Musical Lugar de Escuta debate o feminismo




Por Andréia Bueno


A mulher, o feminismo e a busca por lugares de fala, mas também de canto, de expressões e de reflexão sobre os desafios do nosso tempo. Um mergulho por esses temas é o que propõe o espetáculo Lugar de Escuta, que estreia no dia 21 de novembro no Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda (SP). Produção do Coletivo M.O.T.I.M (Mulheres Organizadas por um Teatro em Infinito Movimento) e da Arina Entretenimento, o musical tem em seu elenco somente mulheres, no total de oito atrizes, dirigidas por Fabiana Tolentino.
Foto: Victor Miranda

– O embrião da peça foi plantado em março desse ano, surgiu primeiro da minha necessidade de fazer algo com a minha insatisfação com o mercado de musicais no Brasil, que reforça a cultura dos perfis e estereótipos, das caixas, se você fez coro, você é para sempre coro. Poucos conseguem furar isso. Eu tinha acabado de sair do “2 Filhos de Francisco”, que foi uma experiência excelente artisticamente. Eu queria mais. Decidi morar em São Paulo e comecei a estruturar o que seria o M.O.T.I.M, esse grupo de estudo. Em um segundo momento chamei umas amigas-artistas que tinham pensamentos criativos parecidos e dia 4 de julho foi nossa primeira reunião. De lá para cá, estudamos de um tudo sobre feminismo e o papel da mulher na arte, coletamos e estudamos referências, livros. O grupo foi aumentando e veio a vontade de fazer algo mais material com esses assuntos. Sonhei com a estrutura dessa peça, inspirada por um parque da artista francesa Niki de Saint-Phalle e resolvemos nos arriscar – diz Fabiana Tolentino sobre o nascimento do M.O.T.I.M e sobre a criação de Lugar de Escuta.
Lugar de Escuta é um espetáculo que se adapta a cada apresentação. As cenas, com diversos lugares de fala, buscam trazer um panorama sobre as infinitas questões e percalços que ser mulher e feminista nos dias de hoje representa sem deixar de falar das delícias, por isso é também uma celebração. No total, são 22 cenas inspiradas pelos 22 arcanos maiores do tarô, porém somente oito delas serão apresentadas por sessão. Essas cenas serão selecionadas por um jogo de tarô com a seguinte pergunta: “Que peça de teatro a plateia de agora precisa assistir?” Sendo assim, a ausência de assuntos, de certa forma, também fala sobre eles.
Além da peça, haverá ainda espaço para exposição de obras de quatro artistas especialmente criadas para o espetáculo. Todas tem o trabalho ligado estritamente com o feminismo, transversalizando a comunicação, transmitindo sensações também de forma não verbal, incluindo e popularizando o acesso de jovens às artes plásticas e visuais. Serão dois painéis de 4 metros de altura, idealizados por Beatriz Ghidalevich, Jessica Factor, Natalia Cares e Amanda Falcão, esta última também terá outros trabalhos expostos pelo teatro.

Serviço

Lugar de Escuta
Teatro do Núcleo Experimental
Rua Barra Funda, 637 – São Paulo – SP
Temporada de 21 de novembro a 13 de dezembro
Dias: Quartas e Quintas às 21h
Ingressos: R$ 60 inteira / R$ 30 meia
Duração: Varia entre 1h e 1h20 dependendo das cenas sorteadas.
Classificação: livre
Gênero: livre
Lotação do teatro: 60 lugares 
Telefone: (11) 3259-0898

5 motivos para assistir ‘Urinal, o musical’




Por Walace Toledo
Fotos Divulgacao / Ronaldo Gutierrez

Espetáculo está em cartaz de sexta à segunda-feira no Teatro Núcleo Experimental

1 – Uma história bem ousada

Uma seca de duas décadas causa uma terrível falta de água, fazendo com que toda a atividade sanitária da população seja realizada em banheiros públicos, controlados por uma megacorporação ardilosa. Sim, este é o curioso mote narrativo de “Urinal, o musical”. Urinal, ou Urinetown do texto original, não é um nome bonito e atrativo, mas forte do jeito que faz as pessoas comprarem pra ver “qual é dessa peça?”. Pra não contar muito, deixamos só a conclusão: você se surpreenderá e voltará para casa questionando muito sobre o modo de vida atual. Obs: Saiba mais lendo nossa matéria da estreia do musical clicando aqui.
2 – Teatro

O espaço teatral do Núcleo Experimental é pequeno, são 56 lugares para plateia. A experiência de assistir um musical neste local é muito interessante porque o público é quase parte do cenário, dá a sensação de ser parte do elenco pela proximidade com os atores. 
3 – Autenticidade vocal

Quase acústico, sem vozes tratadas por recursos tecnológicos, ouvimos a crueza vocal do elenco. Essa autenticidade nos permite apreciar a qualidade do timbre de cada ator.

