Em clima de “Mad Max” tupiniquim, Cauã Reymond é o líder de um bando sobre duas rodas preparados para matar em “REZA A LENDA”
Por Walace Toledo
Fotos: Divulgação
Ambiente árido, motociclistas, perseguições e um protagonista de poucas palavras… Por acaso esses tópicos lembraram você do universo criado por George Miller? Pois bem, ‘REZA A LENDA’ bebe da fonte e está sendo chamado de ‘Mad Max brasileiro’ pela crítica especializada. Estrelado por Cauã Reymond, Sophie Charlotte e grande elenco, o longa-metragem estreia nesta quinta (21/01) nos cinemas.
Em sua primeira direção no cinema, Homero Olivetto conta que a história, na verdade um conto, foi escrita há 20 anos, quando estava na Faculdade de Filosofia de Salvador – “ouvindo mangue beat” – e adaptada em 2006. “Parte da minha família é de Sergipe, eu passei vários verões em Aracaju com meus avós contando histórias do cangaço, de Lampião. Tenho uma relação afetiva com esse tema”.
“Dramaticamente, o universo do filme é todo construído na realidade, a seca existe mesmo, as estradas estão lá, as motos substituíram os cavalos, então o que eu fiz, o ‘lado pop da coisa’, é muito mais linguagem mesmo”, enfatiza o diretor durante a coletiva de imprensa em São Paulo. Rodado nos arredores das cidades nordestinas de Juazeiro e Petrolina, as referências estéticas do filme foram sendo criadas através da observação de acordo com as experiências e contato com as pessoas e ambientes da região.
Elenco e diretor reunidos em coletiva concedida dentro de um cinema em São Paulo (Dez/2015)
ESPERANÇA NA CAATINGA
Em uma terra sem lei, a sorte favorece apenas os mais fortes e corajosos. Ara (Cauã Reymond), um homem de ação e poucas palavras, é o líder do bando de Pai Nosso (Nanego Lira); motoqueiros armados que acreditam em uma antiga lenda capaz de devolver justiça, liberdade e prosperidade ao povo da região. Severina (Sophie Charlotte) e Pica-Pau (Jesuíta Barbosa) são dois dos companheiros mais dedicados e leais a Ara.
Quando realizam um ousado roubo, acabam despertando a fúria do poderoso Tenório (Humberto Martins). O ‘coroné’ então decide concentrar todas as suas forças em uma perseguição para destruir os motociclistas e recuperar aquilo que acredita ser seu por direito, a imagem de uma Santa.
Durante a perseguição, a jovem Laura (Luisa Arraes) é resgatada de um acidente e tem que seguir o bando contra a sua vontade. Em um clima crescente de tensão, Laura e Severina revelam o envolvimento em um intenso triângulo amoroso com Ara. O líder dos motociclistas conhece Galego Lorde (Julio Andrade), um homem tão sábio quanto perigoso, que pode revelar mais da profecia que pode mudar a vida de todos, mas não será tão fácil assim obter informações. Tudo isso intercalado com cenas de ação e perseguição pelas estradas do sertão nordestino.
Figuras brutas, entretanto com sentimentos cobertos pela poeira da estrada, e “essa humanidade é (perceptível) muito no entre ação, que tem vazio, luto, uma falta de palavras pra tanta coisa que tá acontecendo” – descreve Sophie – “Esse filme tem muito da situação limite que eles estão inseridos, da busca e do propósito deles. Você não vê tanto o antes e o depois dos personagens, é aquele momento limite da tomada de decisão, que não é nada fácil quando você tá no meio dos acontecimentos”.
“O filme trata de opressão o tempo inteiro (…) e a religião é um dos instrumentos que algumas pessoas usam pra oprimir”, afirma Homero. Tenório é um deles, apesar de religioso, “há uma ironia muito grande, o cara comete atrocidades que nenhuma Santa aprovaria”, Humberto Martins acredita na natureza ignorante do personagem, ao se ver humilhado com o roubo da ‘sua’ Santa, ele pratica barbaridades “apenas pelo ego, pela vaidade de querer mostrar a força”.
Durante a jornada, Ara tem um percurso ligado à fé, conduzindo seu intérprete a lidar internamente com o tema, “foi um momento pessoal, eu comecei a ter uma relação diferente com a minha espiritualidade”, comenta Cauã. Menos falas, mais expressão corporal, “eu nunca fiz um personagem tão silencioso e ao mesmo tempo tendo essa comunicação de certa forma acontecendo através das sensações, dos acontecimentos e dos outros falando a minha volta”.
‘REZA A LENDA’ ainda conta com Aluan Smuck (Tristão), Herberth Vital (Cancão), Jonathan Azevedo (Zorro da Zorra), Nataly Rocha (Cira), Silvia Buarque (Tereza) e Zezita Matos (Deinha). O longa é uma produção de Ouro21 e Biônica Filmes, com coprodução da Globo Filmes, Sereno Filmes, Malagueta Filmes e Locall. A distribuição nacional é da Imagem Filmes, com codistribuição SP Cine.