O Tempo Mata – Imagem em movimento na Julia Stoschek Collection

Exposição no Sesc Avenida Paulista, em parceria com Julia Stoschek Collection, reúne raro conjunto de filmes e vídeos produzidos por nomes consagrados


Créditos: Divulgação


O espaço Arte I, localizado no 5º andar da Unidade, exibe obras selecionadas de uma das mais importantes coleções globais de arte temporal iniciada em 2007 pela colecionadora que lhe dá nome e sediada em Berlim e Dusseldorf, na Alemanha. Com curadoria de Rodrigo Moura, a exposição e uma programação integrada de exibições reúnem trabalhos de 17 artistas, em filmes e vídeos, cobrindo mais de seis décadas de produção audiovisual, um panorama dos mais representativos desde que o suporte se insere como linguagem contundente no circuito da arte contemporânea. A mostra, com abertura para o público no dia 21 de março, terá duração de três meses.

Raça, cultura visual, identidade de gênero, o papel de artistas na sociedade e a circulação de imagens nos meios de comunicação são os temas que percorrem os trabalhos. Desta última questão surgiu o título da exposição, “O Tempo Mata” (Time Kills), extraído de uma das frases veiculadas por Chris Burden (Boston, 1946 – Canyon, EUA, 2015), em um de seus vídeos (1973-1977) que fazem parte de uma série de inserções comerciais criadas pelo artista e transmitidas em canais de televisão aberta, segundo ele para quebrar a hegemonia das emissoras e ao mesmo tempo fazer com que a arte alcançasse um público maior que o das instituições. Como aponta o curador, trata-se de um truísmo, uma frase que declara uma verdade incontestável, o tempo mata simplesmente porque ele passa, mas ainda assim a sentença serve para ativar outros sentidos no contexto da exposição. “Time-based art termo traduzido livremente aqui como ‘arte temporal’ são os trabalhos de arte produzidos em vídeo, filme, áudio ou tecnologias computadorizadas e que se apresentam ao espectador no tempo, tendo como dimensão principal a duração, e não o espaço”.

Na primeira parte da exposição, três salas do quinto andar apresentam três grandes instalações imersivas dos artistas Arthur Jafa (Tupelo, EUA, 1960 – vive em Los Angeles), Rachel Rose (Nova York, 1986 – vive em Nova York) e Monica Bonvicini (Veneza, 1965 – vive em Berlim).

Créditos: Divulgação

Jafa, segundo o curador, compõe uma colagem épica em torno da visualidade da cultura afro-estadunidense. O artista tem no cinema a origem de sua prática, já tendo colaborado como diretor de fotografia com os cineastas Spike Lee e Stanley Kubrick. Em APEX, 2013, compara a sua obra a um projeto utópico, relacionado ao Monumento a Terceira Internacional, de Tatlin, que nunca foi construído. Rose, artista que participou da 32ª Bienal Internacional de São Paulo, em Palisades in Palisades (Palisades em Palisades), 2014, visita seguidamente o parque Palisades, em Nova Jersey, fundado no século 19, como locação para o seu vídeo, onde desvela diferentes aspectos de sua história geológica e social. Bonvicini cria uma dupla projeção coreografada que articula noções como gênero e nostalgia em Destroy She Said (Destruir, diz ela), 1998 cujo título se refere ao filme e ao livro homônimo da escritora francesa Marguerite Duras.

Em torno desses espaços, nas áreas de circulação, outras obras estabelecem novas relações entre si. “Dois registros de performance dos anos 1970, de Eleanor Antin (Nova York, 1935 – vive em San Diego) e Hannah Wilke (Nova York, 1940 – Houston, 1993), ambos tendo a face das artistas como palco para acontecimentos complexos, são apresentados de frente um para o outro, num jogo de espelhamento”, explica Moura. Em The King (O Rei), 1972, Antin, tendo o feminismo como a sua principal interlocução, busca uma possível identidade masculina ao se transvestir usando uma barba, enquanto Wilke, em Gestures (Gestos), 1974, ao manipular seu próprio rosto, o transforma em matéria escultórica.

