Artista multitalentoso, Emerson Leal lança EP gravado ao vivo no Rio de Janeiro




Por Andréia Bueno

São raros os casos em que diversas potências artísticas reúnem-se numa só pessoa. Mais incomuns ainda são as pessoas que, dotadas dessa variedade de talentos, realizam de forma primorosa todos eles. Um belo exemplo dessa raridade é o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor Emerson Leal.

Foto: Donatinho
O artista, que é nascido em Salvador, tem sido celebrado pela engenhosidade das suas harmonias e melodias, alinhada à linguagem pop-sofisticada característica das suas músicas [que já na concepção do seu primeiro disco [Emerson Leal, 2012] atraíram parceiros como Tom Zé e Luiz Tatit]; pelas suas próprias letras de alto nível, ou “bem acima da média das que estão sendo produzidas no Brasil hoje”, de acordo com o crítico musical Thales de Menezes [Folha de São Paulo]; pela beleza e timbre do seu canto, que cativam especialmente fãs femininas que acompanham o cantor em shows ou pelas redes sociais – e, finalmente, pela sua virtuosidade ao violão, instrumento que domina desde muito cedo, graças a seu ouvido privilegiado e sua musicalidade natural [características inclusive observadas por Chico Buarque em vídeo-apresentação de seu disco Chico, 2011, após descobrir performances de Leal através da internet].

A boa notícia é que uma nova mostra de todas essas capacidades já pode ser conferida em todas as plataformas digitais: trata-se do EP Ao vivo no Rio, primeiro lançamento de Emerson Leal neste formato. O miniálbum de quatro faixas, todas compostas pelo artista, foi gravado durante o show de estreia do seu segundo CD, Cortejo, realizado em 26 de janeiro de 2017 no Teatro Sérgio Porto, no Rio de Janeiro [cidade onde Leal viveu entre 2008 e 2018. Hoje ele reside em São Paulo].
Ao vivo no Rio traz canções até então não gravadas pelo autor, mas conhecidas pelo público que frequenta os seus shows; além de novas versões de outras canções já lançadas. E é justamente uma dessas versões que abre o EP: Vai que dá certo, música que havia sido registrada no álbum Cortejo e se tornou o maior sucesso desse disco [além de ter sido também interpretada pela cantora e compositora Ana Carolina em seu show Ruído Branco, de 2017]. É uma surf-bossa-music com melodia de sotaque pop, que proporciona leveza a versos provocativos sobre uma relação líquida, de vínculos frágeis: Você nunca me telefona | Porque vai que eu atendo | Você nunca me explica nada | Porque vai que eu entendo | Você não pergunta onde eu moro | Porque vai que é perto | Você não me pede conselho | Porque vai que dá certo. A moldura sonora da faixa fica a cargo do trio de músicos cariocas Rafael Camacho (guitarra), Ph Rocha (baixo) e Pitito (bateria).

A canção seguinte é uma das que até então estavam inéditas em disco. Conduzida pela voz e pelo violão do compositor, contando ainda com os contracantos da guitarra de Rafael Camacho, Sugar baby é um blues de harmonia incomum e letra composta por questões sobre uma certa mulher bela, jovem e sustentada por um amante/marido muito mais velho – e poderoso: Quanto vale a sua juventude? | Há quanto tempo você não se ilude, Sugar? | (…) | Sugar baby, quase é hora de dormir | De exercer a obrigação de se despir | No espelho o ritual dos cremes | No banho, solitária goza e geme | Sugar.

Foto: Donatinho
Outra canção já conhecida pelo público dos shows de Emerson Leal e até então não gravada é a terceira faixa do EP, Um samba inacabado – que, se não chega a ser exatamente um samba, possui, sim, acabamento de alto nível no encontro entre letra e música. A gente tem um samba abandonado | Recado que ninguém vai receber | Um canto vai morrer sem ser cantado | Coitado | Ainda antes mesmo de nascer, diz a letra do quase samba, embalado na forma mais essencial possível para a execução das canções de Leal; ou seja, pela voz e pelo violão do próprio autor.

