FILE: Transcender o universo artístico e midiático




Por colaboradora Monise Rigamonti

Com o título “Borbulhar dos Universos”, o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, organizado por Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, este ano chega em sua 18.a edição, em exibição no Centro Cultural Fiesp (Galeria de Arte do SESI) até o dia 3 de setembro.

Lawrence Malstaf – Overview | Foto: Divulgação

Ao visitarmos a galeria, a principal sugestão é: estar aberto a uma imersão para um outro universo de percepção artística e tecnológica. Expanda seus cincos sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato. Quebre seus preconceitos, e abra a sua mente, só assim poderá entrar em contato com essência da mostra.

Em devaneios, despido de si, e permitindo que a áurea da obra de arte entre nesse jogo: escute sons com batidas eletrônicas repercutindo por toda a exposição que ecoaram em sua mente por alguns dias. Abra os olhos e se depare com luzes rosas, em um outro momento sinta o planeta Terra girando na sua frente. Coloque óculos 3D e embarque em outras realidades como uma cidade construída por imagens extraídas de mídias sociais. Embarque na grande aventura que é decifrar o enigma do FILE.

Talvez esse não seja um texto conceitual, mas sim sobre uma percepção de sentidos perante a arte.

Relativo ao conceito e a abordagem do evento, creio uma das hipóteses possíveis é que seja uma reprodução da sociedade atual. Muitas vezes acompanhar o que está acontecendo em nosso tempo requer velocidade e habilidade. Vemos que ao longo da história da humanidade, e neste caso da arte, as pessoas que mais marcaram o seu tempo foram aquelas que acompanhavam e refletiam sobre o que acontecia, aquelas que não tiveram medo e se atreveram a conquistar coisas novas, sendo inovadores e considerados as vezes como insanos.

Na virada do milênio, no ano de 2000 surge o festival, época que acontecia no Brasil uma inovação tecnológica: computadores, telefones celulares, câmeras digitais, internet sendo difundida e outras repercussões.

Nicola Gastaldi – Gastaloops – FILE GIF | Foto: Divulgação

Já a alguns bons anos na estrada, observamos que o festival manteve fiel a sua proposta original que era provocar diferentes estímulos e debates acerca do universo artístico e midiático. Transpor barreiras e criar novos olhares para as produções do nosso tempo que se utilizam de diversos suportes tecnológicos, para criarem obras de artes que representam a nossa sociedade.

Sempre aberto a agregar temáticas e mídias atuais, neste ano entram em ação com os GIFS, Realidade Virtual, Videogames, Videoarte, Arte Urbana, Animação e outras inovações, em que cada ano há uma reciclagem daquilo que tem sido produzido e desenvolvido de inovador em programas e equipamentos.

Uma das obras que mais destacou-se nessa edição foi do artista belga Lawrence Malstaf, chamada “Overview”, somos convidados a deitar no chão e observar um painel eletrônico se movendo a nossa frente com imagens do Planeta Terra e outras ilustrações sinestésicas que retratam a chegada do homem à lua, reproduzindo quais as possíveis sensações que podemos ter ao refletir sobre a noção de tempo e de espaço. Transmite a sensação de estar em uma viagem espacial, em uma outra realidade, como se saíssemos do planeta Terra, um transe meditativo pode ser apreciado, dependendo do envolvimento que cada um se permitir a ter.

Outro projeto que merece evidência é do artista suíço Marc Lee com o nome “10.000 moving cities”, um software capta imagens de diferentes redes sociais como Youtube, Flicker, Freesound e Twitter atualizada pelos usuários, a partir disso uma cidade imaginária pode ser construída por essa tecnologia. Ao andarmos pela cidade, somos iludidos e achamos que pertencemos a ela, que ela é real, pois são construídas por imagens e lugares que são comuns ao nosso cotidiano, porém esses dados são atualizados simultaneamente e usuários aparecem interagindo, provocando uma sensação de dúvida entre o que pode ser real e o que é imaginário.

Marc Lee – 10.000 moving cities | Foto: Divulgação

Entre tantos outras propostas, o trabalho “I know myself” da austríaca Martina Menegon chamou a atenção por se tratar de um tema absolutamente comum e pertinente aos dias atuais: a violência contra a mulher. A artista se transforma em um avatar, que pode ser feminino, seus traços deixam a pista de ser uma mulher. Ela se joga de um lado para o outro, conforme o movimento de quem está interagindo, pode ser mais rápido ou mais devagar. Proporciona uma sensação agonizante e nos lembra a luta que as mulheres enfrentam com o machismo, com o preconceito, contra a falta de segurança ao andar pelas ruas, entre tantas outras questões que estão em pauta.

Ficaria horas e horas falando sobre as instalações e os diversos segmentos do festival como FILE Anima+ (Animações), FILE GIF, FILE Games, FILE Video Arte, Hipersônica, Media Arte e outras que compõem o festival. Mas prefiro deixar para meu leitor aquela provocação, aquele gosto de querer provar e degustar por si mesmo todas as experiências sensoriais e perceptivas que serão únicas para cada um. Volto a ressaltar que muitas dessas interações falam de questões importantes a nossa era, em que muitas informações são exibidas ao mesmo tempo, transmitidas e vivenciadas em diferentes fragmentos, compondo muitos universos diferentes e aleatórios, em que cada um deles revela a sua magia, a sua imersão e transcendência. Boa viagem!

Martina Menegon – I know myself | Foto: Divulgação

Serviço
FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica) 
Local: Centro Cultural Fiesp 
Avenida Paulista, 1313 – em frente à estação Trianon-Masp do Metrô
Período: 18 de julho a 3 de setembro de 2017
Horários: diariamente, das 10h às 20h (entrada permitida até 19h40)
Classificação indicativa: livre para todos os públicos
Entrada gratuita 

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