10 motivos para não perder a exposição inédita de Paul Klee no CCBB
Sucesso desde o primeiro dia da abertura, em 13 de fevereiro, Paul Klee – Equilíbrio Instável tem lotado as salas do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Até o momento, o espaço já recebeu 67.710 visitantes. A exposição reúne obras do acervo do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suíça, cujo prédio é desenhado pelo arquiteto italiano Renzo Piano (Pritzker Prizer, em 1998). A instituição é responsável por zelar pelo trabalho do suíço e reúne mais de 4 mil obras produzidas pelo artista.
A vinda dos 120 trabalhos de Klee ao Brasil é patrocinada pelo Banco do Brasil e pela BB Seguros. Tem ainda o apoio da Cateno. A organização e produção do projeto é da Expomus, por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. A exposição faz parte de um programa encampado pelo CCBB e que dá acesso ao público brasileiro, de forma gratuita e altamente qualificada, a grandes acervos e coleções de arte nacionais e internacionais.
Entenda porque a retrospectiva inédita do artista suíço no Brasil é um programa obrigatório para quem busca entender as origens dos movimentos contemporâneos na arte dos séculos XIX e XX.
1.Raríssima oportunidade de ver a obra de Paul Klee no Brasil
Além da retrospectiva com 123 obras que está sendo exibida gratuitamente no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo e depois segue para Rio e Belo Horizonte, a obra de Paul Klee esteve no Brasil em raríssimas oportunidades. Na 2ª Bienal de São Paulo, em 1953, o mesmo ano em que “Guernica” (1937), de Pablo Picasso (1881-1973) foi vista por aqui, Klee fez parte de uma das representações estrangeiras mais famosas da história.
A exposição foi um marco histórico mundial pela numerosa seleção de artistas estrangeiros, entre eles, o fundador da escola alemã Bauhaus, Walter Gropius (1883-1969), o holandês Piet Mondrian (1872-1944) e o americano Alexander Calder (1898-1976) além de uma sala inteiramente dedicada a 69 obras do ícone expressionista Edvard Munch (1863-1944). A representação francesa no evento proporcionou ao público brasileiro o contato com obras dos protagonistas do cubismo, Pablo Picasso e Georges Braque (1882-1963), além de Robert Delaunay (1885-1941) e Marcel Duchamp (1887-1964). A delegação italiana, por sua vez, destacou-se pela seleção de seus principais artistas futuristas, entre eles, Giorgio Morandi (1890-1964).
2. Professor na Bauhaus
Enquanto Paul Klee se consolidava na cena artística na década de 20 com exposições e livros sobre seus trabalhos, o suíço buscou empregos em escolas de arte a fim de estabilizar sua situação financeira. Depois de tentar, em vão, uma vaga na Academia de Stuttgart, o artista foi convidado a lecionar por Walter Gropius, criador da recém-aberta Bauhaus, em Weimar, na Alemanha. A Bauhaus tinha como objetivo eliminar a separação entre as disciplinas artísticas ao se voltar para o artesanato e criar, por meio de um design exemplar, novos objetos e espaços para uma sociedade futura mais humana e socialmente mais justa.
Klee era inexperiente como professor e em suas primeiras aulas passou de costas pela porta e sem olhar para os alunos, se virou para a lousa e começou a desenhar e falar. No primeiro semestre de 1921, ele ministrou “Prática de composição”, tema em que podia abordar questões sobre composição da imagem e dos elementos pictóricos a partir de seus próprios trabalhos. Com o tempo, passou a preparar suas aulas minuciosamente.
Seu curso de teoria da forma era obrigatório no ciclo básico, ao lado do curso sobre cores de Wassily Kandinsky (1866-1944) e do curso introdutório de Johannes Itten, mais tarde ministrado por Josef Albers (1888-1976).
3. “Riscado da lista”
Na década de 30, Paul Klee aceitou um convite da Academia de Artes de Düsseldorf para trabalhar em um ateliê na cidade. Dada a situação política efervescente, o artista foi atacado pelo jornal do partido nazista chamado Rote Erde, que o acusou de ser judeu na Galícia e teve a sua casa revistada. Em abril de 1933, ele foi dispensado de suas atividades na Academia para alguns meses depois fugir para Berna com a esposa Lily e o gato Bimbo.
