Como é ser um roteirista de Cinema?




Por colaborador: Lucas Damasio

Escrever um roteiro para filme é moleza. Todos sabem a receita para criar o sucesso do próximo verão. Primeiro você vai até o bar mais perto, que seja movimentado, mas não ordinário. Afinal, classe é importante! Sente-se em uma mesa isolada no canto, meio na penumbra, e fique observando o mundo a sua volta, em silêncio e fumando um cigarro (mesmo que não seja fumante). Tome também alguma bebida, de preferência destilada e mais amarga que o inferno. A ideia vai encontrá-lo lá pelas duas da manhã. Em seguida, é só ir para casa e abrir o notebook. Antes de começar a escrever, é importante olhar para a página em branco do Word por alguns minutos com os pés sobre a mesa, sentado em uma boa cadeira reclinável para rolar aquele balanço mágico que embala a inspiração. É, com certeza, assim que Tarantino começa um trabalho novo. Depois é só deixar as mãos caírem sobre o teclado e pronto. No dia seguinte, chame seu agente – ou contrate um, porque agora você é um roteirista profissional – e assine o contrato para o estrelato.

Foto: Divulgação

Seria mágico se não fosse uma ilusão infantil e exacerbadamente boêmia do que é realmente ser um roteirista.

A parte da ideia até pode ser mais ou menos assim, se você tiver a sorte de poder escrever sem o compromisso de ter um assunto já estabelecido para trabalhar. Ideias não escolhem hora, lugar e nem atividade. Ela vem e vai sem controle. Mas a partir daí, o trabalho engrossa e toda romantização que existe sobre a figura do roteirista não aguenta nem a primeira hora de trabalho. O substantivo feminino inspiração praticamente não é usado, dando lugar à transpiração, outro substantivo feminino de odor questionável. São reuniões, aprovações escrever, reescrever, reescrever de novo, revisar, ajustar, reescrever, cortar, analisar, questionar, ler, reescrever, criar, processar, ter bloqueio criativo, pesquisar, conversar, escrever e reescrever. Tudo isso umas duas ou três vezes se você tiver sorte.

Mas por que existem tantas pessoas tentando serem roteiristas, se a ilusão do glamour é apenas uma fina camada de gelo? Só posso imaginar que a resposta para essa pergunta seja: “pelo encantamento que uma história bem contada pode proporcionar”. Criar algo com o poder de mexer com outra pessoa é com projetar a própria alma para os olhos do mundo, e poder mostrar-se como você é e como vê as coisas que o cercam. Há algo mais valioso e sedutor do que a possibilidade de expor o seu mais intimo segredo e dividi-lo com as outras pessoas?