True Gen, a geração da verdade
“Esforce-se por amar as suas próprias dúvidas, como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em idioma estrangeiro. Não procure, por ora, respostas que não lhe podem ser dadas, porque não saberia ainda colocá-las em prática e vivê-las. E trata-se, precisamente, de viver tudo. No momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, somente vivendo-as, acabe um dia por penetrar, sem perceber, nas respostas.”
A frase é de Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta,na tradução de Fernando Jorge, emedição publicada no Brasil pela Hemus Livraria e Editora, em 1967. Indeciso entre a carreira miliar e a literária, o jovem Franz Xaver Kappus trocou 10 cartas com o escritor tcheco, entre 1903 e 1908. Com a morte de Rilke, as correspondências foram compiladas neste livro que, na minha opinião, é imperdível! Eis que me lembrei dos belos conselhos de Rilke ao jovem, quando li uma pesquisa da Box1824 sobre os “novos” jovens.
Os nativos da primeira geração a crescer em um mundo dominado pela internet, a Geração Z – também conhecida como True Gen, geração da verdade – têm, hoje, entre oito e 23 anos. Fluentes em tecnologia são comunaholics, ou seja, transitam em muitas comunidades e têm especial interesse em se conectarem com pessoas que compartilham as mesmas causas. O estudo aponta que a chave para entender essa geração é o não binarismo. Dialogam, entendem e agregam. Enxergam os outros como iguais. Uma baita notícia boa, mulheres!!
Na prática, sabem que integram uma sociedade hipervigiada e abraçam o desafio de criar espaços, dentro da própria rede, para relações mais verdadeiras. Ao contrário dos Millennialssão mais realistas e empáticos com opiniões diferentes das suas. Um aspecto que me chamou atenção é a busca pela própria identidade (adeus, tribos!!), as relações com diálogos francos e novas formas de consumir. Eles mantêm a individualidade e conciliam aspectos que podem soar estranhos a outras gerações: religião e homossexualidade, por exemplo. Ambas combinam desde que esse indivíduo acredite que os dois correspondem ao que acreditam.
Valorizam a estabilidade e a carreira – o que não significa que estão dispostos a seguir padrões. A ideia aqui é ser pragmático dentro de interesses e parâmetros próprios. Estão em busca de personalização de produtos e serviços. Adeus modinhas e padronização! Estamos diante de uma geração que não comporta estereótipos e que tem uma relação mais saudável com o consumo. A ideia de ligar bem material ao consumo, simplesmente não faz sentido. Carro ou roupa parada no guarda-roupa?! Nem pensar. Veículo só se for para ganhar dinheiro extra com aplicativos de carona; roupa sem usar vira brechó online.
Confesso que a descrição dessa True Gen me encantou, embora não tenha encontrado informações sobre como lidam com a leitura; com o acesso à tanta informação; e como esse arsenal de estímulos pode ser usado como instrumento de bem-estar individual e social. Vejo, com otimismo, esse interesse em enxergar as necessidades e peculiaridades do outro; esse desinteresse em julgar as pessoas ou rotular. Espero – assim como Rilke deve ter esperado do seu jovem poeta – que esses jovens se unam a gerações anteriores e posteriores (a geração Alpha, cuja palavra-chave é reconstrução) para juntos darem novas respostas para antigos questionamentos. Que a igualdade de gênero seja uma realidade.
Ainda em Cartas a um Jovem Poeta, Rilke sibilou: “Essas palavras ‘moça’, ‘mulher’, não significarão apenas o contrário de homem, mas qualquer coisa de individual, valendo por si mesmo; não apenas um complemento, mas um modo completo da vida: a mulher na sua autêntica humanidade.”
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