O Cardápio de Raphael Montes




Por colaborador: Lucas Damasio

Conheci o Raphael Montes por mero acaso, pesquisando na internet sobre escritores brasileiros, acho que isso foi em 2014. Ele havia lançado seu primeiro romance, “Suicidas”, pela editora Benvirá (e que em breve ganha nova edição pela Cia das Letras, atual casa do autor).

Comprei um exemplar do livro pela internet e devorei em duas noites. O estilo do escritor é empolgante e avassalador. Apesar da pouca idade, ele domina como poucos a trama de suas histórias e consegue dosar na medida certa cada cena com objetivo de prender a atenção do leitor para o que vai acontecer na sequência, fazendo a história progredir de uma maneira avassaladora e horripilante, marca central de suas narrativas.

Li todos os seus livros na sequência de lançamento. O segundo foi “Dias Perfeitos”, lançado pela Cia das Letras. Logo depois, me aventurei pelo “O Vilarejo”, publicado sob o selo da Suma das Letras. Por último, seu mais recente romance “Jantar Secreto”, também editado pela Cia das Letras.

Na leitura de orelha do seu último lançamento já se consegue ter uma noção de toda a ambientação psicológica preparada pelo autor na trama. Um grupo de quatro jovens deixa uma cidadezinha fictícia do interior do Paraná para estudar no Rio de Janeiro. Os quatro amigos, um estudante de administração que trabalha em uma livraria – e que é a voz narrativa da história – um hacker de humor escrachado, um estudante de medicina e um aspirante a Chef de cozinha com o maior ego do mundo, passam por dificuldades financeiras e têm uma ideia para tentar levantar algum dinheiro para pagar as contas: Realizar jantares secretos para clientes ávidos por uma aventura gastronômica exótica. Mas claro, as coisas fogem de controle e algo que surgiu como uma brincadeira acaba tornando-se um emaranhado de desconfiança, paranoia, ambição e medo, culminando em uma sequência de crimes.

Nesta obra, Raphael Montes não decepciona e entrega o que promete, apresentando uma história que explora o lado sombrio das pessoas, mesmo que o personagem em questão não tenha necessariamente um perfil cruel e tenebroso. Lembro-me de um bate papo literário em que assisti e que contou com a participação do autor, onde ele afirmava acreditar que todos os seres humanos tinham um lado sombrio e maligno, até mesmo as pessoas de boa índole. Acredito que ele tenha explorado muito essa questão em “Jantar Secreto”, sobre o despertar do lado sombrio que habita cada um.

Outro ponto muito interessante que a obra levanta é o paralelo que Raphael faz de algumas questões centrais da trama com a indústria do alimento cultivada atualmente, e que levanta reflexões incomodas sobre forma em como tratamos a nossa comida. Não posso aprofundar-me mais nessa questão, pois corro o risco de deixar escapar algum spoiler, mas para mim ficou claro que o autor utilizou pontos chave da narrativa para expor algumas questões que merecem a atenção, ou no mínimo, um questionamento coletivo de sobre como as coisas têm funcionado, e como isso impacta – ou não – nossa visão humana das coisas.

O gosto por um estilo, trama ou autor é muito particular de pessoa para pessoa, mas caso tenha interessado e sua leitura tenha atingido estas linhas finais deste texto, permita recomendar-lhe a leitura de “Jantar Secreto”. Tenho certeza que, se o romance não lhe provocar reflexões, com certeza provocará alguns outros pensamentos e sensações interessantes, que fará valer o tempo de leitura. Como toda boa história que envolve mistério, crimes, terror psicológico e suspense, esta obra não deixará nada a desejar.

Raphael Montes convida para um Jantar Secreto




Por Lucas Damasio

Novembro também tem lançamento nacional de uma das mais jovens
estrelas em acessão da literatura policial brasileira. O carioca Raphael Montes
anunciou o seu quarto livro, sob o título de “Jantar Secreto”, que sai pela
editora Companhia das Letras.

O novo livro contará a história de três amigos que foram para o Rio de
Janeiro fazer universidade e se encontravam em dificuldade financeira. Um dos
amigos fazia o curso de ciência da computação, outro cursava medicina e o
terceiro, gastronomia. Em meio à trama de cada personagem, surge uma ideia que
faz os amigos embolsar muito dinheiro: por meio da internet, eles convidam as
pessoas até a casa onde moram para vivenciarem experiências gastronômicas
diferenciadas.
Conhecendo o estilo de trama sem travas e avassalador do escritor,
quando o assunto é explorar a maldade e a loucura de seus personagens, pode-se
imaginar o que aguardará os leitores nas páginas da nova obra.
Em “Os Suicidas” (Selo Benvirá da editora Saraiva – 2012), primeiro
livro do autor, ele explora o lado obscuro de nove adolescentes que decidiram
ir para o porão de uma casa com uma Magnum 608 com objetivo de tirarem a
própria vida. O medo e o terror psicológico que desenha cada personagem torna
evidente o interesse do autor pelo lado sombrio das pessoas, alicerce que
sustenta a narrativa enquanto o leitor vai desvendado o mistério que existe por
trás do suicídio coletivo.
Em sua segunda publicação, “Dias Perfeitos” (Companhia das Letras –
2014), Raphael ainda foca na maldade que habita em cada pessoa, contando uma
história de amor obsessivo através dos olhos e do julgamento de um psicopata,
em uma narrativa violenta, com diálogos ágeis e muito suspense.
Em “O Vilareijo” (Suma das Letras – 2015), Montes explora a loucura
como a fonte do terror que rasga cada página do livro. Além de uma escrita
visceral e histórias horripilantes, o livro conta com ilustrações que ajudam a
ambientar ainda mais a escrita precisa e instigante do autor.

Um fato interessante que ocorre, quando acompanhado a trajetória de
Raphael Montes, é a movimentação que o autor tem conseguido gerar nos debates
sobre literatura de gênero no país, em especial, na literatura policial. Com um
repertório enorme e diálogos sobre a importância de uma literatura de
entretenimento que tenha outras camadas que possibilite reflexões mais
profundas, ele tem conseguido trazer um novo frescor para o mercado editorial
nacional.