Valongo Festival Internacional da Imagem 2019 chega em sua 4ª edição


Créditos: Acervo Festival


Desde 2016, o bairro histórico de Santos recebe o Valongo Festival Internacional da Imagem e, este ano, durante os dias 8, 9 e 10 de novembro, a 4ª edição acontece com uma ampla programação que inclui obras, exposições coletivas, seminários, performances e visitas guiadas, com todas as atividades gratuitas e abertas ao público. Entre os nomes do evento, está Rasheedah Phillips, da Filadélfia (EUA), artista, ativista, autora, produtora cultural, escritora e defensora-pública, que participa com Black Quantum Futurism (BQF), trabalho que já esteve presente em importantes espaços de arte contemporânea, como MoMA, Serpentine Galeries e Bienais. No Valongo, Rasheedah Phillips irá apresentar os princípios e métodos do BQF para que ele ajude a manipular o tempo e ver o futuro.

Para propor trocas e experiências a partir do território, o evento foi criado com o objetivo de investigar a linguagem artística contemporânea e incentivar a experimentação e a pesquisa. Regido a partir do tema “O melhor da viagem é a demora“, a curadoria feita por Diane Lima investiga o potencial visionário das imagens criadas a partir do conhecimento incorporado e comum. Assim como no provérbio, a única maneira de compreender os segredos é entender que é preciso viver o caminho para ter experiência vivida. “Só se compreende o que foi dito performando e vivendo e só se pode dizê-lo, o tendo atravessado e aprendido“, conta a curadora. Diante da vivência e da memória coletiva, o convite é para vermos e vivenciarmos, nessa comunidade temporária que é o Valongo, os conhecimentos incorporados em nossas presenças. “É só através de um estado consciente na duração do tempo que o nosso pensamento é livre“, completa.

Território

O tema conversa diretamente com bairro do Valongo, o mais antigo da cidade, e também considerado um importante acervo histórico nacional. Surgido nas proximidades do primeiro trecho do cais santista, o bairro preserva, em sua arquitetura, a memória construída em torno do porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina. Acreditando nos importantes impactos que resultam de uma atuação séria e contínua nessa região, o Festival busca não apenas transformar o bairro durante o período do evento, como também realizar uma série de ações de amplo alcance, potencializando seu patrimônio histórico e cultural e reafirmando o protagonismo de Santos no cenário cultural brasileiro.

Atrações

Serão cerca de 30 artistas, 50 obras, 1 exposição coletiva, 10 seminários e mesas, 4 performances e visitas guiadas pelo corpo curatorial e artistas da residência. Dentro dessas atividades, estão as instalações dos artistas convidados por meio de chamadas públicas direcionadas às obras que se entrelaçam diretamente com o bairro.

II Programa de Residências Artísticas do Valongo

O Valongo Festival Internacional da Imagem entende o Programa de Residências Artísticas como um dos eixos fundantes da própria prática curatorial; uma plataforma de conexão, criação, circulação e desenvolvimento para a pesquisa e a produção dos artistas envolvidos. Neste ano, o Festival continuou propondo novas geografias e naturezas artísticas, apostando no acompanhamento artístico mais próximo e, sobretudo, na capacidade dessas pesquisas em performar, cada uma à sua maneira, os eixos curatoriais de “o melhor da viagem é a demora“.

Este ano, a segunda edição do Programa de Residências do Valongo conta com a participação de três artistas convidados, que já estão habitando o bairro do Valongo:

Rebeca Carapiá, artista nascida em Salvador, na Bahia, parte da experiência e do cotidiano no bairro do Uruguai, espaço que a constitui como artista. Rebeca cria e organiza um conjunto de práticas e reflexões em diferentes plataformas de exibição, formação e experimentação artística, visíveis e invisíveis ao circuito da arte contemporânea.

Malu Avelar, nascida na cidade histórica de Sabará, em Minas Gerais, iniciou sua formação artística em Belo Horizonte, no CEFAR (Centro de Formação Artística). Seus últimos trabalhos foram desenvolvidos a partir de sua pesquisa “Corpo Negro: Tensão e Urgência”, que parte do aterramento do corpo dissidente – entendido enquanto aquele que vive em constante estado de alerta e urgência – por meio do movimento interno do sujeito, que transborda para além dos discursos que buscam cristalizá-lo.

Eric Magassa é um artista multidisciplinar que trabalha a partir da variedade de materiais e métodos, que vão desde pintura e colagem até a elaboração de câmeras performativas. Frequentemente, Magassa faz uso de objetos e artefatos que perderam seu significado, e que são por ele apropriados e re-contextualizados, assumindo novos sentidos e oferecendo um novo entendimento do mundo.

