Augusto Lins Soares lança livro com 60 depoimentos sobre Chico Buarque


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Palavras não faltam quando o assunto é Chico Buarque. Cantor, compositor, escritor, cidadão politizado e amante do futebol são algumas das referências sobre este artista, considerado uma das figuras mais importantes da cultura brasileira. Muita gente tem uma (boa) opinião formada sobre Chico Buarque. É o que mostra o livro “Meu caro Chico – Depoimentos”, que está sendo lançado pela Editora Francisco Alves. Coube a Augusto Lins Soares pesquisar e organizar os 60 depoimentos reunidos na obra. A ideia do livro surgiu em 2018, quando ele estava organizando Revela-te, Chico – Uma fotobiografia.

“Durante a pesquisa, encontrei declarações e histórias curiosas que revelavam Chico e sua produção artística. Achei importante organizar este livro só com textos de autores de várias gerações e de diferentes áreas de atuação”, explica o autor que coletou novos depoimentos para completar a publicação, mas teve que adiar o projeto por conta da pandemia. A procura pela Francisco Alves foi um caminho natural já que a editora tinha publicado o primeiro livro de Chico em 1966, A banda – Manuscritos de Chico Buarque de Hollanda, e A imagem do som de Chico Buarque, em 1999.

Os textos estão na ordem alfabética dos autores selecionados e apresentam um painel multifacetado sobre Chico Buarque. Está lá o depoimento mais antigo, de outubro de 1966, escrito por Carlos Drummond de Andrade em sua coluna do Correio da Manhã sobre “um rapaz de pouco mais de vinte anos” e sua primeira música a ganhar um festival: “E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente”, finaliza o poeta. Assim como a declaração de Carminho, feita exclusivamente para o livro, em 2021: “As músicas do Chico preenchem vários lugares, consolam-nos, alegram-nos, emocionam-nos”, afirma a cantora portuguesa.

Entre os textos, inéditos e já publicados, há um bilhete da escritora Clarice Lispector, uma crítica do poeta Torquato Neto, uma letra da cantora Eugénia Melo e Castro e um poema do presidente Lula. São registros de amizade, parceria, admiração e cumplicidade. De Roberto Freire a Maria Rita Kehl. De Sérgio Buarque de Holanda a Luca Bacchini. De Glauber Rocha a Laís Bodanzky. De Vinicius de Moraes a Criolo. De Tarso de Castro a Hugo Sukman.

Ao longo de Meu caro Chico – Depoimentos vão surgindo curiosidades. Como revela o escritor Eric Nepomuceno: “Chico é meu único amigo que se distrai lendo dicionários. Tem uma quantidade absurda de dicionários e por isso seu repertório de palavras parece infinito.” E segue com o relato divertido do funkeiro Rafael Mike, que participou da gravação da música As caravanas com o cantor, e o depoimento de Clara Nunes sobre Morena de Angola, feita especialmente para ela pelo compositor.

Em depoimento exclusivo para o livro, Miucha conta em detalhes, pela primeira vez, como ganhou uma música do irmão. E assim, de texto em texto, você vai conhecendo um pouco mais sobre a personalidade de Chico Buarque de Hollanda: o Chico da música, o da política, o piadista que atende os telefones em tom gaiato, o que tem medo de avião, o da pelada, o da gentileza e o da amizade, estes últimos sempre presentes.

O livro encerra com o depoimento do musicólogo Zuza Homem de Mello: “Chico Buarque, talvez o autor mais querido da estupenda geração dos anos 1960 que deu à música popular uma fartura de obras primas, atinge o auge de sua carreira na idade em que os compositores de música popular, por razões até hoje carentes de explicação, costumam pendurar suas chuteiras”. Então, viva Chico!

SERVIÇO

LIVRO: MEU CARO CHICO – DEPOIMENTOS
ORGANIZAÇÃO: AUGUSTO LINS SOARES
EDITORA: FRANCISCO ALVES
256 PÁGINAS
PREÇO: R$65

Jornalista Cristina Serra lança livro “Entrevista”

Jornalista Cristina Serra lança livro "Entrevista"

Créditos: Divulgação


Entrevista” (Kotter Editorial) é o novo livro da jornalista e escritora Cristina Serra nos apresenta 12 entrevistas com romancistas e poetas brasileiros, feitas nos anos 1980, quando trabalhou para o periódico LEIA, especializado em literatura e mercado editorial.

Com textos de introdução a cada uma das entrevistas, onde a autora reconstitui como as conseguiu, como foi a receptividade dos autores à jovem repórter em começo de carreira, as impressões que absorveu em cada encontro e que ficaram registradas em anotações guardadas até hoje no arquivo da jornalista.

As edições originais foram resgatadas no acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM-USP), parceira do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), que guarda a coleção completa do LEIA.

Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto e Mário Quintana são alguns dos brasileiros entrevistados, além da chilena Isabel Allende.

Cristina conseguiu extrair dos entrevistados reflexões profundas sobre seus processos criativos e método de trabalho, sobre a literatura e o Brasil. Algumas entrevistas são marcadamente confessionais.

Carlos Drummond fala de sua poesia: “São meus problemas, meus dramas, os meus sequestros, os meus complexos, a minha dificuldade de adaptação à vida, todo esse sofrimento.

Mário Quintana afirma que “poesia não deixa de ser uma forma de falar sozinho”.

Gullar diz que “poesia só tem um sentido: mudar as coisas”.

Jorge Amado conta que escrevia todos os dias até às 10h da manhã porque depois desse horário começava a “emburrecer”.

Segundo o professor Jaime Oliva, do IEB-USP, a entrevista já é considerada um gênero literário por vários estudiosos de literatura e, a seu ver, o livro “Entrevista” confirma esse entendimento. “Cristina faz poetas e romancistas exporem com clareza as entranhas da criação literária compondo um panorama dessa prática artística de uma geração bem relevante”.

A autora lamenta apenas ter perdido as fitas com as gravações originais das entrevistas, que ela pretendia tornar acessíveis em plataforma digital para os leitores. A umidade, porém, impossibilitou que o áudio fosse recuperado.

Cristina Serra estreou na literatura com o livro “Tragédia em Mariana – A história do maior desastre ambiental do Brasil”. A obra é uma investigação sobre o desastre provocado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015.

Leonardo Miggiorin mescla humor, conflito e poesia em peça inédita

Leonardo Miggiorin mescla humor, conflito e poesia em peça inédita

Créditos: Priscila Prade


Não Se Mate” é o espetáculo que apresenta o ator, diretor e produtor Giovani Tozi na dramaturgia. O titulo faz referência ao poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, lançado em 1962, como parte da “Antologia Poética”, organizada pelo próprio autor. Além de “Não Se Mate”, poemas emblemáticos de Drummond costuram a história, entre eles: “Poema das Sete faces”, “E agora José” e “Uma Pedra”.

Com interpretação de Leonardo Miggiorin, participação especial de Luiz Damasceno, design de luz de Cesar Pivetti e figurino de Fábio Namatame, a peça fará temporada online de 26 de março a 4 de abril, de sexta a domingo, às 20h, com transmissão gratuita pela Sympla. São 70 minutos de duração.

Drummond é um dos mais importantes autores brasileiros e um dos grandes colaboradores para a vanguarda modernista que revolucionou a literatura no Brasil. A semana de Arte Moderna, que completa 100 anos em 2022, foi um marco simbólico para repensar as estruturas dominantes entre os autores nacionais. Seguindo esse lugar de experimentação, Drummond evidenciou seu brilhantismo pela fluência de suas palavras, que conseguem transitar entre frases elaboradas e versos livres, sem deixar de ser popular e elegante. A profundidade alcançada pelo autor é notável, Drummond agregou aspectos existencialistas aos seus poemas, refletindo sobre os avanços tecnológicos e suas implicações como a guerra e a bomba atômica.

Essa fluência entre o erudito e o popular é o primeiro desafio de Leonardo Miggiorin, que busca equilibrar a freqüência dos poemas de Drummond à dramaturgia de Tozi. O autor conta que os poemas foram sendo incorporados ao texto de forma muito natural. “Tentei fazer com o que a minha vontade pessoal não se sobressaísse ao que a obra me pedia. Dessa forma, procurei escutar o personagem e, mesmo sendo muito fã dos poemas de Drummond, me contive ao que era necessário na história.

Na história, Leonardo Miggirion interpreta Carlos, um artista plástico que vive um momento complexo de perdas. Essas ausências afetam diretamente o seu equilíbrio emocional. Mesmo partindo de um tom humorado, onde o personagem ainda consegue rir de si próprio, o texto propõe um mergulho psicológico, amparado pelos poemas e pela noção de autonomia proposta pelo existencialismo, onde o ser humano é diretamente responsável pelas perdas que coleciona.

A abordagem psicológica do texto ganha força no entendimento e na intimidade de Miggiorin com o tema, que é formado em psicologia. O ator, que já fez atendimento em consultório clinico, aproveitou o tempo disponibilizado pela pandemia para iniciar uma pós graduação (online) em psicodrama. Sobre esse interesse o ator comenta: “Sempre quis estudar psicologia antes mesmo de pensar em ser ator. Mas a carreira na atuação surgiu de surpresa e deu certo, então aproveitei ao máximo, pois é algo que amo e me realiza muito. Neste momento da minha vida, a psicologia está a serviço da arte.

Leonardo Miggiorin mescla humor, conflito e poesia em peça inédita
Créditos: Priscila Prade

SERVIÇO

Temporada online: de 26 de março a 4 de abril de 2021 | sexta a domingo 20h

Espaço Cultural Bricabraque

Ingressos: Sympla

Classificação: 10 anos | Duração: 70 minutos.

GRÁTIS

José Miguel Wisnik investiga o impacto da mineração na obra de Drummond em livro




Por Nicole Gomez

O ensaísta José Miguel Wisnik visitou, em 2014, Itabira, em Minas Gerais, local onde o poeta Carlos Drummond de Andrade nasceu, bem como alguns dos pontos que serviram de inspiração para as obras do autor, por exemplo, O Pico do Cauê, para ver até que ponto esses locais e suas belas paisagens inspiraram as obras de Drummond.
Foto: Divulgação

Esse trabalho de pesquisa resultou no livro Maquinação do mundo: Drummond e a mineração, publicado pela editora Companhia das Letras, e à venda desde julho. No livro, Wisnik vai a fundo no reino de Drummond para identificar as relações da poesia dele com os problemas e excessos da mineração em Itabira, que coincidem um pouco com os problemas enfrentados no desenvolvimento brasileiro.
Embora tenham sido escritos anos atrás, os poemas de Drummond mostram-se muito atuais ao abordar a mineração e suas consequências, nos anos 50. Cada vez mais, vemos isso tudo se tornar realidade.
Capa: Divulgação
Serviço
Maquinação do mundo: Drummond e a Mineração
Autor: José Miguel Wisnik
Editora: Companhia das Letras
304 páginas