fotografias e textos. Por isso, tenho procurado trazer em meus murais a importância dos livros para a cultura do País e para a formação e crescimento das pessoas”, diz o artista urbano, que tem murais em 35 países e já fez 13 obras com temas ligados à literatura e livros em geral.
Antes de iniciar o mural, Kobra utilizou as redes sociais e pediu para que as pessoas sugerissem livros. “De acordo com a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil”, o País perdeu 4,6 milhões de leitores nos últimos quatro anos. Isso não é nada bom: já somos um povo que lê pouco e os números indicam que esse hábito está diminuindo. Atualmente, apenas 52% da população brasileira têm o costume de ler. Estou preparando um painel para destacar a importância dos livros, das obras da literatura brasileira. Quero sua ajuda para saber quais livros devo destacar. Comente aqui: qual seu livro brasileiro favorito? Qual obra mais marcou sua infância? Vamos fazer esse mural juntos?”, escreveu o artista no Instagram.
Kobra recebeu cerca 4.000 mil sugestões de títulos nacionais. Os 150 livros mais indicados serão colocados no mural. Com 22 metros de altura por 11 de largura, o mural, que pode ser visto também, inteiro, por quem está fora da escola, na rua, mostra um menino subindo uma estante em uma biblioteca à procura de um livro. Para o mural, Kobra, que pintou acompanhado por dois artistas de sua equipe, Agnaldo Brito e Marcos Rafael, utilizou 350 latas de spray e 20 galões de esmalte.
É o 13º trabalho do conhecido artista urbano Kobra com temáticas ligadas à literatura e livros em geral (veja a relação abaixo). “Não tive uma educação acadêmica, mas sou autodidata e os livros me ajudaram desde sempre”.
Esse mural é o primeiro de Kobra em 2021. No final do ano passado, pintou na altura do km 44 da rodovia Presidente Castelo Branco o mural “A Linha da Vida”, com 600 metros quadrados. A obra traz oito personagens. Começa com uma criança e termina com uma senhora de cerca de 80 anos de idade.
Também em dezembro, Kobra fez em Coxim, na região norte do Mato Grosso do Sul um novo projeto, ainda sem nome definido, de resgate, manutenção e valorização das culturas regionais. Ele fez o mural do compositor Zacarias Mourão, de 6 metros por 19,60 metros, na praça “Zacarias Mourão”. O mural virou atração da cidade. De acordo com o artista, o mural sobre Zacarias Mourão dá início a um antigo sonho de realizar um projeto de valorização das culturas regionais.
“Dizia o escritor russo Leon Tolstói (Lev Tolstoi) que ‘universal é o homem que escreve sobre a própria aldeia’”. Por isso, ao mesmo tempo em que faço murais para destacar grandes nomes que contribuíram para a história do País, como o arquiteto Oscar Niemeyer e os compositores Chico Buarque e Adoniran Barbosa; e nomes que contribuíram para a paz, liberdade, arte e humanismo no mundo, como Nelson Mandela, Martin Luther King, Malala Yousafzai, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e John Lennon, sempre quis criar um projeto que falasse sobre nomes que contribuíram para a cultura das próprias regiões”, conta o artista urbano, que complementa: “além disso, já pintei em cinco continentes mas não conheço a maioria dos estados do meu próprio país. Será uma grande realização conseguir pintar em cada estado do Brasil”, diz Kobra, que já fez obras em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.
Veja a seguir os murais de Kobra que são relacionados com a literatura
O Menino no Biblioteca – obra em 3D, no Sarassota Chalk Festival, Estados Unidos, considerado o maior evento de pintura em 3D do mundo. No desenho, um menino lê dentro de uma biblioteca, cercado de livros. Realizado em 2011.
Mário Lago – o grafite foi realizado no muro da sede da Associação dos Amigos da Praça Benedito Calixto, em São Paulo. O ator, compositor, escritor, poeta, boêmio e ativista político Mário Lago morou na Praça Benedito Calixto, na capital paulista, no final da década de 1940. – Mural feito em 2013.
Chico e Ariano – mural de cores fortes e vibrantes, traz o compositor, cantor e escritor Chico Buarque de Holanda e o dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna (1927 – 2014), em um painel de 11 metros de altura por 17 de largura, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, capital – Feito em 2014.
Alfred Nobel – embora Alfred Nobel tenha sido químico, sempre lembraremos dele ao sabermos anualmente sobre quem é o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Com 16 metros de altura por 10 de comprimento, o mural está na cidade de Boras, na Suécia, conhecida por como a “Cidade Campeã Mundial em Limpeza Urbana”, por reaproveitar 99% dos seus resíduos. No mural também é destacada a medalha do Prêmio Nobel, já que a premiação incentiva diversas áreas da arte e do conhecimento. Realizado em 2014.
Paz (Malala Yousafzai) – em Roma, Itália, Kobra homenageou a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, conhecida por sua luta em prol dos direitos das mulheres, especialmente em regiões comandadas por grupos como o Talibã, que impede jovens garotas de irem à escola. A ativista escreveu, em parceria com Christina Lamb, o livro “Eu Sou Malala”, que traz a impressionante trajetória de sua luta, que prosseguiu mesmo ter sido atacada e gravemente ferida pelo Talibã.
Hamlet – “Ser ou não ser?”. Na fachada do teatro Palm Beach Dramaworks, na cidade de Palm Beach, Flórida, Kobra registrou sua versão da cena mais famosa de Hamlet, tragédia de Shakespeare. Enquanto o braço de Hamlet aparece em preto e branco, o crânio de Yorick, o bobo da corte, ganha vida com uma miríade de cores, de tal forma que parece olhar para a fachada do teatro como se estivesse se preparando para assistir à próxima peça. Mural de 2015.
O Condicionado – uma história de superação – em um mural de 15 metros de comprimento por três metros de altura, Kobra homenageou o icônico morador da cidade de São Paulo, Raimundo Arruda Sobrinho, que viveu durante 33 anos como um sem-teto, nas ruas de São Paulo, sempre na rua Pedroso de Morais, e sempre escrevendo poemas e outros textos. No mural, Kobra destaca um dos versos escritos por Raimundo Arruda Sobrinho: “Desgraçado é o Homem que se Abandona.” A intervenção foi a última da série de dez trabalhos do projeto “São Paulo: uma Realidade Adiantada. Mural de 2015
The Times They Are a-Changin (Bob Dylan) – em Minneapolis, Minnesota, EUA, a obra tem 50 metros de largura por 28 metros de altura, em um prédio no centro da cidade. O mural mostra três diferentes fases da trajetória de Bob Dylan, inspirados pelo título de uma de suas mais importantes canções, ‘The Times They Are a-Changin’. Bob Dylan já morou em Minneapolis, maior cidade de Minnesota, e foi criado em outra cidade do mesmo estado dos EUA, Hibbing. O trabalho foi realizado em 2015. (Embora Dylan seja pouco conhecido como escritor, foi agraciado em 2016 com o Prêmio Nobel de Literatura, devido ao valor literário de suas composições.)
Dante Alighieri – em um pequeno prédio na região central de Ravenna (cidade em que o escritor faleceu), na Itália, Kobra pintou um mural de quatro metros quadrados sobre Dante Alighieri. O artista urbano brasileiro utilizou como inspiração a imagem de uma gravura de 35X50 cm que foi produzida para uma exposição sobre o escritor italiano na Casa Oriani. Realizado em 2016
“Let me be myself” (Anne Frank) – um dos murais mais famosos do artista no mundo. Anne Frank, jovem alemã e judia que morreu em um campo de concentração aos 15 anos, e deixou para o mundo seu impressionante diário, foi mais uma vez eternizada no imenso mural de 240 m² e na região norte de Amsterdã. “Sempre quis fazer um mural sobre Anne Frank. A sua triste história leva a uma profunda reflexão, já que a intolerância ainda persiste no mundo. Ao mesmo tempo, Anne inspira muitos jovens do mundo inteiro pela sua coragem e sabedoria. Apesar de tudo, ela nunca perdeu sua fé na humanidade e se manteve viva através da arte para transmitir sua história e legado”, explicou na época o artista. Mural feito em 2016.