Transporte gratuito

Com a proposta de democratizar e ampliar o acesso à cultura o festival também disponibiliza transporte gratuito de São Paulo para Santos (ida e volta), com saídas diárias que pode ser utilizado pelo público mediante a inscrição no site. Mais informações sobre serão disponibilizadas em breve nas redes sociais.

Valongo Festival Internacional da Imagem tem uma preocupação direta no acesso à cultura, respeito às diferenças, inclusão, diversidade e um compromisso com a arte.

Atuação da mulher no cenário cultural

Outro pilar muito importante do Valongo Festival é a equipe formada 80% por mulheres. Esse dado se revela necessário ao considerarmos os obstáculos que ainda existem à colocação das mulheres no mercado de trabalho – de acordo com o IBGE, apesar de as mulheres serem mais escolarizadas do que os homens, elas ainda ganham cerca de ¾ do salário pago à população masculina. As desigualdades se agravam se lembrarmos que, dentro do grupo feminino, o número de mulheres brancas com grau superior completo é quase três vezes maior do que o de mulheres negras.

PROGRAMAÇÃO VALONGO FESTIVAL 2019

Exposições – mantidas ao longo do festival.

10 – 20h O MELHOR DA VIAGEM É A DEMORA, com curadoria de Diane Lima

Para a exposição coletiva, o Festival convocou trabalhos de todas as linguagens artísticas que se propusessem enquanto reflexões críticas e que dialogassem, por meio de suas visualidades, com os eixos curatoriais desta edição.

Local: doca e RDC

Artistas:

Adriano Machado

Ana Clara Tito

Ana Paula Mathias

Iagor Peres

Juliana dos Santos

Luana Vitra

Marcos Paulo Gonçalves

Mitti Mendonça

Ronald Horácio Rodrigues da Silva

Veridiana Mana

10 – 20h Instalação COMO COLOCAR AR NAS PALAVRAS, de Rebeca Carapiá – artista em residência

Em “COMO COLOCAR AR NAS PALAVRAS”, a artista Rebeca Carapiá cria, através de instalações, desenhos e esculturas, uma cosmologia em torno dos conflitos das normas da linguagem e do corpo, além de ampliar um debate geopolítico que envolve memória, economias da precariedade, tecnologias e as relações de poder entre o discurso e a palavra.

Local: RDC

10 – 20h HORIZONS, de Eric Magassa – artista em residência

Eric Magassa irá propor uma instalação na área central do doca Valongo, que faz parte do conjunto de espaços expositivos do Festival. Explorando uma variedade de materiais e linguagens, tais como escultura, pintura, vídeo e fotografia, o artista nos abre a possibilidade de ressignificar o imaginário quando, através de uma paleta de cores vibrantes e elementos pictóricos abstratos, discute, ainda, como as imagens e os artefatos africanos coletados pelos museus etnográficos foram apropriados e inseridos dentro da lógica da racialidade moderna ocidental, abrindo, assim, um diálogo entre o Valongo e o mundo Atlântico.

Local: doca

10 – 20h Instalação [TERRA-PROTÓTIPO], de Tames da Silva Santos

Através da combinação entre cartografia e um simulacro sonoro/imagético da linguagem publicitária de empreendimentos imobiliários, [terra-protótipo], de Tames da Silva Santos, anuncia uma narrativa distópica sobre o espaço geográfico do bairro do Valongo. A instalação faz parte de uma série de trabalhos em que são criados mapas ficcionais que abordam temas relacionados à ocupação de Santos e de seu entorno, evidenciando as relações históricas de poder e a permanente racionalização desse território.

Local: obra móvel

11 – 21h SAUNA LÉSBICA, de Malu Avelar – artista em residência

Malu Avelar irá apresentar a obra SAUNA LÉSBICA, um espaço viscoso, voltado à imaginação, onde será possível escorregar e celebrar a presença e as experiências das mulheres sapatonas. Durante os três dias de Festival, a instalação será ativada com performances, vivências, festas e obras audiovisuais. Na contramão do debate predominante e performando uma das questões centrais de #OMELHORDAVIAGEMÉADEMORA, que é a criação de formas de ver e conceber o mundo que ainda não estão disponíveis historicamente para nós, a obra propõe a criação de um espaço especulativo, onde se possa ser e estar.