Em outras duas salas, artistas investigam o potencial de suas próprias imagens como fonte para a criação de suas obras. Em Lovely Andrea, (Amável Andrea), 2007, de Hito Steyerl (Munique, 1966 – vive em Berlim), obra comissionada pela documenta 12, o que parecia um ensaio autobiográfico, torna-se pretexto para uma série de associações inesperadas e abruptas entre imagens, dados e referências. Assim como Rachel Rose, Steyerl também participou da 32ª Bienal de São Paulo. Já Ryan Gander (Chester, 1976 – vive em Londres e Sufflolk) em seu Portrait of a Colour-Blind Artist Obscured by Flowers (Retrato de um artista daltônico obscurecido por flores), 2016, esconde atrás de aparente simplicidade um complexo jogo conceitual com a história da arte, o que envolve deslocá-la e repensá-la a partir de uma perspectiva lúdica e cáustica.

Por sua vez, as obras de Ulay (Solingen, Alemanha, 1943 – vive em Amsterdã) There is a Criminal Touch to Art, (Há um toque criminoso na arte), 1975–76, e de Lutz Bacher (vive em Nova York) James Dean, 1986 / 2014, tratam, respectivamente, de quadros roubados e fotografias apropriadas, dando novas conotações para ícones da história da arte e da cultura de massa.

No sexto andar, o curador explica que as projeções de Douglas Gordon (Glascow, Escócia, 1966 – Vive em Berlim) New Colour Empire (Novo Empire Cor), 2006–2010, e de Cyprien Gaillard (Paris, 1980 – vive em Berlim e Nova York), KOE, 2015, são apresentadas numa espécie de díptico, fazendo referência à paisagem de arquiteturas corporativas do entorno do edifício e revisitando o papel narcísico das imagens na construção dos ícones urbanos. Finalmente o vídeo Büsi, 2001, da dupla suíça Fischli & Weiss (Fischli, 1952, Weiss, 1946, ambos nascidos em Zurique) encerra as obras do circuito expositivo.

Completam O Tempo Mata quatro exibições públicas no térreo (Praça). São apresentações comentadas por críticos e curadores de filmes assinados pelos norte-americanos Barbara Hammer, nascida na Califórnia em 1939, pioneira do cinema queer; Charles Atlas, que ao chegar a Nova York, em 1970, desenvolveu com Merce Cunningham nova linguagem em filmes de dança e performances; Dan Graham, notabilizado por obras marcantes em torno da função social da arquitetura; e Jack Smith, falecido em 1989, um dos pioneiros do cinema underground.

Como programação integrada à exposição, o Sesc Avenida Paulista também realizará o curso “História da Videoarte”, com o artista Luiz Roque, que terá início em abril, e, em maio, a diretora de cinema Fernanda Pessoa ministra curso prático “Arqueologia de Imagens”, sobre como construir narrativas visuais a partir de arquivos imagéticos.

SERVIÇO

O Tempo Mata – Imagem em movimento na Julia Stoschek Collection

Quando: de 21 de março a 16 de junho de 2019

Horário: das 10h às 21h30 (terça a sábado), permanência até 22h; e das 10h às 18h30 (domingos e feriados), permanência até às 19h.

Local: Arte I (5º e 6º Andar)

Quanto: Grátis – entrada livre. Para agendamentos de grupos enviar solicitação para o e-mail agendamento@avenidapaulista.sescsp.org.br

Classificação: Livre

SESC AVENIDA PAULISTA

Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo

Fone: (11) 3170-0800

Transporte Público: Estação Brigadeiro do Metrô – 350m

Horário de funcionamento da unidade:

Terça a sábado, das 10h às 22h.

Domingos e feriados, das 10h às 19h.

Horário de funcionamento da bilheteria:

Terça a sábado, das 10h às 21h30.

Domingos e feriados, das 10h às 18h30.

Site: http://sescsp.org.br/avenidapaulista

App Sesc Avenida Paulista: disponível para download gratuito em celulares e tablets no endereço sescsp.org.br/avenidapaulista

Andréia Bueno

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