PAULO MIKLOS VIVE ÍCONE DO JAZZ EM PEÇA MUSICAL




“Chet Baker, Apenas um Sopro” é livremente inspirado na vida do trompetista norte-americano e se passa numa fictícia tarde de gravação num estúdio

Fotos: Victor Iemini

O espetáculo “Chet Baker, Apenas um Sopro” marca a estreia do músico e ator Paulo Miklos no teatro. Depois de papéis memoráveis no cinema e de uma longa trajetória na banda Titãs, ele sobe pela primeira vez no palco como ator. A peça tem direção do ator e diretor José Roberto Jardim. Além de Paulo, completam o elenco a atriz, cantora e dramaturga Anna Toledo e os atores/músicos Jonathas Joba, Piero Damiani e Ladislau Kardos. A peça é livremente inspirada na vida do músico de jazz norte-americano Chesney HenryBaker Jr., mundialmente conhecido como Chet Baker (1929-1988). O espetáculo estreia hoje (20/01) no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil.

A trama tem como ponto de partida um episódio real ocorrido na vida do músico. No fim da década de 60, ele foi violentamente espancado em uma rua de São Francisco. A agressão, que teria sido motivada por dívidas com traficantes, produziu no trompetista um efeito devastador: ele teve os lábios rachados e perdeu alguns dentes superiores, sendo obrigado a interromper a carreira até se recuperar dos ferimentos. A ideia de fazer um espetáculo sobre a vida do músico foi do produtor Fábio Santana. “Sou amante de Chet Baker desde os 19 anos, quando escutei pela primeira vez o disco ‘Chet On Poetry’, e fui procurar saber quem era aquele trompetista de tom suave e poético que tinha uma voz de igual suavidade. Há dois anos tive a ideia de realizar e produzir um espetáculo livremente inspirado em sua vida e obra. Procurei então o jornalista e dramaturgo Sérgio Roveri, que, para minha surpresa, também estava no mesmo momento com a vontade de escrever algo sobre o Chet Baker”, conta.

Esta é a terceira vez que Sérgio Roveri escreve sobre grandes personalidades, como ocorreu nos espetáculos “Aberdeen – Um Possível Kurt Cobain” e “Tempos de Marilyn”, que também foram dirigidos por Zé Roberto Jardim. Juntos eles formam a companhia Portrait de Teatro.

O dramaturgo conta que nas três ocasiões foi convidado para escrever o texto sobre essas grandes figuras: “Eu nunca me propus a escrever um texto que fosse essencialmente biográfico. Acredito que meu processo de criação tenha sido muito parecido nos três casos: eu leio o material que consigo reunir sobre os personagens e depois penso que abordagem específica dar a cada um deles. Como nunca houve esta preocupação exacerbada com a biografia, eu costumo eleger um fato, uma passagem da vida deles para, a partir daí, criar uma grande situação dramatúrgica em que os personagens possam circular sem demonstrar que eles são exatamente as figuras reais nas quais eles foram inspirados. É o componente humano que me interessa, as fraquezas, as dúvidas, as inquietações e, claro, os prazeres e as alegrias também”.

“Chet Baker, Apenas um Sopro” mostra a primeira sessão de gravação de Chet após o acidente. Ele está inseguro e arredio – e seus quatro companheiros de estúdio (um contrabaixista, um baterista, um pianista e uma cantora) parecem estar ainda mais. Todos foram reunidos por um produtor que, por ser amigo e admirador de Chet, acredita que ele está pronto para voltar à ativa. “Um espetáculo que contém muita música e drama, exatamente como a vida do nosso retratado: Chet Baker. Um artista brilhante, um talento natural, aprisionado pela droga e pela auto-complacência. Chet é um dos meus ídolos, muitos deles morreram ainda mais jovens, nenhum sobreviveu a própria genialidade. Respiraram música acima da vida. ‘Chet Baker, Apenas um Sopro’, é um grande presente que eu recebi, e espero estar à altura”, comenta o músico e ator Paulo Miklos.

A peça, que transcorre ao longo de uma tarde e o início de noite, mostra a convivência complicada, dolorida e ao mesmo tempo solidária entre os músicos. “Chet não é o único com problemas naquele estúdio. Só a música pode resgatá-los. E só a música pode empurrá-los de vez para o fundo do poço. Cada um terá de fazer sua própria escolha. “O que se vê em cena, na minha opinião, é uma reunião de vários músicos que, como ele, também experimentaram o sucesso e o fracasso. Os demais personagens da peça não existiram na vida real, da mesma maneira que não existiu esta sessão de gravação nos moldes em que surge no texto. O importante é usar este pequeno recorte para criar uma história que tente dar voz às inquietações deste grande artista. Nada do que está em cena aconteceu. Mas, graças ao teatro, tudo poderia ter acontecido.”, comenta Roveri.