Local: Buraco’s

Programação 08/11 (sexta-feira)

11 – 12h Seminário de Abertura – O MELHOR DA VIAGEM É A DEMORA: DIÁLOGOS CURATORIAIS COM O PENSAMENTO BANTU-KONGO DE BUNSEKI FU-KIAU, com Tiganá Santana e Diane Lima

Local: Arena Valongo

13 – 15h Vídeos

BOI DE SALTO, de Tassia Souza Araujo

ANTES DE ONTEM, de Caio da Nobrega Franco

BONDE, de Gleba do Pêssego

Local: Arena Valongo

13 – 17h Oficina

VISUALIDADE E POLÍTICA – COM ZANGADAS TATTOO, por #DesignAtivista

A oficina vai discutir sobre as formas de circulação da informação e sua apresentação nas plataformas sociais, especialmente através de memes que deflagram posições políticas. Tendo como ponto de partida o caso do “Ninguém Solta a Mão de Ninguém”, criado pela ministrante da atividade, Thereza Nardeli, e do “Vira Voto”, protagonizado pela Mídia NINJA e pelo @designativista, abriremos uma conversa sobre política, afeto e informação, dissecando discursivamente algumas imagens e textos para tentar elucidar as propostas e as potências dos mesmos. Em um segundo momento, os participantes serão convidados uma atividade prática, com o objetivo de reformular, criar e remixar imagens, textos persuasivos e afetivos, mirando temas e audiências específicas.

14 – 15h Performance

REPERTÓRIO N. 1, de Davi Pontes e Wallace Ferreira de Souza (programação para maiores de 18 anos)

O trabalho investe na ideia da dança como autodefesa, utilizando a mimese e a repetição ritualizada de gestos para produzir um estudo sobre imagens coreografadas por corpos dissidentes. Instaura-se, assim, uma tentativa de arquivar ações para elaborar resistências, conjurar modos de permanecer no mundo e inventar o que há de sucedê-lo. Pode o movimento ativar a memória dos corpos subalternos que foram enterrados sob códigos hegemônico? Resistir em tempos brutos, alimentar-se mutuamente do cansaço do outro e dançar em momentos difíceis.

Local: Museu Pelé

15 – 16h Mesa 1- COMO IMAGINAR FORMAS DE VER E CONCEBER O MUNDO QUE AINDA NÃO ESTÃO DISPONÍVEIS HISTÓRICAMENTE PARA NÓS?, com Ariana Nuala, Lucas Carvalho, Moara Brasil, Ventura Profana, Heloisa Ariadne e Micaela Cyrino

Neste encontro, xs integrantes do I Programa de Acompanhamento do Valongo apresentam seus processos de pesquisa, discutindo a linguagem enquanto dimensão mediadora da experiência ética contida nas práticas artísticas quando postas em diálogo com novos territórios.

Local: Arena Valongo

17 – 18h Mesa 2

DESLOCAMENTO COMO COREOGRAFIA: ROMPENDO COM AS NORMAS ESPACIAIS NA ARTE CONTEMPORÂNEA, com Cintia Guedes, Davi Pontes e Anta Recke

O que aconteceria se pensássemos os deslocamentos dos nossos corpos no espaço e no tempo como coreografias? E como romper com as suas normas instalando outras materialidades através das relações entre a dança, o teatro e as artes visuais? Nessa mesa, xs artistas Anta Helena Recke e Davi Pontes se encontram para uma conversa sobre como dar forma aos movimentos.

Local: Arena Valongo

20 – 23h Noites no Valongo

Noite de Abertura

Local: Arena Valongo

Programação 09/11 (sábado)

10 – 11h Visita Guiada, com Rebeca Carapiá, Malu Avelar e Eric Magassa

Local: doca

10 – 17h Oficina

SOBRE COMO AMOLAR FACAS, com Cíntia Guedes

Em exercícios de escuta e escrita, a oficina toma como dispositivos as imagens da arte e da literatura antirracista e anticolonial. O plano é encontrar rotas para outra ecologia sensível e reposicionar nossa imaginação para além da armadilha da representatividade, escapando do cativeiro estético do tempo presente.

Local: Cadeia Velha

11-12h Seminário

Egle Kulbokaite e Dorota Gaweda

Local: Arena Valongo

sobre o que??

13 – 15h Vídeos

VIDEOTONGUES, de Daniel Santiso

LOVE TO A MONSTER, de Jonas Van

ASCENSÃO E QUEDA DAS BIXAS, de Rodrigo D’Alcântara

NOMES DE ABISMO, de Jonas Van

Local: Arena Valongo

14 – 15h Performance

OS USOS DA RAIVA – MOMENTO 5, de Ana Paula Tito

OS USOS DA RAIVA é uma pesquisa que investiga a interação entre corpo, estado mental/emocional e vergalhões de ferro de diferentes comprimentos. Nela, são questionadas as possibilidades construtivas de sentimentos específicos, entre eles a raiva, gerando registros mutáveis e múltiplos. Cada momento é criado com varas necessariamente maiores do que as usadas em momentos anteriores.

