Carrie – A Estranha (2013)




Por Gabriel Antoniolli

Kimberly Pierce tinha uma possibilidade de fazer de Carrie (2013) algo diferente do que já haviam feito os outros dois diretores que fizeram filmes baseados na obra homônima de Stephen King. E fez. Mas não como se esperava. Ela tentou fazer algo com uma atmosfera tensa o tempo todo. Conseguiu, em partes. Mas provavelmente não chegará a atingir o público esperado.




(Foto: Divulgação) 

Sua versão da obra adapta o conto de King para o ano de 2013. Onde antes se via o bullying apenas na escola, Pierce adapta para a era globalizada onde o que está no mundo real está também no YouTube e aquela cena clássica do vestiário do começo tem esse toque de tecnologia.

Chloë Grace Moretz, a atriz que interpreta Carrie, não é estranha. Eu sei que o título é “Carrie, A Estranha” apenas em português no Brasil, mas estranha é algo tão relativo que não tem como não comparar com a atriz em si. 

Carrie é estranha apenas para quem não entende o que sua mãe faz com ela e aí, entrando num mérito totalmente superficial a respeito da escolha da atriz às opiniões dos colegas de escola de Carrie, eu concordo com a denominação.

Afinal, o que faz Carrie de tão estranho (além de ter poderes paranormais)?

(Foto: http://5throwjoe.com/review-carrie-2013)

Sua mãe, interpretada por Julianne Moore, sim, é estranha. A senhora White prega a fé religiosa extremista e não hesita em falar que Carrie não poderá pecar. 

Ao saber da primeira menstruação da menina, não hesita em acusá-la de pecadora. ORA, senhora White, mas que hipócrita: você é realmente tão ignorante a ponto de realmente acusar Carrie por algo que seu corpo iria passar, certo? Foras, gostei da atuação de Moore. Conseguiu dar profundidade ao papel da mãe e me fez ter ainda mais desprezo pela personagem.

(Foto: Diário de Pernambuco)

Claro que Carrie se vê em um dilema: sua mãe ou sua vida? Ela acaba sendo alvo de zoação da escola toda pelo que aconteceu no vestiário quando de repente o cara mais popular da escola o convida para o baile de formatura – nade menos do que o sonho de qualquer menina americana com 14 anos. E ela vai. E lá shit happens. 

O diferencial da versão de Pierce é que – opa, spoiler! Mas quem não conhece a história, me desculpe, depois de tantos anos do lançamento do livro e do filme, está é muito atrasado – após a matança habitual de Carrie no baile de formatura o filme continua. Ficou meio trash, meio “Arraste-me para o Inferno” e sangue por toda a parte. Não que eu não goste, mas tudo em excesso é ruim. 
Até mesmo Carrie White se tornando serial killer de bullies. O que eu salvaria desse terceiro ato são alguns efeitos especiais, como a cena do carro que empina e entra com tudo na cabine telefônica. Fora isso, muito barulho pra nada.

(Foto: Cinetoscopio)

Antes do lançamento do filme, li por aí que Carrie havia sido transformada praticamente num X-Men. É bem por aí, infelizmente.

A Grande Beleza (2013)




Não consigo não dizer que A Grande Beleza (La Grande Bellezza, 2013) possui primorosamente uma grande beleza. Com tantos instrumentos audiovisuais, Paolo Sorrentino dá, com esse filme, motivos para ter orgulho de fazer parte da sétima arte.
A historia é a seguinte: Toni Servillo é Jep Gambardella, um jornalista que é conhecido por ter escrito um único livro e há muito tempo, o que faz todo mundo o questionar o por quê de ter escrito apenas um livro em toda a sua vida (e por que deveria haver mais livros? Existem regras jornalísticas que dizem que os escritores devem escrever todo o tempo enquanto viverem?). Mas a insistência para saber motivos acaba fazendo com que Jep pense mesmo em voltar a escrever. Contudo… escrever sobre o quê?
Ora, sobre a sua vida, Jep.
(Foto de Gianni Fiorito)
Se o personagem pudesse me ouvir agora, provavelmente diria: “minha vida? Minha vida não é nada. Flaubert tentou escrever um livro sobre o nada e não conseguiu. Até parece que eu hei de conseguir.”
Quando jovem e de mudança para Roma, Jep queria se tornar uma pessoa tão conhecida que não queria ser capaz de dar festas – mas sim de arruiná-las. De ter esse poder. No momento do filme, vemos que Jep foi mesmo uma pessoa e tanto na classe alta italiana. Ele conhece tudo e todos.
Em uma busca indireta por momentos para escrever, acaba se aventurando em peculiares e pequenos causos que dão intensidade à trama de Sorrentino. Causos esses que acontecem todos na capital italiana, como um retrato decadente da cidade histórica que hoje é cheia de estereótipos e decepções para Jep. Nada além disso.
Conhece-se mais a respeito de Jep. Conhece-se mais a respeito do ser humano e de como ele pode ser e parecer. Conhece-se mais sobre a maravilhosa arquitetura romana e cheia de valores históricos que fazem do local um berço cultural.
(Foto de Gianni Fiorito)
Não tenho palavras para comentar a trilha sonora. Tudo o que eu disser ficará oprimido em relação à magica que é a direção de Paolo Sorrentino atrelada às melodias. Um exemplo é esse vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=FO8DqDWBzLI&feature=youtu.be).
Por Gabriel Antoniolli

