Por colaboradora Anyelle Alves
Luca Almeida Scarpelli Diniz, de 27 anos, é publicitário e dono do canal Transdiário, que como bem diz o nome, fala sobre a vida trans e resolve tabus da sociedade, assim como também conta os desafios que enfrentou – e ainda enfrenta – desde que decidiu dar início a sua transição de gênero em Lisboa por meio de cirurgias e tratamento hormonal. Luca mora atualmente em São Paulo. Conversamos com ele a respeito da grande repercussão que seu canal vem tendo nos últimos meses, como também esclarecemos dúvidas gerais.
Foto: Arquivo Pessoal
Luca, como funciona a transição?
Luca Scarpelli: A transição é um processo muito pessoal e profundo. Cada pessoa passa por um processo único de auto-descobrimento e aceitação. Depois que acontece a aceitação pessoal, a pessoa precisa decidir o que ela gostaria de fazer. Se quer passar pela terapia hormonal, se quer mudar o nome, se quer fazer alguma cirurgia. Cada uma dessas decisões são muito pessoais. Ser trans não quer dizer que precisamos passar por todas essas etapas. Ser trans é sobre se identificar com outro gênero que não aquele que foi designado quando nascemos.
De alguma forma afetou no seu ciclo social?
LS: No meu caso, o meu ciclo social não foi muito afetado no sentido pejorativo. Acho que as pessoas que estão à minha volta viram o quanto a transição me fez ficar mais feliz e mais confortável comigo mesmo. Então, a mudança foi positiva. Hoje eu sou mais próximo da minha família, que me aceita completamente. Sou mais próximo dos meus amigos, que também me aceitam, me defendem e me amam como eu realmente sou.
Qual foi o motivo primordial para você criar o canal?
LS: Porque eu senti que as pessoas que faziam parte do meu círculo social não entendiam nada sobre transição de gênero e sobre a realidade das pessoas trans. Mesmo que grande parte dessas pessoas façam parte da comunidade LGB(T), a realidade T era uma coisa muito distante. Então, eu comecei o canal com um intuito informativo para os meus amigos e familiares. Com o tempo ele foi tomando uma proporção maior.
Foto: Arquivo Pessoal
Como você encara a visibilidade que conseguiu? Acredita que ela se deve em maior parte por curiosidade ou por pessoas que pensam em fazer a transição?
LS: Acho que tem muito dos dois. Tem pessoas que lidam com a transição de um amigo, de um namorado ou namorada, de um filho, de um irmão. Tem pessoas que apenas se interessam pelo tema, mesmo não tendo ninguém próximo que esteja passando por esse processo. E, claro, tem as pessoas que questionam a sua própria identidade de gênero e vêem no Transdiário uma fonte de informação e de identificação do próprio processo.
Você através dos vídeos expõe sua vida pessoal a um público que pode ou não entender o conteúdo do seu canal. Como você lida com essa exposição?
LS: Eu encaro de uma maneira positiva. Até porque eu recebo muito mais feedbacks positivos e de encorajamento do que mensagens negativas. Acho que, com o tempo, a gente aprende a se importar menos com as coisas ruins e ver o lado positivo. Quantas pessoas podem ser ajudadas e quantas vidas podem ser transformadas por terem mais informação sobre o que é ser trans.
Foto: Arquivo Pessoal
O que você diria para as pessoas que estão pensando em fazer a transição?
LS: Eu diria para elas se aceitarem, se amarem e se orgulharem de quem são, mesmo que as vezes isso seja muito difícil. As pessoas trans são tão dignas, humanas e merecem ser respeitadas tanto quanto qualquer outra pessoa cis.