Neste mesmo ano, pinta a tela “Riscado da Lista”, um rosto desfigurado com um X, o que expressa seu total descontentamento com a situação que vivia. Em 1937, participa da exposição “Arte Degenerada”, em que foram reunidos 650 trabalhos de arte moderna que tinham sido anteriormente confiscados de museus, classificados como “arte decadente judaica” e “monstruosidades da loucura, do atrevimento, da incapacidade e da degeneração”.
4. Paixão pelas cores em viagem à Tunísia
Depois de visitar Paris no início da década de 10 e conhecer Wassily Kandinsky e Franz Marc, do Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), do qual ele fez parte ao integrar uma mostra do grupo, Paul Klee viajou para a Tunísia, na África, em 1914. Junto com amigos – o suíço Louis Moilliet (1880-1962) e o alemão August Macke (1887-1962) -, o artista provoca uma grande transformação em sua produção e o desenvolvimento em direção ao campo de cor foi incrementado.
Em suas aquarelas, muitas produzidas localmente, o artista se concentrava em temas de paisagem e da arquitetura. Ele chamou os trabalhos, sob a luz ofuscante da África, de um instante de iluminação artística. “A cor me possui. Não preciso buscá-la. Ela me possui para sempre, sei disso. Eis o significado da hora da felicidade: eu e a cor somos um. Sou pintor”, diz.
5. O fascínio provocado por “Angelus Novus”
Admirador do trabalho de Paul Klee desde a década de 10, o filósofo Walter Benjamin (1892-1940) ganhou de sua mulher Dora, em 1920, a pintura “Vorführung des Wunders” (“A apresentação do milagre”, 1916). Alguns anos depois, Benjamin compra do galerista Hans Goltz, por 1000 francos, a obra “Angelus Novus”. O nome do desenho aquarelado (o original se encontra em Jerusalém) batiza a revista de crítica que ele pretendia dirigir em 1921. Desde então, o anjo será evocado regularmente em seus escritos e cartas.
O anjo recebe atenção especial depois que Benjamin o adquire. Em 1933, quando foi necessário se exilar, por conta da ascensão do nazismo, separa-se dele pela primeira vez. Em 1935, uma amiga o leva a seu encontro em Paris. Perseguido, tira o desenho da moldura e o coloca numa valise juntos aos escritos que queria salvar. Deixa textos e “Angelus Novus” com o escritor e filósofo Georges Bataille (1897-1962), que esconde o material até o final da Segunda Guerra Mundial. Com o suicídio de Benjamin em 1940, a obra é alvo de disputas até encontrar sua morada definitiva em Jerusalém, em 1972. Um fac-símile da obra “Angelus Novus” faz parte do acervo de mais de 120 obras que desembarcaram no Brasil para a exposição Paul Klee – Equilíbrio Instável.
6. A derradeira obra
A última fase criativa de Paul Klee foi marcada pelo seu estado de saúde muito precário. No final de 1935, o artista foi acometido pela esclerodermia, doença autoimune rara, que endurece os tecidos conjuntivos, a pele e os órgãos internos. Apesar disso, nos seus últimos anos de vida, produziu mais de 1.200 trabalhos. A derradeira obra foi pintada em 1940 e encontrada em seu cavalete sem ter sido nomeada – não deu tempo. Klee batizou todas as suas obras. Muitas vezes a relação entre o título e a imagem gera uma leitura irônica. O artista se considerava observador e seus títulos eram uma tentativa interpretativa do que estava sendo ou o que já havia sido produzido.
A obra sem título é uma síntese do trabalho do artista moderno, que nunca se enquadrou em nenhum movimento artístico: a tela apresenta traços do cubismo, do surrealismo, do abstracionismo e também do expressionismo. Disposta na ala das últimas obras produzidas pelo suíço, o óleo sobre tela mede 1m por 80,5 cm.
7. Os fantoches e a paixão por teatro
Paul Klee era fascinado pelo mundo do teatro e da ópera e frequentava espetáculos e apresentações circenses com regularidade. O universo das personagens o interessava e como observador atento, ele se divertia registrando criticamente as poses das pessoas ao seu redor, traduzindo-as para a linguagem visual das expressões faciais.
