Com turnê comemorativa, Skank anuncia pausa


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Pense em um grupo brasileiro com carreira de sucesso contínuo por três décadas, premiada em absolutamente todos os 10 discos de estúdio que lançou, com hits no passado e presente e que, na atual turnê, lotou as maiores casas em todas as capitais por onde passou. A única resposta ao enigma é Skank. Só que obviedade não faz parte do dicionário do conjunto mineiro e, na esteira desse sucesso singular, o quarteto resolveu anunciar uma parada ao final de 2020.

É isso. Em meio a uma série de ondas aparentemente perfeitas, os músicos resolveram fazer uma pausa e irem para a praia testarem-se fora da única formação que conheceram desde que se juntaram para fazer um som em 1991. Não teve briga nem nada que pesasse para uma decisão figadal. Somente um desejo por experimentação, por correr riscos e buscar outras formas de realização sem ser como Skank.

Não precisa nem da decadência, nem da guerra para terminar alguma coisa”, diz sabiamente o vocalista e guitarrista Samuel Rosa.

É um grande desafio pessoal para cada um. Pode ser extremamente saudável nos reinventarmos, tentarmos coisas diferentes, ter esse espaço para liberdade criativa”, completa o tecladista Henrique Portugal.

No último ano, apenas em São Paulo, lotaram quatro das maiores casas de shows da cidade com a turnê “Os Três Primeiros”. Aconteceu o mesmo no Rio, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte. E a história se repetirá em 2020, quando em comemoração às três décadas de banda farão a turnê “30 Anos”, embalada por coletânea de 30 hits da carreira e uma canção inédita. Vai correr o Brasil todo e as datas serão anunciadas em janeiro, quando dão início ao desfile de sucessos que acumularam até agora.

Tomada de rumos inesperados não é algo esquisito à banda. Basta lembrar que explodiram nos anos 90 com uma mistura de dancehall, rock e música brasileira e na virada do milênio deram uma guinada para sonoridade mais retrô, influências de Beatles, Clube da Esquina e mantiveram a estatura como banda com “Maquinarama” e “Cosmotron”.

(Chegou a hora de) Cada um olhar para si. É hora de experimentarmos, ainda que demos com os burros n´água. Quero me testar fora do Skank, me ver em um círculo de músicos fora do que sempre transitamos. Há muito ainda a descobrir”, diz Samuel.

Nosso grande compromisso é com o público e no cuidado com a carreira. Não acreditamos que é preciso estar em baixa para dar uma parada, não precisa ser trágico, nem problemático”, endossa o clima amistoso na decisão o baixista Lelo Zaneti.

Claro que dentro de uma banda que, de tão grande, se tornou quase um patrimônio nacional, a parada causa um certo frio na barriga.

Quando parávamos era por seis meses. E ficávamos esses meses em estúdio para gravar um disco. Quando falei para pessoas próximas, a reação foi: ‘Até que enfim você vai descansar’. E quem disse que eu quero descansar?” (risos), afirma o baterista Haroldo Ferretti. “Mas o bom é inimigo do ótimo. Então vamos parar enquanto está bom pra cacete”, conclui.

Os quatro, mesmo sem combinarem, falam no timing estratégico de final de ciclo. “Mesmo que o Skank tenha tido mudanças dentro de sua estética até agora, certas coisas são impossíveis de mudar quando se trata de uma relação dos mesmos quatro indivíduos. Quem sabe se hoje individualmente não sejamos melhores do que coletivamente?”, questiona Samuel.

Henrique segue a mesma linha de raciocínio: “É legal ver nos shows atualmente uma nova geração, pessoas que conheceram a banda recentemente. É resultado de prezarmos pela qualidade e não pela quantidade. Dessa forma, conseguimos ter músicas conhecidas nas três décadas. Isso até hoje permitiu que não nos tornássemos covers de nós mesmos”.

Prova disso é que uma das músicas mais tocadas é o single recente “Algo Parecido“, que soma mais de 31 milhões de plays no Spotify e 12 milhões de views no Youtube. Que seja a senha para um próximo capítulo, que começa com a turnê e depois se divide em quatro.

Skank lança segundo EP do projeto Os Três Primeiros




A inédita “Algo Parecido”, primeiro single do novo projeto que contará ainda com mais uma canção inédita, está no Top 100 do Spotify Brasil




Por Andréia Bueno





Quando o Skank apresentou a master de “Calango” na gravadora, em 1994, ouviram de forma até simpática que o trabalho era bom, mas que não enxergavam nenhum hit no disco. “Mas que tudo bem, afinal sem hit o primeiro tinha sido disco de ouro”, diz Samuel Rosa. Agora é a hora de dar um corte e relacionar as músicas do EP 2, da coleção “Os Três Primeiros” (álbuns) gravado pelo Skank ao vivo no carioca Circo Voador.

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Vamos lá: “Pacato Cidadão”, “Jackie Tequila”, “Esmola”, “É Proibido Fumar”, “A Cerca”, “O Beijo e a Reza” e “Te Ver”. Conseguiu ler qualquer título de canção sem cantarolar um trecho da mesma? Pois é. Mas não foi tão simples assim. Na época, a gravadora ia lançar um tributo ao Roberto Carlos, a versão de Lulu Santos seria o primeiro single, mas caiu e, no lugar, encaixaram a versão dos mineiros de “É Proibido Fumar”. “Teve clipe, foi para as rádios, mas não virou do jeito que esperávamos”, diz Samuel. “Achei de verdade que o Skank estava fadado a nunca ter um hit”. Ouça o EP aqui: https://goo.gl/h1cgxB
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A lógica da gravadora até fazia sentido. As letras, mesmo as que se tornaram hinos, eram bem mais maduras do que a média. “C’est fini la utopia, mas a guerra todo dia/Dia a dia não” ou “E se não for, já foi/O bonde do desejo segue rumo/Caixa, bumbo e sexo/Saudade na rampa do mundo” são provas concretas disso. Até que foram trabalhar “Te Ver”. “Essa foi a que unificou o cinturão”, conta Samuel em alusão ao boxe. “Foi o primeiro hit de verdade e abriu a porteira para as outras”. A um ponto em que dá para dizer que foi formada ali a Skankmania – a época de febre doentia pela banda, que alçou à vendagem milionária de “Calango”.
O grupo continuava fiel às questões sociais, muito baseado no modelo two-tone inglês, em que uma geração mesclou ska ao punk nos 70 para demolir preconceito e criticar sonoramente o abuso político. E fiel ao dancehall meets música brasileira, mas agora mais maduro. “Maturidade que não necessariamente equivale a popularidade”, pondera Samuel. No caso, reverteu em popularidade, em época em que o rock nacional se encontrava num beco mal iluminado. O Cidade Negra lançou na mesma época “Sobre Todas as Forças” e os dois trabalhos viraram a cartilha do pop rock brasileiro na metade dos 90. “O Calango é o aperfeiçoamento do primeiro álbum, com as regalias de se estar numa (gravadora) major (Sony), com mais dinheiro para divulgação, clipes, e se aproxima de onde a banda queria chegar”. Na real, não só chegou como ultrapassou o objetivo. Concordam?