Adeus, Velho Chico!




Por Filipe Pavão

“Adeus, Velho Chico/Diz o povo nas margens.” Ao som de Maria Bethânia, o telespectador pode se despedir com muita emoção da novela de Benedito Ruy Barbosa e do ator Domingos Montagner, falecido no dia 15 de setembro nas águas do Rio São Francisco em um momento de folga das gravações.

Foto: Divulgação

Com narrativa diferenciada, a novela fugiu do eixo Rio – São Paulo e nos levou ao nordeste do nosso país. Assim, podemos conhecer a fictícia cidade de Grotas do São Francisco, abençoada pelo misterioso Rio São Francisco. Através da rixa familiar que envolvia o romance de Maria Tereza (Camila Pitanga) e Santo dos Anjos (Domingos Montagner), a realidade de muitas cidades do Nordeste foi levada a casa de todos os brasileiros. O grande controle dos coronéis e o conservadorismo político estiveram presentes no enredo, como a necessidade de se discutir a produção orgânica de alimentos e a democracia brasileira. 

Apesar de um início um pouco confuso e baixos índices de audiência, a produção de Velho Chico não se rendeu à procura incessante por Ibope e continuou a contar sua história de uma forma diferente das demais novelas exibidas nos últimos anos. Seja pela narrativa ousada ou excelente fotografia, mas também por cumprir seu papel social de denúncia das condições de vida das pessoas que vivem na região. Foi assim que Velho Chico se desenvolveu ao longo de seis meses, contou uma história de amor sem deixar de lado as críticas sociais. Pode-se dizer que o folhetim presenteou todos os telespectadores assíduos com uma qualidade ímpar.

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A novela não será lembrada somente pela morte do seu protagonista, mas também por cenas emocionantes, que foram muito bem realizadas através de uma sutileza única. Nos últimos capítulos, utilizou-se a câmera subjetiva para suprir a ausência do Domingos, ou melhor, para mostrar que o seu trabalho e sua alma ainda estavam presentes nesse personagem que foi muito bem construído por ele. Assim, em algumas cenas, nós vimos pelos olhos do próprio Santo dos Anjos. E na última cena da trama, mostrou-se o próprio ator sobre um barco no Rio São Francisco, onde o seu personagem via o Gaiola Encantado, barco fantasma que leva a alma das pessoas mortas segundo uma lenda. Essa foi uma pequena e sutil, mas linda homenagem feita ao ator ao som de Maria Bethânia cantando “Francisco, Francisco”.

Outras cenas também chamaram atenção pela qualidade e brilhantismo dos autores Benedito Ruy Barbosa, Edmara Barbosa e Bruno Luperi e do diretor Luiz Fernando Carvalho, como o casamento entre Santo e Tereza e a chuva no sertão. Sim, a novela fez uma lágrima cair do olhar da imagem de Nossa Senhora e chover no sertão. Isso foi possível devido à entrega de grandes atores escalados para o folhetim, como: Antônio Fagundes, Christiane Torloni, Selma Egrei, Dira Paes, Marcos Palmeira, Carlos Vereza, Luci Pereira, Gabriel Leone e um grande elenco. A trilha sonora também foi um espetáculo a parte e não só por ter Mariene de Castro e Lucy Alves cantando em alguns momentos da trama, mas também por ter Caetano Veloso, Tom Zé, Alceu Valença, Gal Costa e outros grandes nomes da nossa música.

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Velho Chico será lembrada pelo conjunto da obra. Narrativa singular, ritmo diferenciado, fotografia, seu cunho social, além de personagens bem escritos e compostos. A novela superou as dificuldades encontradas pelo caminho assim como a população de Grotas do São Francisco. 

Morre aos 75 anos o ator Umberto Magnani




Por Leina Mara

O ator Umberto Magnani, de 75 anos, morreu nesta quarta-feira (27), no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde segunda após ter tido um acidente vasculhar durante as gravações da novela Velho Chico, na Globo, na qual interpretava o Padre Romão.

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Com grande trajetória no teatro, televisão e cinema, Magnani interpretou grandes personagens em novelas como “Mulheres de Areia” (primeira versão exibida na extinta TV Tupi), “Felicidade”, “Cabocla”, “Alma Gêmea”, “Mulheres Apaixonadas” entre outros, além de ter participado de minisséries como “Presença de Anita”. 

Umberto Magnani além de atuar, produziu muitos espetáculos. Ele foi diretor da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (APETESP), entre os anos de 1972 e 1988; diretor regional em São Paulo da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen), do Ministério da Cultura de 1977 a 1990; presidente da Comissão de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 1985; membro da Comissão de Reconhecimento dos Cursos de Artes Cênicas em São Paulo do Ministério da Educação (MEC), em 1987 e 1988; membro do Conselho Diretor do Laboratório Cênico de Campinas, da Prefeitura Municipal de Campinas em 1988 e 1989; coordenador das oficinas de Teatro Comunitário do Programa Universidade Solidária de 1996 e 1999. Foi Secretário da Cultura e Turismo em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, nos anos de 2001 e 2002. 

Em relação a novela “Velho Chico”, em seu lugar assumirá o ator Carlos Vereza. O enterro de Umberto Magnani será na quinta-feira, às 14h, no Cemitério Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo.