Luke Cage – primeira temporada: um herói do mundo real




Por Joana Darc Leal

Se há algo que ninguém pode negar é que a Netflix está acertando, e muito, nas adaptações dos HQs da Marvel para o mundo das séries. Jessica Jones e Demolidor, dupla responsável pela estreia das produções, deram um show que poucos aguardavam. Agora, quando novamente pouco se esperava no quesito surpresa, a primeira temporada de Luke Cage estreia e deixa a todos de boca aberta.

Foto: Divulgação

Cage é um personagem que ganhou vida pela primeira vez nos quadrinhos da Marvel Comics, na década de 70. A sequência alcançou relativo sucesso até meados dos anos 80, quando foi cancelada e o super-heroi (termo mais tarde discutido) começou a aparecer como coadjuvante em HQs de outros personagens da editora.

A história, que estreou na última sexta-feira, se passa alguns meses após o encontro de Luke com Jessica Jones. O ambiente também muda de Hell’s Kitchen para o Harlem, bairro nova-iorquino conhecido por ser um centro cultural e econômico da comunidade negra. O cenário não é escolhido ao acaso, o enredo dialoga profundamente com as questões sociais enfrentadas pela população negra – racismo e violência policial serão apenas algumas delas. O fator humano e a proximidade com a realidade – bem maior, inclusive, do que nas produções anteriores – prendem o público e são, certamente, o ponto alto da narrativa.

Ao contrário da história original dos HQs, Luke Cage não cresceu nas ruas do Harlem, é de Chicago e foi apresentado ao bairro pela ex-namorada Reva Connors – todos que assistiram Jessica Jones sabem o que acontece com ela. Ele chega ao bairro procurando descanso e discrição, após o período turbulento que viveu ao lado de Jessica. Para entender como surgiram suas habilidades, no entanto, precisamos voltar um pouco no tempo: Luke conhece Jessica em Hell’s Kitchen, onde tinha um bar, mas antes disso esteve uma longa temporada preso em Seagate, onde foi vítima de uma experiência científica que lhe conferiu superforça e pele invulnerável.

Apesar de tentar ficar longe de confusões, Luke logo dá de cara com alguns vilões, afinal, não teríamos uma história se isso não acontecesse. Assim como o cenário e a narrativa, eles se aproximam muito do mundo real. São pessoas sem nenhum poder especial além do dinheiro, que compra as pessoas e permite a criação de um sistema de corrupção. O primeiro deles é Boca de Algodão, interpretado por Mahershala Ali, um cruel traficante que, quando jovem, sonhava em se tornar pianista. Acompanhando-o teremos sua prima Mariah Dillard (Alfre Woodard) uma vereadora corrupta que faz discursos em prol do crescimento do Harlem, mas desvia verba pública e faz diversas negociações ilícitas – é uma personagem que merece atenção pela forma como cresce na história e ganha destaque.

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O conflito principal fica por conta de Kid Cascavel, meio irmão de Luke que guarda uma série de ressentimentos do passado. Com personalidade instável e aparentemente insensível à dor alheia, ele é um dos criminosos mais temidos de New York. Ainda que não tenha nenhum poder, no decorrer da trama ele contará com alguns apetrechos especiais que lhe ajudarão a lutar com seu irmão. O último personagem do lado mau que merece menção é Shades (Theo Rossi) um antigo conhecido de Luke da época de Seagate, ele, como Mariah, ganha contornos no decorrer da série.

O time de vilões é grande, mas Luke, apesar de todo o protagonismo, não está sozinho na guerra. Sua primeira aliada é a policial Misty Knight (Simone Missick), ela cresceu nas ruas do Harlem, conhece o local como ninguém, e está obstinada a combater o crime. Outra parceira será a enfermeira Claire Temple (Rosario Dawson), uma velha conhecida de quem assistiu Demolidor e Jessica Jones, aqui ela ganha mais protagonismo e seus contornos começam a ser esmiuçados.

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Na história, os vilões farão Luke parecer culpado de múltiplos crimes, mas aos poucos a verdade entra em cena e ele se torna o herói que o Harlem tanto precisava – ainda que recuse esse título. Luke Cage é, antes de qualquer nomenclatura ou habilidade, um homem negro em um bairro historicamente reconhecido pela luta contra o racismo. É um símbolo de que é possível, sim, ir contra um sistema opressor.

O passado de Cage aparece, aos poucos, em flashbacks e nos ajuda a amarrar a narrativa, mas há muita coisa que permanece no ar. O último episódio, por sua vez, não pode ser encarado como um desfecho, pois ficamos com uma abertura enorme para uma próxima temporada, pela qual sabe-se que a Netflix nos fará esperar bastante.

Foto: Divulgação

Vale dizer que, apesar de todas as referências, assistir JJ e Demolidor não é necessário para compreender Luke Cage, mas pode tornar a experiência bem mais divertida.

Por fim, a série do roteirista Cheo Hodari Coker nos mostra o quão bem a ficção pode representar a realidade e como alguns heróis são mais humanos do que imaginamos. As adaptações da Netflix fogem de clichês outrora encenados e transportam para o nosso mundo alguns dos heróis mais interessantes já criados. 

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