Stephen King – Desespero @ São Paulo




Por Gabriel Antoniolli

“In these silences something may rise”



Você nunca sabe o que acontece em seguida. É assim que as coisas funcionam na vida. Por mais claro que esteja o dia, é tudo meio incerto. 

Dessa maneira começa o livro DESESPERO, de Stephen King.

Um casal está lá viajando de carro. Visitaram a irmã do cara e agora estão na Rodovia 50, uma passagem que tem como pano de fundo (e de lado, e de frente). Do nada, aparece uma viatura que acaba os parando e o policial (enorme, diga-se de passagem) age de maneira bem estranha com eles. Acaba apreendendo-os por porte de maconha, e partem juntos, na viatura, para uma cidadezinha ali perto.

Essa história se repete com outros dois contextos bem semelhantes e o mesmo policial, que age de uma maneira bem estranha.

Vi-me mergulhando em uma narrativa densa e intensa, onde King nos faz de seu mundo o nosso mundo. Como se vivêssemos aquilo.

Como se, ao virarmos para o lado, apenas nos depararíamos com… desespero. O desespero de Desespero.

Entendo, mesmo, o apreço pela sobrenaturalidade de Stephen King. Não que eu goste – não gosto -, mas entendo. Entendo que é um modo de envolver o leitor com algo que não está ao seu alcance. Um jeito de fazer com que tudo, por mais controlado que esteja, ainda lhe passe inseguranças. Por mais interessante e complexo tenha sido esse universo criado, ele não me agrada. Mas sei que há muitos que gostam.

De qualquer forma, o embate aqui é entre o bem e o mal. O mal é representado por um espírito demoníaco, Tak, e ele sai incorporando as pessoas. O bem é mostrado como Deus se manifesta através do menino David Carver. Ele, juntamente com sua família, foi uma das vítimas do policial e, consequentemente, de Tak. O garoto é peça importante da história, entrando de fininho sendo considerado especial por ter grande fé e devoção por Deus. Devoção essa que acaba movendo a todos os “confinados” por Tak.

O livro não é de cunho religioso – antes que possa parecer. Em alguns momentos, realmente parece ser, pela intensidade com que toda a fé do garoto é descrita. Com os diálogos a respeito da crença na força superior. Com todo o discurso de fazer a vontade do Senhor e tal. Mas não é.

Embora a narrativa tenha me entretido pra caramba, confesso que em alguns momentos me vi entediado pelas situações. Momentos de flashbacks – não sei porque Stephen King gosta TANTO deles – me cansam. Outra crítica que tenho ao livro é que às vezes os cenários ficaram um pouco confusos. Não conseguia visualizar tão bem a paisagem de onde as coisas aconteciam.


Outro aspecto perceptível é a violência. O autor claramente não tem frescura para falar como as pessoas morrem aqui e ali. Não tem problemas em falar que uma menina de 7 anos morre ao cair da escada e seu corpo é colocado ao lado de outros corpos sem qualquer cuidado – e que o irmão dessa menina se encontra com ela em uma cena bem dolorosa.

Ficaram algumas dúvidas e questionamentos, mas, independentemente disso, eu gostei.

Invocação do mal @ São Paulo




Por Gabriel Antoniolli


Foi com muito interesse que fui assistir ao filme Invocação do Mal (2013), na última sexta feira (13) em São Paulo. Sexta 13, hein.



Fazia tempo que eu não me animava com um filme de terror. A cada filme que assistia, era como se estivesse dando uma nova chance ao gênero. Nada mais surpreende, nada mais é novo. Ainda assim, fui ver The Conjuring (nome original).

Acho que já perdi a conta de quantos filmes com história semelhante à de Invocação do Mal eu já assisti. Uma família começa a ser atormentada por diferentes eventos sobrenaturais, até que descobre que de fato estão em presença de uma entidade maligna.

O diferencial é que essa é uma história real. Ok, eu também não acredito que seja DE TODO REAL. Mas é baseada nos arquivos de Ed e Lorraine Warren, que é aquele casal paranormal que também foi responsável por ceder os arquivos para as filmagens de Amityville Horror (1979/2005). Esse caso foi bastante conhecido e muita gente vê esses filmes como bem macabros e reais.

