Após um mês de sucesso, com casa cheia, o espetáculo A Noite do Choro Pequeno prorrogará a temporada no Teatro do Shopping West Plaza até o dia 25 de junho.
A peça estrelada pelas atrizes Daliléa Ayala e Letycia Martins, com texto do autor português João Ascenso e direção de Ricardo Brighi conta a história de duas mulheres – Luísa e Maria Ana – que passam a noite numa estação rodoviária em Lisboa.
A ação se passa nos anos de 1960, no período da Ditadura Salazarista em Portugal. Isoladas do olhar dos outros, elas aguardam o primeiro trem da manhã, enquanto vão conhecendo um pouco da vida da outra. Luísa é pobre, saiu da prisão há algumas semanas e espera reencontrar-se com o passado.
Vítima de violência sexual, tentou assassinar o estuprador e por isso foi presa. Na penitenciária dá à luz a seu filho, que é entregue ao “pai”. O desejo de Luísa é reencontrar a criança, ainda que não consiga estabelecer com ela o laço materno.
Maria Ana foge do passado. Casada com um médico, viu sua vida se reduzir à vida doméstica, ao trato do filho e do marido. Não se sente amada, anulou-se em função do casamento, está infeliz. Decidiu fugir, acreditando ser essa a solução para suas frustrações. Aos poucos, a conversa entre as duas deixa a verdade à solta e o amanhecer revela duas mulheres diferentes.
A Noite do Choro Pequeno teve sua primeira montagem em Portugal em 2015 e voltou à cena em 2018 / 2019, com as atrizes portuguesas Sofia Nicholson (Luísa) e Alexandra Sargento (Maria Ana).
Conversamos com o diretor Ricardo Brighi e com as atrizes Daliléa Ayala e Letycia Martins que revelaram detalhes e curiosidades sobre o espetáculo. Confira!
AC: Qual a importância de dirigir ‘A Noite do Choro Pequeno’ um drama português, com histórias de mulheres tão fortes?
Ricardo Brighi: Fui movido a dirigir a peça pela simplicidade e força do texto e da montagem. Nesses tempos difíceis que estamos vivendo, a história escrita por João Ascenso privilegia as relações humanas, denuncia as diferenças sociais e de gênero e expõe a tortura psicológica dos governos ditatoriais. Apesar da história se passar nos anos 60, ainda hoje há muitas mulheres como Maria Ana e Luísa. Uma é a síntese da mulher perfeita, a que ficava em casa, com a função de manter a ordem, o asseio do lar e a educação dos filhos, numa doce submissão ao marido. A outra tem estampadas em si a mulher proletária, camponesa ou fabril, a mulher sem trabalho que enfrenta a fome e o sexismo, a mulher objeto, a mulher vítima da violência sexual e entregue à sua própria sorte. Apesar de ser um texto que contempla personagens femininas, a história não é apenas para mulheres. Afinal, a busca pelo passado, a realidade muitas vezes dura do presente e o anseio por um futuro mais justo e feliz são elementos inerentes a qualquer um de nós. É um espetáculo que privilegia o texto e a interpretação e isso me encanta demais.
AC: Daliléa, Luiza, sua personagem, é uma mulher com uma vida sofrida, mas sempre com alto astral. Você acha que isso que a deixa próxima do público tanto aqui no Brasil como em Portugal?
Daliléa Ayala: A Luiza vive nos anos 60, mas sua luta para sobreviver diante de tantos desafios não está muito longe dos dias de hoje. Portanto é uma personagem igual a maioria das mulheres no mundo, o que justifica a identificação com a mulher de hoje. No entanto seu lado simples e generoso p com o desconhecido, deixa evidente que, o que a fortalece diante dessa luta constante de proletariada é a sua Fé.
AC: Vocês fazem a peça com sotaque português falado em Portugal, como foi essa preparação , como se fossem atrizes portuguesas mesmo?
Letycia Martins: A preparação da atuação e construção de personagens para interpretarmos com sotaque português deu-se na concepção criativa do diretor Ricardo Brighi e da produção de Gerardo Franco onde o texto de João Ascenso, que é Português, já aponta a sonoridade das palavras ditas. Como o teatro com base dramatúrgica é a ação do texto escrito, o processo de preparação do sotaque veio também da escuta de pessoas nascidas em Portugal como os áudios de Axel que gravou o texto em áudio para nós atrizes. A observação corporal e gestual de mulheres portuguesas das diferentes regiões do país e relembrar a estada em Portugal foram importantes laboratórios. Os ensaios com a atriz Dalilea Ayala trouxeram dicas importantíssimas. Os canais de TV , Rádios e Documentários tem sido fontes permanentes. Tenho tido o hábito de conversar com amigas e amigos portugueses para buscar o realismo e naturalidade na fala. E por fim, busco na memória e ancestralidade de um país multicultural, a própria origem gaúcha porto-alegrense e taquariense que é também Açoriana e de trejeitos de mulheres com raízes bem portuguesas na maneira de ser.
SERVIÇO:
LOCAL: Teatro West Plaza- Sala Nicette Bruno(Av. Antártica 408, – Água Branca), 111 lugares. Com acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
DATA: até 25/06 (Sábado 20h)
INGRESSOS:R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia)
INFORMAÇÕES: 11 2649 1688
DURAÇÃO:80 min
CLASSIFICAÇÃO:Livre