Tesouros de São Luís – O mural, com 33 metros de comprimento por 10,3 metros de altura, foi um dos mais difíceis da longa trajetória do artista. Antes de ir a São Luís, no Maranhão, Kobra mergulhou durante semanas na rica cultura do estado, fez dez projetos e ficou entre duas opções. Mas ao chegar à cidade e visitar seus museus e o Centro Histórico, resolveu mudar tudo que tinha planejado e transformou o muro em uma prateleira de livros, onde destacou Ferreira Gullar, Graça Aranha, Nauro Machado, Aluísio Azevedo, Bandeira Tribuzi, Josué Montello e Gonçalves Dias, além de um brincante de boi – como reverência à cultura e folclore tão marcante nos cantadores de toadas – e os azulejos presentes na arquitetura do Centro Histórico de São Luís. Obra realizada em 2017.
Mario Quintana – primeiro e até agora único mural de Eduardo Kobra em Porto Alegre. A obra, que destaca o poeta gaúcho Mário Quintana, ocupa a fachada de um dos prédios do Colégio Farroupilha, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. Junto ao rosto do escritor, a pintura de um pássaro faz referência ao clássico “Poeminho do Contra” (“Eles Passarão Eu Passarinho…”). O mural foi realizado em uma área de 14 x 14 metros, em 2019.
Olhares da Educação, na fachada da Universidade do Vale do Taquari (Univates), em Lajeado, Rio Grande de Sul, mostra nomes importantes da literatura e educação do País: Clarice Lispector, Paulo Freire e Darcy Ribeiro, com 14 metros de altura por 26 de comprimento. Feito em 2020.
A Arte de Conservar
Também em dezembro de 2020, Kobra entregou em São Paulo a revitalização de seu mural “A Lenda do Brasil”, de 41 metros por 17,5 metros, feito em homenagem ao piloto Ayrton Senna, na empena de um prédio na rua da Consolação, 2608 (esquina com a av. Paulista, em frente à Praça José Molina), em São Paulo. O trabalho foi iniciado há 15 dias e inaugurou o projeto “A Arte de Conservar”. De acordo com o artista, as próximas obras a serem restauradas são “Oscar Niemeyer”, na região da av. Paulista, também em São Paulo, e “Etnias – Todos Somos Um”, no Boulevard Olímpico, no Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
O mural “A Lenda do Brasil”, que mostra o piloto de capacete e olhar expressivo, é uma das principais obras de Kobra, que tem Senna como uma de suas grandes referências. “Embora eu não seja ligado aos esportes, Senna sempre foi um dos meus maiores ídolos e uma inspiração para mim, com seu exemplo de determinação e superação. Além disso, transformou o ato de dirigir carros de corrida em, além de um esporte, uma verdadeira arte, que encantava e inspirava a todos”, afirma Kobra, que já pintou 12 murais, além de uma tela, sobre o tricampeão mundial de F-1 (nascido em 21 de março de 1960, em São Paulo). Em setembro de 2019, Kobra realizou um mural. no autódromo de Ímola, Itália, onde o piloto morreu ao bater sua Williams nos muros da curva Tamburello, no GP de San Marino no dia 1º. de maio de 1994. Em março deste ano, inaugurou o mural “Superação” no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
“A Mão de Deus”
O artista urbano entregou no dia 15 de novembro do ano passado seu primeiro mural, “A Mão de Deus”, na região do Minhocão, em São Paulo. O trabalho tem 33 metros de altura por sete metros de largura, na empena de um prédio situado à rua Traipu, nº. 50. De acordo com o artista, é a mais autobiográfica de todas as suas obras. “O mural é inspirado em um momento muito difícil para mim, que começou a ser superado quando senti a mão de Deus. Foi algo que me ajudou e que me ampara até hoje”, diz.
Kobra afirma que o mural, é particular, mas também universal. “Serve para todas as pessoas, de qualquer fé, que passam por dificuldades como depressão, solidão, dificuldades econômicas, bebidas e drogas”. E complementa: “espero que nesses tempos de pandemia e mesmo depois que tudo isso terminar, o mural também inspire as pessoas a resgatarem a bondade e serem mais acolhedoras e solidárias uma com as outras”.