O Sesc Pinheiros recebe o espetáculo O Importado, solo do ator Odilon Esteves, concebido a partir do conto “O Importado Vermelho de Noé”, do escritor André Sant’Anna (escrito na década de 90). A peça, que estreia em São Paulo, acontece de 23 de maio a 15 de junho no Auditório, de quinta a sábado, às 20h30.
O Importado gira em torno de um jovem administrador, homem branco, bem-sucedido financeiramente, que dirige seu carro importado, às margens do rio Tietê, rumo ao aeroporto. A chuva faz piorar o trânsito, atrapalhando seus planos.
Nesse contexto, preso no trânsito, o personagem dispara seus pensamentos, sem os filtros da diplomacia ou da hipocrisia. E este homem revela-se, em seu íntimo, extremamente racista, meritocrata, machista e materialista.
O processo de criação por Odilon
Eu comecei esse processo querendo pesquisar a palavra “loucura”, nas suas várias acepções. Qual é o limiar que separa a sanidade da insanidade, o real da alucinação? Quanto a vida virtual nos aliena do mundo palpável? É mesmo irreal o que é fruto de nossa imaginação?
Depois esta palavra me levou aos seus sinônimos e antônimos. O que poderia ser o oposto de “loucura”? A “normalidade”, a “sanidade”, a “lucidez”? Foi aí que me lembrei deste conto do André Sant’Anna, cujo personagem/narrador é considerado, por uma parte imensa de nossa sociedade, a norma, o projeto de vida almejado, o caminho de uma vida exitosa. Esse personagem é um homem obcecado por dinheiro, por posição, por poder. E me pergunto: aderir plenamente a um projeto de vida cujo único fim é acumular bens, passando por cima do que quer que seja para atingir esse objetivo, atropelando si mesmo, os outros, a natureza… como é possível que isso seja considerado sanidade, normalidade, sensatez?
Esse texto me parecia, quinze anos atrás, uma alegoria do homem branco racista, privilegiado, meritocrata. Como se fosse preciso exagerá-lo, mostrá-lo com uma lupa, para que o víssemos dissecado. No entanto, nos últimos tempos, esse homem saiu da toca aos montes, explicitamente, está por toda parte, porque ele não é somente um homem. Ele é uma ideia, uma visão de mundo, um projeto de construção da sociedade. E esse ser humano estufa o peito para vangloriar-se daquilo que deveria ser considerado desumano.
Quando um processo de criação é iniciado, conhece-se o ponto de partida, mas aonde o processo vai levar, é uma incógnita. Esse personagem me causa reações que vão do ódio à pena, do asco ao medo, da irritação à prostração. Parece uma montanha-russa. A peça é só um mote para continuarmos a conversar sobre esses temas, porque não dá para fazer vista grossa a tudo o que esse personagem representa.
Serviço
O IMPORTADO
De 23 de maio até 15 de junho de 2019. Quinta a sábado, às 20h30
Local: Auditório (98 lugares)
Valores: R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 7,50 (credencial plena do Sesc trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Classificação: 16 anos
Duração: 60 minutos
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10 às 18h
Tel.: 11 3095.9400
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h30; Sábado, das 10h às 21h30; domingo e feriado, das 10h às 18h30. Taxas / veículos e motos: para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12 (credencial plena do Sesc) e R$ 18 (não credenciados).Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m
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