A ENCENAÇÃO

A peça se passa dentro de um estúdio de gravação, o cenário é assinado pelo ‘Grupo Academia de Palhaços’, formado por Rodrigo Pocidônio, Paula Hemsi e Laíza Dantas; figurinos exclusivos, especialmente criados para o espetáculo, pelo estilista João Pimenta; iluminação por Aline Santini; direção musical de  Piero Damiani; produção e idealização de Fábio Santana; produção executiva de Milena Castro e produção da T3rceiro Sinal Produções Culturais.

“Estou buscando mais do que um espetáculo, uma ‘experienciação’ músico-narrativa. Tanto que o espaço em cena será um estúdio de música que funcionará de forma real, com seus instrumentos e aparelhos sendo usados e acionados pelos próprios atores, tudo sem a utilização de trilha gravada. O que ouviremos, sendo da voz ou dos instrumentos deles, virá sempre da área de atuação. Tudo será ao vivo. Mesmo princípio que estou buscando para a nossa iluminação, as luzes não estão nas varas ou refletores do teatro, elas são integradas ao cenário-estúdio. Por esse motivo embarquei em outra zona de risco como diretor, trazendo à cena apenas atores que tivessem ligação direta com o universo da música”, explica o diretor José Roberto Jardim.

SOBRE CHET BAKER 

Ícone do jazz mundial, cool, cult,  símbolo  sexual  –  rótulos  são insuficientes para definir Chet Baker. Filho único, mimado pela mãe e brutalizado por um pai alcoólatra, o músico alcançou  a  fama muito cedo. Em 1952, aos 21 anos, era convidado a tocar com o mestre Charlie Parker.  No ano seguinte, seria eleito o melhor trompetista de jazz em atividade.

Autodidata, Chet começou a tocar aos 13 anos, em Los Angeles, quando ganhou um trompete de presente do pai. Ao longo da carreira, dividiu o palco e os estúdios de gravação com gigantes do porte de Charlie Parker, Stan Getz e Gerry Mulligan. 

Casado três vezes, teve 4  filhos  e  muitas  amantes,  mas  suas verdadeiras paixões eram a música e a heroína. O vício fez com que Chet vivesse mais de 30 anos em função da droga, desde o auge da carreira, quando sua beleza romântica fascinava multidões, até os últimos dias de vida, quando caiu do segundo andar de  um hotel em Amsterdam, em 13 de maio de 1988.

O homem que, ao surgir no jazz dos anos 50, encarnou o ideal de  sua  geração:  o  jovem de  romântica  beleza  que,  com  seu trompete e sua voz, transmitia um inconformismo e confronto em  surdina  com  os  valores  vigentes  –  um  ameaçador  “não estar nem aí” que era o epítome do que significava ser cool.

Em toda parte, inclusive no Brasil, outros  jovens  foram afetados  pela  música  de Chet Baker.  E não apenas por ela. Suas fotos em preto e branco na capa dos LPs influenciaram o jeito de vestir,  de  olhar  e  de  se  expressar,  ao  mesmo  tempo em que inspiravam desejos proibidos em mulheres e homens.

A sua maneira, Chet Baker era Rimbaud, James Dean e Elvis Presley, todos ao mesmo tempo. O homem que imortalizou a música “My Funny Valentine”, era uma espécie de anjo e demônio; gravou mais de 150 discos.

Este projeto foi vencedor do ‘Prêmio Zé Renato’ da Secretaria Municipal de Cultura do Estado de São Paulo, e também possui o patrocínio do Ministério da Cultura , através do Banco do Brasil.

Serviço:

Temporada: De 20 de janeiro a 07 de abril de 2016

Dias e Horários: Segundas, quartas e quintas às 20h

Classificação indicativa: 14 anos

Duração: 1h20

Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado, 11, Centro – SP (Próximo às estações Sé e São Bento do Metrô) 

*Acesso e facilidades para pessoas com deficiência física // Ar-condicionado // Loja // Café Cafezal.
Informações: (11) 3113-3651/3652

Valores: R$ 10,00 (meia R$ 5,00)

Ingressos: Direto na bilheteria (das 9h às 21h, de quarta a segunda) ou pelo site www.ingressorapido.com.br

Capacidade do teatro: 130 lugares

Estacionamento conveniado: Estapar – Rua Santo Amaro, 272 – R$ 15,00 pelo período de 5 horas. (Necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB.)

Traslado gratuito: Transporte gratuito até as proximidades do CCBB – embarque e desembarque na Rua Santo Amaro, 272, e na Rua da Quitanda, próximo ao CCBB. No trajeto de volta, tem parada no Metrô República.