Grupo Folias estreia 7PISOS – uma peça para personagens ausentes


Créditos: Cacá Bernardes


7PISOS, peça livremente inspirada no conto de Dino Buzatti, com dramaturgia de Paloma Franca Amorim e direção de Dagoberto Feliz, caracteriza-se como um retorno político ao fazer teatral presencial após longa temporada pandêmica, ainda não encerrada, que foi capaz de pôr em xeque um dos princípios básicos das artes cênicas: o tradicional encontro entre público e intérpretes, espectadores e ficção.

Como um trabalho que dialoga com tempos atravessados materialmente pela História e pelas poéticas públicas que têm sido manejadas a fim de produzir a democratização do fazer teatral, 7PISOS desvela o percurso de Giuseppe Corte, um escritor negro que acabou de se internar voluntariamente em um hospital cujo estranho protocolo de tratamento diz respeito ao funcionamento de sete andares que separam os pacientes mais graves dos mais saudáveis. Desse contexto surge um infindável conjunto de ações ambivalentes que oscilam entre a violência e a naturalização da violência contra os ditos corpos socialmente desviantes, fazendo deles plataformas vivas para o exercício do poder.

“Nosso corpo-ideia, Giuseppe Corte, é um escritor negro solitário, um ator negro, um negro ator (que poderia ser muitos mas é um só), nesse teatro paulistano onde as vozes negras ou não-brancas, migrantes, dissonantes, foram historicamente aplacadas por um senso de homogeneidade abstrata em que a brancura e o elitismo de seus agentes eram protegidos e quase invisibilizados pelo discurso falseado de que os palcos ocidentais são o seio da democracia”, diz Paloma Franca Amorim.

Créditos: Cacá Bernardes

Giuseppe Corte é esse corte na lógica racista dos teatros paulistanos, e irmana-se a tantas outras personagens que atualmente povoam os terrenos sagrados da cena e das coletividades. São Joanas, Antígonas, Neusas Suelis, Vadinhos, Jasões, Hamlets, Medusas, Zambis, Ofélias, Aqualtunes, são alegorias, coralidades, gestos simbólicos ou metafísicos, personas, todas enegrecidas, todas imersas em sua negrura incandescente, e bonita, e tecnicamente excelente, e dialética, como estratégia de resistência formal aos apagamentos sistemáticos responsáveis pelo halo eurocêntrico que perversamente caracterizou uma parte importante da cena teatral da cidade de São Paulo.

Giuseppe Corte, paciente doente ou são, é reflexo de um incômodo institucional e humano propagado secularmente. Só é possível falar de sua sobrevida a partir do fim, da morte e portanto da trajetória invertida na qual a tragédia do colonialismo torna-se ponto de partida do processo doloroso e necessário para o aprofundamento de uma poética anti-racista.

Serviço
de 18/02 até 04/04
sexta à segunda, 20h
Local: Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213 – ao lado do metrô Santa Cecília
Ingressos: R$ 30 (Inteira), R$ 15 (Meia), R$ 10 (Sócio Morador)
Link: www.galpaodofolias.com
14 anos
70 minutos

Rodrigo Bueno

Formado em Marketing pela Universidade Anhembi Morumbi, também é Fotógrafo Cultural pela Escola de Fotografia Foto Conceito, já cobriu cerca de 5 mil shows nacionais e internacionais, além de eventos exclusivos como coletivas de imprensa e pré-estreias. Também é Analista de Marketing Digital, Executivo de Negócios, Jornalista, Web Design, Criador e editor de conteúdo de redes sociais.

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