Por Douglas Sciarini
A arte imita a vida? Não. No cinema a arte imita a ação!
Foto: Divulgação
Há pouco menos de três anos, Dan Brown lançava o quarto livro de uma série com fórmula testada e aprovada pela Associação dos amantes de um grande mistério, misturando temas com apelo dogmático-religioso, literatura, teatro e uma dose de Indiana Jones dos tempos atuais, Inferno estava no mercado.
Agora, em 2016, estreou nas telonas a adaptação do livro, com roteiro feito por David Koepp, cabeça por detrás dos roteiros de Jurassic Park, Homens de Preto, Missão Impossível, Homem Aranha – e entre tantos outros, Indiana Jones.
Com isso, precisamos reconhecer que a indústria americana não joga leve quando o assunto é encher salas de cinema e tudo em torno dela. A indústria do entretenimento cinematográfico do Tio Sam já detém sua hegemonia desde os anos 1950 quando consolidou o seu modelo de narrativa dramática. Essa e outras tantas adaptações como Garota Exemplar (2014), A Garota do Trem (2016) e Como Eu Era Antes de Você (2016), sempre encheram os olhos de Hollywood, afinal, nada melhor do que apostar em uma narrativa que já foi aprovada pelo público.
Anos Dourados
Se hoje temos Inferno no cinema, deve-se a relação estreitíssima com anos dourados. Quer saber o porquê? Neste período, o cinema ganhou força no pós-guerra. Foi o meio pelo qual os EUA enviaram suas mensagens de capital intelectual e instituíram sua maneira de contar e narrar. Daí a necessidade de uma narrativa que agarrasse mais ao espectador.
Inferno
Com estreia em outubro de 2016, Inferno conta a nova saga de Robert Langdon (Tom Hanks), o professor especialista em Simbologia, que desperta desmemoriado em um hospital em Florença, aos cuidados de uma desconfiada médica, Sienna Brooks (Felicity Jones). Com a ajuda da sua nova “dinâmica”, Langdon recorre a ajuda do artista do século XIII Dante Alighieri para salvar o mundo de uma catástrofe patológica.
Todo esse primeiro desdobramento acontece nos primeiros minutos de filme, envolve o espectador em mais uma emocionante aventura com pitadas de aula de história. Esse é o tipo de força da ação fundamental no cinema.
Dan Brown possui um jeito peculiar de escrever seus livros. E esse é um ponto a se observar. A narrativa bem elipsada (não vamos entrar no quesito de qualidade de escrita e nem que sua mulher Blythe o ajuda nas pesquisas) é um ponto crucial que dá vida aos enigmas e aos seus enredos.
Se os leitores de entretenimento fácil se deliciam com estas tramas e o mesmo ocorrer com os espectadores dos filmes, porque tentamos comparar os dois meios? Afinal, como adaptar, fielmente, mais de 400 páginas, sem adaptar a história, para duas horas de película? O que torna livro e filme diferentes ajudam a defini-los. Vamos amarrar?
Técnicas
Um livro origina-se fundamentalmente da técnica Aristotélica Épica/Narrativa, ou seja, no contar. Um bom Best-Seller baseia-se no discurso e, como tal, possui técnicas específicas para fazer isso de forma a reter o leitor até o seu final.
Pense em J. R. R. Tolkien e em todas as técnicas que ele usou para descrever em seus livros um mundo que não existia. Inventou lugares, línguas, personagens e com tudo isso e muito mais, uma história. O Senhor dos Anéis e O Hobbit estão aí para comprovar (em livro e filme!).
Agora, quanto tempo você leva para ver um filme e ler um livro do Tolkien? Ou, se você leu o livro Inferno, quanto tempo levou a sua leitura? Agora pense no filme e a sua experiência. Há formas de equipará-las?
No cinema, tudo requer ação. A técnica matricial da criação de um roteiro diverge no conceito e na prática de um filme. Na narrativa Dramática, que é a técnica usada para escrever um roteiro, o acontecimento é criado para ser visto e por isso, diferentemente do livro, em alguns casos, encontramos divergências de escolha de enredo e de line action em relação ao livro.
Como lidar?
O leitor mais assíduo geralmente tende a usar o próprio livro como referência para um filme. Mas com isso em mente, tente pensar em nova maneira de se relacionar com este tipo de conteúdo. Busque um filme similar ao da história que vai assistir, conheça quem é o roteirista e seu modo de trabalhar. Isso dirá com 99% de chance de certeza como será o seu momento pipoca.
É comum vermos nos comerciais o nome do diretor e até dos produtores, mas vemos quase nada dos roteiristas. E no final das contas, se o diretor é o rosto, o roteirista é o esqueleto do filme. Diretor pai da estética, roteirista mãe do corpo.
Lembra que falamos que o enredo principal se desenhava nos primeiros minutos de filme? Essa é a técnica mais comum usada no cinema americano. Pode observar! Nos primeiros minutos do filme, o espectador mais atento já saberá que é o Protagonista, o Antagonista e o Coadjuvante. Além da “fatia de vida” em que o filme acontecerá.
A estrutura do cinema é muito diferente do livro neste aspecto. Por vezes, o leitor se decepciona com o fim, mas um bom filme tem 12 a 15 fins. São as cenas que levam ato a ato até o clímax. Não é uma tarefa fácil para qualquer script doctor.
Inferno é mais que um filme de ação e mistério, é mais uma obra estruturada dos modernos e ricos estúdios da Califórnia.
Quer realmente uma boa dica? Leia o livro e assista o filme. A ordem você escolhe. Fique à vontade para comparar, mas lembre-se sempre, filme é filme, livro é livro.