‘Real Beleza’ estreia amanhã nas telonas




Drama romântico do cineasta Jorge Furtado reúne pela primeira vez no cinema o casal Adriana Esteves e Vladimir Brichta. Longa aborda o conceito multifacetado do belo.
Por Walace Toledo
Tito Liberato, Francisco Cuoco, Adriana Esteves, Jorge Furtado, Vladimir Brichta e Nora Goulart participam da coletiva de imprensa em São Paulo / Crédito: André Araújo
“As belezas do Brasil não vêm do Rio” – Esta manchete em um jornal inglês despertou o interesse do roteirista e diretor Jorge Furtado (Ilha das Flores/O Homem Que Copiava) há alguns anos; a reportagem abordava o mundo dos scouters (profissionais que buscam novas modelos) que procuravam pelo sul do Brasil candidatas com potencial para as passarelas. A partir desta notícia João desenvolveu a trama, não somente beleza física, mas sobre o belo em suas diversas formas. O filme foi gravado em 2013 com locações em Garibaldi, Porto Alegre e Três Coroas (RS). Real Beleza estreia dia 06 de agosto nos cinemas.

Na coletiva realizada na última terça-feira (28/07) em um hotel de São Paulo, Jorge Furtado; os atores Adriana Esteves, Vladimir Brichta, Francisco Cuoco e Vitória Strada; Tito Liberato da distribuidora Elo Company e a produtora Nora Goulart da Casa de Cinema de Porto Alegre conversaram com a imprensa sobre o longa-metragem. Devido ao atraso com o voo POA-SP, Vitória só participou das exclusivas pós-coletiva.

“O filme é uma investigação sobre a beleza. Talvez já tivesse na minha cabeça desde Saneamento Básico (2007) com a frase final de Dostoiévski – ‘A beleza salvará o mundo.’ – eu acredito nisso, a beleza transforma o mundo, podemos não saber definir, mas a gente reconhece”, explica o diretor. Nesta “road trip sem sair do lugar”, como define Furtado, o personagem de Vladimir Brichta “vai descobrindo a beleza do amor, do encontro, da doação, do gesto, da memória, da palavra…”.

João (Vladimir Brichta) é um fotógrafo famoso passando por uma crise, com seu olhar saturado não consegue mais enxergar o belo. Em meio às suas inquietações, João parte ao sul do país como scouter à procura de uma new face (rosto novo/nova modelo). Após excursionar por várias cidades do interior do Rio Grande Do Sul ele encontra Maria (Vitória Strada), uma adolescente de rara beleza, porém para levá-la embora João deverá convencer o irredutível Pedro (Francisco Cuoco) a assinar o contrato que permite a filha viajar para cumprir os trabalhos. Com um só pensamento João e Maria veem um no outro a esperança, ele de se reerguer profissionalmente e ela de sair da inóspita cidade. O fotógrafo só não contava se encantar por Anita (Adriana Esteves), mãe da sua escolhida, uma mulher casada com um homem bem mais velho e debilitado. Durante os dias que passam esperando Pedro e Maria voltarem de viagem médica, Anita e João se aproximam intimamente.

Anita tem sua rotina abalada com a chegada de João. Desejos adormecidos são aflorados, colocando a pacata mãe de Maria no velho dilema da paixão repentina e os votos do casamento. Rapidamente envolvida, ela se entrega ao forasteiro que conhece o mundo visto nos livros espalhados pela casa. Ao contrário da figura viril que a mãe se interessa, Maria vê em João um homem de poder, a única oportunidade de sair das asas dos pais e desbravar o mundo como modelo. No decorrer da trama a adolescente cresce mostrando-se decidida em suas escolhas.

Sem laboratório, a construção do personagem cego Pedro foi “fruto de uma observação ao longo da vida (…) não tem fórmula, interpretar é um acerto e grandes erros”, diz Francisco Cuoco. Pedro é um senhor idoso que se vê perdendo as três coisas mais importantes da sua vida: filha, esposa e memória. Carrancudo à primeira vista, é nítido o pesar que a idade lhe traz. A biblioteca é seu conforto, pela deficiência visual agora é Anita que lê o livros para ele; outrora Pedro que a encantava declamando-lhe poesias.

Divulgação
Real Beleza marca o primeiro encontro de Adriana Esteves e Vladimir Brichta no cinema. Jorge Furtado ligou na residência do casal num final de semana e os convidou para o elenco. Adriana estava de férias (pós-Avenida Brasil) e não havia interesse em voltar às telas tão cedo; entretanto, fã confessa do diretor, a atriz não pensou muito “nem tinha lido o roteiro e já topei! (risos)”. Afinidade dentro e fora de cena, ambos trocam elogios sobre os trabalhos realizados juntos, porém na hora de passar o texto preferem estudar separados. Com o fim de Babilônia este mês, Adriana adiará suas férias novamente e engata mais um desafio cinematográfico. Em setembro começa a rodar o próximo filme do diretor Caio Sóh.

REALIDADE DENTRO DA FICÇÃO

A procura por um novo rosto não foi somente do fotógrafo João. A produção do longa publicou anúncio no jornal local chamando meninas para seleção da personagem Maria. Em estilo documentário, os testes de vídeo mostrados durante a primeira metade de Real Beleza são reais. Apareceram 350 meninas na audição, 40 foram selecionadas e posteriormente 10 ficaram para os testes finais. 

Vitória Strada, na época com 16 anos, ganhou o papel. A vida da jovem porto-alegrense se encontra em alguns pontos com a de Maria. Modelo desde os 12 anos, Vitória passou pelo mesmo dilema “trabalho x estudo” com os pais, e também escondeu do pai a ida à seleção do filme, “ia falar só quando tivesse tudo certo” conta a estreante nos bastidores.

CONFIRA O TESTE DE VÍDEO DE VITÓRIA STRADA

O QUE É A REAL BELEZA?
Um questionamento contínuo de séculos, por vezes intangível e bem subjetivo. Há tempos a humanidade impõe seus padrões, dizendo o que é belo e o que não é. Real Beleza entrega sutilmente ao público diversas formas de belezas em sua história. Da fotografia através das paisagens gaúchas ao olhar cheio de empatia entre um casal que compartilha o amor por muitos anos. Das belas garotas em busca de um sonho à citação de um poema de Guimarães Rosa.

“A beleza é o que te comove” resume Jorge Furtado. O diretor vai além da simples sinopse do cara procurando uma nova musa, este é só o pano de fundo, o gancho para contar uma história de recomeços, desejos e amor. E na ideia passada, como em todas suas produções, o cineasta espera que o público saia do cinema com uma mensagem mais duradoura na ida para casa, que seja transformadora como a arte deve ser.