4 – $$$$$

Diferente das megaproduções com valores altos, o ingresso para “Urinal” custa R$ 40 a inteira, estudante paga R$ 20. Além disso, às sextas-feiras a entrada é gratuita! Vale lembrar que de sexta os ingressos são disputados e a fila costuma ser grande, portanto chegue cedo!

5 – Qualidade 

Ficamos mal-acostumados com megaproduções cheias de efeitos especiais, palcos mirabolantes, cenário imponentes. Esta montagem intimista de “Urinal” mostra que não é a gradiosidade que define a qualidade de um projeto. Um dos grandes musicais em cartaz no cenário paulistano. Imperdível!!


SERVIÇO

Local: Teatro Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637 – Barra Funda, São Paulo. Tel: 3259-0898. Capacidade 56 lugares.

Temporada: Até 6 de julho de 2015. 

Valores: R$ 40 (inteira) e R$20 (meia)

Horários: Sextas, Sábados e Segundas – às 21h. Domingos, às 19h.
OBS: Entrada gratuita às sextas-feiras, com ingressos distribuídos na bilheteria do teatro uma hora antes do início da sessão.

Duração: 1h50 min (+15 min. de intervalo)

Classificação: 10 anos

Comédia musical ‘Urinal’ estreia em São Paulo




Espetáculo da Broadway sobre escassez de água não poderia ser mais atual

Por Walace Toledo
Fotos e Vídeos Alana Calbente
E se uma seca de duas décadas causasse uma terrível falta de água, fazendo com que toda a atividade sanitária da população fosse realizada em banheiros públicos, controlados por uma megacorporação ardilosa?
Por esse mote discorre a história de “Urinal, o musical”. A montagem original estreou em Nova York em 2001, “Urinetown”, de Greg Kotis e Mark Hollmann, foi vencedora de três prêmios Tony. Sua versão brasileira entrou em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, em São Paulo, no último fim de semana. Dirigido por Zé Henrique de Paula, espetáculo reúne treze atores e cinco músicos no elenco.
A peça inicia com uma saudação de boas vindas do Policial (Daniel Costa), o narrador, assistido pela moradora de rua Garotinha (Luciana Ramanzini). De acordo com o que ambos relatam, a seca fez com que banheiros particulares se tornassem impensáveis. Para controlar o consumo de água, as pessoas devem pagar para usar essas dependências, administradas pela Companhia da Boa Urina (CBU), comandada pelo Patrãozinho (Roney Facchini). Há leis severas garantindo que o povo pague para fazer xixi, e se elas forem quebradas, o culpado é enviado para uma suposta colônia penal chamada Urinal, de onde os criminosos jamais retornam.


Diálogos entre o Policial e a Garotinha permeiam toda a trama, o tempo para e eles discutem tanto sobre a própria estrutura do musical, quanto os obstáculos enfrentados pelos personagens. A rotina do Bonitão (Caio Salay), funcionário da Conveniência Pública nº 9 é quebrada após a chegada da meiga Luz (Bruna Guerin), filha do Patrãozinho, à CBU. Amável e sempre orientando a todos que sigam o que o coração diz, a jovem conquista o Bonitão. Com o aumento da taxa de uso dos banheiros, ele segue o conselho da amada e dá início à revolução. 
  