Com a mesma ambiência sonora, surge a quarta e última faixa: Na frente da tela, canção com DNA de hit instantâneo,atestado pelo canto da plateia carioca no refrão final – Eu vivo na frente da tela | É nela que vejo você | A gente se fala por uma janela | E a solidão parece desaparecer. De todas as canções reunidas neste volume, esta é a única que fala de um relacionamento que parece dar certo – mas que ao mesmo tempo possui um componente particular: a distância física entre os envolvidos. Esta música havia sido gravada em 2014 pela cantora Ariella (SP) e em 2017 pelo supergrupo Três Quartos, formado pelo próprio Leal e seus parceiros Julia Bosco (RJ) e Gustavo Macacko (ES); contudo aparece aqui nesta versão ao vivo e particular do autor, que faz o ouvinte se entregar ao canto, somando sua voz à do público presente no Teatro Sérgio Porto naquela noite. Uma bela maneira de encerrar esta pequena coleção de grandes canções, que apontam para a contínua ampliação da ocupação de Emerson Leal no novo cenário musical do país. 


Ouça o EP Ao Vivo no Rio no Soundcloud: https://bit.ly/2GZHi5c
Ouça o EP Ao Vivo no Rio no Spotify: https://spoti.fi/2IVhHfl
Redes sociais do artista: 
Instagram: @emersonleal.oficial 

Zeca Baleiro lança álbum com canções raras




Entre as inéditas, álbum inclui gravação de Chico Buarque e canção composta especialmente para Roberto Carlos

Por Andréia Bueno

Após dois volumes de duetos, Zeca Baleiro reúne gravações raras e dispersas no álbum Arquivo_Raridades, que chegou nas plataformas digitais no dia 27 de abril (sexta-feira). São 11 gravações de estúdio e 2 ao vivo, sendo 8 registros inéditos, entre eles “Envolvidão” e “Logradouro”, que saíram no formato single, anunciando o lançamento do álbum digital.

Foto: Silvia Zamboni
Do repertório autoral, Baleiro apresenta “A Estrada me Chama”, composta para a série “O dia em que nos tornamos terroristas”, produzida no Maranhão, e “Tarde de Abril”, feita especialmente para Roberto Carlos. “Há mais de dez anos, li matéria sobre projeto de CD em que Roberto Carlos gravaria apenas compositores nunca gravados por ele, das ‘novas gerações’. É um sonho de consumo dos compositores da minha geração ter uma música gravada pelo Rei. Imediatamente compus uma canção, gravei ao vivo no estúdio, acompanhado apenas de Adriano Magoo ao piano. Enviei a canção através de uma amiga do empresário de Roberto. Nunca tive retorno se o cara ouviu. Mas a gravação me agradou tanto que resolvi colocá-la neste disco. Quem sabe agora o Roberto ouça”, se diverte Baleiro.
Entre as raridades, também estão “Armadilha”, composição de Nelson Coelho de Castro e Denise Ribeiro registrada para a série “Animal”, exibida no GNT, e a gravação inédita de “Baioque”, de Chico Buarque, que ganhou uma versão rock’n’roll. Gravada para a trilha sonora da novela “Joia Rara” (2014), da tv Globo, permaneceu inédita até agora. “A produção achou a versão rock’n’roll demais pra uma novela de época (detalhe que eu desconhecia). Assim, como não havia mais tempo para uma nova tentativa, a gravação ficou de fora da trilha e guardada no meu baú”, conta Baleiro.
Algumas não são tão raras, como as interpretações em cds-tributos feitos com as obras de Maysa, Luiz Gonzaga e Padre Zezinho, mas como não foram muito divulgadas, mereceram esta “segunda chance”. Já “Chuva Fina”, do tributo “Mais Forte Que o Tempo” (2013) ao Michael Sullivan, hitmaker dos maiores da música brasileira, é provavelmente a mais conhecida deste Arquivo_Raridades, já que toca nas rádios pelo Brasil desde seu lançamento, em 2013.

Capa: Divulgação
O álbum ainda inclui duas inéditas gravações ao vivo, “O Chamado”, sucesso de Marina Lima, que fez parte do repertório da turnê do show Era Domingo (2016) e “Ponto de Fuga”, de Chico Maranhão. “Chico é um grande compositor maranhense de uma geração anterior à minha. Um craque do samba e do choro, mas não só. Nesse show no Sesc Vila Mariana em 2009, o homenageio com um de seus clássicos sambas, acompanhado apenas do violão 7 cordas de Swami Jr”, completa Zeca Baleiro.