A Casa das Rosas, livro de estreia de Andréa Zamorano, conquistou crítica e público portugueses com trama que se passa em São Paulo, na época das Diretas Já.
Por Redação
Estamos na primeira metade da década de 1980, e o Brasil vive momentos de tensão e de expectativa. Enquanto a ditadura militar agoniza, a campanha pelas eleições diretas ganha força. Eulália está prestes a completar 18 anos, mas não pode experimentar os ventos de liberdade que começam a pedir passagem. É prisioneira na mansão onde vive, refém do autoritarismo e das excentricidades do pai, um político muito rico que reproduz, no cotidiano, a mentalidade arcaica das elites brasileiras. Há um segredo. A chegada de um vestido de noiva e de um animal que fala, a onipresença das rosas e a morte que parece à espreita, sempre. Há, sobretudo, o embate permanente entre duplos — a ebulição da metrópole e a asfixia do espaço doméstico, tirania e liberdade, amor e posse. Realidade e fantasia.
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Assim é a trama central de A Casa das Rosas, romance que tem sido aclamado em território português como uma original homenagem ao realismo mágico latino-americano. O livro é a estreia literária de Andréa Zamorano, carioca que vive em Portugal há 25 anos. Conhecida no cenário lisboeta por ser proprietária da rede de hamburguerias gourmet Café do Rio, a brasileira surpreendeu público e crítica portuguesa pelo vigor e pela dicção singular de sua narrativa, que veio a lume pela prestigiada editora Quetzal, em 2015, e ganhou o Prêmio Livro do Ano pela revista TimeOut Lisboa.
O romance também mistura referências reais a fatos ficcionais, marcas literárias e históricas. Na trama, Eulália e seu pai, Virgílio, vivem num imóvel que existe de verdade: a Casa das Rosas, na avenida Paulista, onde funciona atualmente o Centro Cultural Haroldo de Campos. Os personagens fictícios se articulam a fatos reais, como a passeata de abril de 1984, que saiu da Praça da Sé, maior manifestação popular da história do Brasil. Num dia de chuva, Eulália conhece o poeta Juan Garcia Madero — ninguém menos que o personagem de Os detetives selvagens, livro do chileno Roberto Bolaño.
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A casa das rosas é, sobretudo, um libelo contra a opressão. Uma narrativa que dá vida ao horror do autoritarismo velado, aos abusos cometidos no interior dos espaços domésticos. Uma história repleta de sensibilidade, que lança luz à força do feminino, coragem das mulheres que buscam ousadia e inspiração para encarar as tiranias de seu tempo.
O lançamento acontece em Paraty na FLIP 2017 (27/7), no Rio de Janeiro (01/08), Petrópolis (08/08), Londrina (13/08) e São Paulo (17/08).