(da esq. para dir.) Gabriel Malo (coreógrafo), Inês Aranha (preparadora de elenco), Fernanda Maia (diretora musical) e Zé Henrique (diretor) receberam a imprensa para coletiva na terça (31)
Há dez anos no papel, Zé Henrique e Fernanda decidiram colocar o musical em prática durante as últimas eleições, onde o assunto ‘crise hídrica’ veio à tona bem forte. “É como se a peça tivesse pedindo para ser montada (…) aliar crítica social, uma questão política muito séria, com uma forma teatral que é puro entretenimento. Urinal consegue fazer isso de uma maneira que nos interessou demais e muito instigante”, conta o diretor. Não foi preciso fazer nenhuma mudança na dramaturgia para aproximar da nossa realidade. A mera tradução da peça fez emergir o tema.
Embora seja um musical americano, quem em sua trajetória surgiu no circuito alternativo e depois foi levado à Broadway, ainda é considerado um espetáculo meio maldito, esquisito e marginal. Esse tratamento tem tudo a ver com a forma de construção, inspirado nos cabarés alemães do começo do século XX, de atmosfera sombria, pós-apocalíptica e distópica à la George Orwell e Aldous Huxley, de um encaminhamento da sociedade que deu errado.
Gabriel e Inês
Interessante apontar que os atores em cena não tinham experiência em musicais, assim como a preparadora Inês Aranha, acostumada com o teatro dramático. “Essa equipe que temos aqui são atores, não são bailarinos nem cantores. Eles sabem cantar e estão dançando. Meu trabalho foi fazer que os personagens cantassem e dançassem. Não tivemos grandes técnicas de ballet e dança, e sim entender que a partitura dançada é uma partitura de ações. A coreografia é uma extensão da própria atitude do personagem em necessidade de se expressar”, explica Inês, que elaborou os movimentos com o experiente Gabriel. Malo trouxe à equipe seu expertise de atuação em grandes musicais, como West Side Story e Hairspray, além de experiências no mercado internacional.
O espaço pequeno, o teatro possui plateia de 56 lugares, traz mais atenção às vozes do elenco. Segundo a diretora musical, o público está perdendo o hábito de ouvir vozes que não sejam tratadas por recursos tecnológicos, “a gente tá fazendo um musical quase acústico”. Esses elementos de crueza e autenticidade vocais combinam com aquilo que a peça propõe, que “é realmente revelar a qualidade do timbre de cada ator. Vocês ouvirão vozes mais metálicas, arranhadas, delicadas, e isso tem a ver com a identidade vocal individual, que está em consonância com aquele personagem”, completa Fernanda.
  
Nesta segunda cena, abertura do segundo ato, Luz foi sequestrada pelos rebeldes. Em seguida, o Bonitão chega ao esconderijo para acalmar os ânimos e não deixar que nada aconteça com sua amada.

A montagem do espetáculo pelo Núcleo Experimental põe em questão a atual infraestrutura do teatro musical no país. Ideia vinda da geração dos anos 2000, de Les Misérables, de que um musical da Broadway precisa de uma grande produção, com palco polivalente, orquestra gigante e cheio de recursos se mostra defasada. “Agora estamos num momento de maior conscientização, que ‘teatro é teatro’, ‘música é música’, e existem milhares de maneiras de fazer isso. Então, as pessoas estão mais interessadas, mesmo os jovens que pegaram essa geração de musical, a conhecer obras que não dependam de um cenário mudando magicamente, e simplesmente da história que tem a contar. É uma ótima fase, e eu acho Urinal um bom impulso; sim “podemos fazer um musical da Broadway de forma ‘alternativa’”, conclui Malo.
Características artesanais marcam a produção da montagem. Zé Henrique salienta que a grande maioria dos recursos materiais usados na peça (material de cenário, figurino e iluminação) foi reciclada de doações recebidas e acervo do grupo. O material recebeu tratamento adequado e foi customizado às necessidades da produção, gerando aproveitamento integral de recursos e mínima geração de resíduos durante sua execução.

Zé Henrique

Ainda integra o elenco Adriana Alencar, Bia Bologna, Fábio Redkowicz, Gerson Steves, Nábia Vilella, Paulo Marcos Brito, Thiago Carreira e Thiago Ledier. Além dos músicos Rafa Miranda (Piano), Clara Bastos e Pedro Macedo (Baixo), Rafael Heiss e Abner Paul (Bateria), Flávio Rubens (Clarinete e Saxofone) e Valdemar Santos Nevada e Evandro Bezerra (Trombone).
  
“Urinal, o musical” foi realizado pelo Núcleo Experimental com recursos provenientes do Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo.

Com presença de familiares, amigos, outros atores de musicais: Tiago Abravanel (Tim Maia) e Fabiano Nascimento (Rita Lee Mora ao Lado), e público em geral a estreia foi um sucesso. Não se engane, não é por ser uma comédia musical que é uma história feliz, já diz o Policial no primeiro ato. Garotinha e a caricata dupla policial rendem boas risadas, assim como a adorável Luz. Um espetáculo que surpreende e deixa os espectadores no caminho para casa pensando em muitas questões sobre o modo de vida insustentável da sociedade atual.


SERVIÇO


Local: Teatro Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637 – Barra Funda, São Paulo. Tel: 3259-0898. Capacidade 56 lugares.

Valores e Horários: R$ 40,00 (inteira) e R$20,00 (meia). Sextas, Sábados e Segundas, às 21h. Domingos, às 19h. Até 6 de julho de 2015. OBS: Entrada gratuita às sextas-feiras, com ingressos distribuídos na bilheteria do teatro uma hora antes do início da sessão.

Duração: 1h50 minutos (mais 15 minutos de intervalo).

Recomendação: 10 anos.