Foi assim que eu fui ver, então. E não me decepcionei nem um pouco. Muito pelo contrário.

Gostei bastante da fotografia do filme. O clima de tensão era acentuado pela longa disposição do cenário, entre corredores e escadarias. Os pontos escuros também trazem aquela dúvida para o espectador de “o que será que tem ali?”. A casa parece engolir para si tudo e todos, de tão rústica que é.
As cenas de exorcismo (não é um spoiler, vejam o trailer) são bem reais, de acordo com um padre católico que realiza exorcismos. Com um pouco de exageros, mas são.

Ainda acho que o gênero precisa se reformular. Contudo, vale bastante a pena assistir Invocação do Mal. Pelos sustos – e por outros detalhes.

Anos Incríveis (2012) @ São Paulo




Por Gabriel Antoniolli

Não é a série. É o filme. Francês. De nome original TÉLÉ GAUCHO, de Michel LeClerc.


Por ter visto recentemente “Aconteceu em Saint-Tropez” (2013), estava um pouco familiarizado com Eric Elmosnino. Isso foi legal porque o filme não era em si todo desconhecido para mim. Ainda não estou habituado com alguns cinemas e o francês é um desses.

O personagem principal do filme é Victor. De início, não fui com a cara dele. Não sei por quê – talvez alguma coisa em meu inconsciente possa explicar isso. Então simplesmente me vi assistindo a um filme sem apreço pelo protagonista. Tudo bem.

Ele, um rapaz dos campos franceses, gosta de cinema. Seu pai quer que ele estude computação. Mas ele vai atrás do que quer e, através de sua mãe, consegue um estágio em uma emissora grande da França. Acaba até indo morar sozinho. 

Mas se vê em meio a uma galera que representa uma tv pirata. TV Pirata é, literalmente, o nome do grupo.

(Créditos: newmedia.leeds.ac.uk)

Eles têm uma emissora com fluidos anarquistas e tentam mostrar a realidade como ela é. Não é o que Victor planejou quando saiu de casa mas já é alguma coisa. Ele estava indo atrás pelo que queria, aos poucos. Contudo, seus parceiros descobrem seu estágio na grande emissora. Temos esse conflito ideológico – lutar de baixo ou se manter em cima?
Daí ele conhece uma moça meio louca, a Clara. Ela é o tipo de pessoa pirada, talvez até mesmo perturbada. O mundo em que ela vive e compartilha com os outros é, ao seu ver, apenas dela. Achei bem feito pro Victor.

É interessante ver como uma emissora pequena e independente, com pessoas ligadas ao movimento político anarquista e com interesses relativamente difusos quanto ao objetivo das matérias cobre, por cinco anos, o que acontece na França.

Não sei se foi pela minha desarmonia com Victor, mas algo nele e em Clara me incomodou. Acho que a maluquice da menina, que acaba ignorando que nem tudo é como ela gostaria que fosse, faz com que eu a veja destoando do resto do filme.

I Spit on your Grave (2010) @ São Paulo




Por Gabriel Antoniolli

Quando fui ver, minha namorada me disse que se assemelhava a The Last House on the Left e por isso me interessei. Falarei sobre ele em um dia qualquer, mas depois.

Aproveito para lembrar que é o remake de 2010, não a versão original.

O ingrediente que mais me agradou para assistir I Spit on your Grave foi a sempre presente pitada de vingança, essencial para o desenrolar da trama. Posso separar o filme em duas partes. Infelizmente, o que vemos na primeira faz doer. E bastante.

Uma escritora “””da cidade””” (Jennifer Hills) vai passar uns tempos em uma cabana em uma área um pouco mais interiorana, naquelas paisagens temperadas da América do Norte, com laguinhos e pinos.

Ela vai abastecer o carro em um posto, onde é assediada e acaba deixando um dos responsáveis pelo assédio em uma situação um pouco embaraçosa. Algo completamente injustificável para o que eles viriam a fazer depois.

A casa de Jennifer é invadida pelos caras e lá eles se acham no direito de fazer o que eles querem com ela. O que se vê são cenas absurdas de tortura e inconsequente ação sexual desumanizada.

Mas, para o meu deleite, muita coisa volta para eles. Não na mesma proporção, porque certas coisas são imensuráveis. Mas em uma proporção que me satisfaz, em partes. Satisfaz Jennifer, também, porque ela parece gostar. Ela parece dar seu toque pessoal a cada atitude que ela tem em contra-partida com o que fizeram com ela. 

Ficam algumas coisas subentendidas e outras meio interrogativas, mas isso é o de menos.

Destaque para a atuação memorável do sheriff Andrew Howard, que me fez querer fazer com ele muito mais do que ele sofreu.

Vejam.