Entre 1915 e 1925, o artista produziu fantoches para o filho Felix Klee. Alguns correspondiam às personagens tradicionais do teatro popular de bonecos e outros eram inventados. Ele criava as cabeças e as roupas a partir de restos de tecidos velhos e materiais simples que ele encontrava em casa, como carreteis de linha, tomadas e ossos de boi fervidos. Deixava para o filho a tarefa de manipular os objetos, que entretinha a família e amigos com seu talento cômico. Mais tarde, Felix se tornaria diretor de ópera.
8. A música clássica como trilha sonora da vida
Paul Klee tocou violino. Criado em um ambiente em que a cultura fazia parte do cotidiano da família – o artista vivia cercado por estímulos. A avó materna despertou seu prazer pelo desenho. Ao mesmo tempo, o pai Hans Klee dava aulas de piano e órgão, além de canto e violino. Ao final do período escolar, não foi fácil para o jovem escolher sua profissão. Particularmente, ele pendia para a música, mas receava não ter o virtuosismo necessário para ser violinista.
Em uma das salas da exposição Paul Klee – Equilíbrio Instável, vê-se uma foto do jovem Klee tocando violino com outros músicos e a sala é sonorizada aos suaves acordes de Johann Sebastian Bach (1685-1750), Giuseppe Tartini (1692-1770), Joseph Haydn (1732-1809), Wolfgang Amadeus Mozart ( 1756-1791), Ludwig van Beethoven (1770-1827), Franz Schubert ( 1797-1828) e Max Reger (1873-1916).
9. Desenhos de infância
A avó Anna Catharina Rosina Frick despertou muito cedo em Paul Klee o prazer de desenhar e preservou o uso da mão esquerda pelo neto. Posteriormente, o artista definiu estes seus primeiros desenhos como ilustrações de cenas e contos fantásticos. Já adulto, em 1911, o artista decidiu organizar os seus trabalhos na forma de um catálogo manuscrito de obras, que abrangia retrospectivamente aquelas que correspondiam a suas exigências artísticas. Ele reconheceu em seus desenhos de infância – assim como em registros visuais arcaicos – uma naturalidade da expressão pictórica e da redução ao essencial que ele almejou em sua criação artística. Ciente disso, incluiu alguns destes desenhos de infância no seu catálogo de obras.
10. Quando o papel é a estrela do acervo
Paul Klee era um desenhista extremamente talentoso, que permaneceu fiel ao seu lema “nulla dies sine liena” (nenhum dia sem linha) durante a vida inteira. Cerca de 80% do que produziu foi registrado em papel e a mostra Paul Klee – Equilíbrio Instável apresenta uma grande quantidade de desenhos feitos pelo artista. Na seção Anjos, da mostra, há uma grande quantidade de exemplares de obras desenhadas. Em seus mundos imagéticos representados em múltiplas camadas, ele combinava diversas esferas de realidade e abstração. Dessa maneira, ele ampliava seu imaginário, abrigando também os mais diferentes tipos de criaturas. Desde 1920, o tema do anjo — figuras celestes aladas, de formas antropomórficas — aparece repetidas vezes em sua obra.
A partir de 1938, ele criou uma série avulsa de mais de 40 representações de anjos. Neles, o artista sobrepunha traços humanos e sobre-humanos, definindo-os nos títulos como inacabados, feios ou esquecidos. Nesse campo de transição existencial entre o humano e o sobrenatural, o estado angelical completo ainda não havia sido alcançado.
Serviço
Paul Klee – Equilíbrio Instável | Centro Cultural Banco do Brasil
Curadoria: Fabienne Eggelhöfer
CCBB São Paulo: 13/02/2019 a 29/04/2019
CCBB Rio de Janeiro: 15/05/2019 a 12/08/2019
CCBB Belo Horizonte: 28/08/2019 a 18/11/2019
Entrada gratuita.
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro, São Paulo, SP
Acesso ao calçadão pela estação São Bento do Metrô
(11) 3113-3651/3652 | Todos os dias, das 9h às 21h, exceto às terças
Acesso e facilidades para pessoas com deficiência | Ar-condicionado | Cafeteria e restaurante | Loja
Estacionamento conveniado: Estapar – Rua Santo Amaro, 272
Valor: R$ 15 pelo período de 5 horas (é necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB)
Traslado gratuito até o CCBB. No trajeto de volta, a van tem parada na estação República do Metrô.
Exposição para estimular a verve de seu filho de seis anos, dizendo a ele “Olha, ele pinta e desenha igualzinho a você”. O menino ficará radiante.