Local: RDC

15 – 16h Mesa 3

ECONOMIAS DE ACESSO E PRECARIEDADE DA CULTURA: NOTAS PARA SOBREVIVÊNCIA

Local: Arena Valongo

17 – 18h Mesa 4

IDENTIDADES ITINERANTES E IMAGENS VISIONÁRIAS NOS ARQUIVOS COLONIAIS, com Eric Magassa e Amanda Carneiro

Como a errância, a deriva e a desorientação nos processos artísticos podem friccionar a nossa geografia mental e terrestre? É possível falar em uma ressignificação dos arquivos coloniais? A partir dessas questões, a curadora Amanda Carneiro (MASP) e o artista sueco-senegalês Eric Magassa conversam sobre a instalação por ele desenvolvida no II Programa de Residência Artística do Valongo, ampliando ainda mais nossa percepção sobre como expandir e espacializar as imagens.

Local: Arena Valongo

20-23h Noites no Valongo

RESISTÊNCIA NA QUEBRADA: VIAGEM À MEMÓRIA CULTURAL DA BAIXADA SANTISTA, de Litta Afrontite

Para esta ação, selecionada na chamada aberta do Valongo voltada a iniciativas da Baixada Santista, Litta Afrontite buscou identificar os elementos culturais que compõem a formação da identidade e da estética das periferias da região. Surgiu, assim, a proposta de reunir uma série de atividades (como roda de conversa, debate, discotecagem e apresentações de música), que serão apresentadas no Festival, e cujo objetivo é resgatar os sentidos do funk enquanto signo da afirmação cultural e identitária da Baixada Santista.

Local: Arena Valongo

Programação 10/11 (domingo)

10 – 11h Visita Guiada pelo bairro do Valongo

Local: saída da doca

10 – 17h Oficina

MONUMENTOS PARA UM FUTURO PRÓXIMO, com Gian Spina

Será apresentada uma série de questões a serem trabalhadas coletivamente, de maneira teórica e prática, e que tem como ponto de partida fazer e pensar novas formas de escrever a história e novas histórias a serem escritas. Como podemos reescrever coletivamente o passado? Quais formas e formatos outros devemos e podemos usar? E como as interpretações sobre o passado constroem e alteram o nosso futuro?

Local: Cadeia Velha

11 – 12h Seminário

Rasheedah Phillips

Rasheedah Phillips, da Filadélfia (EUA), artista, ativista, autora, produtora cultural, escritora e defensora-pública, participa com Black Quantum Futurism (BQF) apresentando os princípios e métodos do BQF para que ele ajude a manipular o tempo e ver o futuro. O Black Quantum Futurism (BQF) é uma plataforma para a prática interdisciplinar criada por Camae Ayewa e Rasheedah Phillips. Consolidando-se em livros, performances, projetos de música experimental, instalações, filmes e programas educativos, o projeto é definido como uma iniciativa, de caráter teórico e prático, que visa a experimentar a realidade por meio da manipulação do espaço-tempo, a fim de conceber futuros possíveis. A ação fundamenta-se sobre um arcabouço que inclui princípios e qualidades da física quântica, metodologias especulativas e visionárias, além de dimensões sobre consciência, tempo e espaço próprias das tradições culturais do pensamento negro. A partir da multiplicidade de futuros possíveis e da compreensão de um tempo não-linear, a prática do BQF como um exercício de imaginação política nos permite enxergar o futuro e, principalmente, fornece ferramentas para alterá-lo, modelá-lo ou colapsá-lo.

Local: Arena Valongo

13 – 15h Vídeos TUDO QUE É APERTADO RASGA, de Fabio Rodrigues Filho

STONES, de Myriam Mihindou, Laís Catalano Aranha, Andrew Arim, Pierre Ma-nau, Violaine Le Fur e Eric Mukalazi

CARTUCHOS DE SUPER NINTENDO EM ANÉIS DE SATURNO NA LOCADORA DE VIDEO GAMES, de Leon Marx Freitas Silveira Reis

Local: Arena Valongo

14 – 15h Performance

E-DU-CA-T-V-O //, de Agrippina R. Manhattan

Local: Museu Pelé

17-18h Mesa 5

COMO COLOCAR AR NAS PALAVRAS ENCONTRA SAUNA LÉSBICA: EXPERIMENTOS SOBRE FORMAS DISSIDENTES DE EXPRESSÃO, com Diane Lima, Rebeca Carapiá e Malu Avelar

Como criar outros modos de falar da diferença sem explicá-la? E como desconstruir as geografias condicionadas ao feminino? E se? Nessa mesa, as artistas convidadas do II Programa de Residência Artística do Valongo, Malu Avelar e Rebeca Carapiá, contam sobre a experiência que culminou nas obras SAUNA LÉSBICA e COMO COLOCAR AR NAS PALAVRAS, refletindo sobre como tencionar a criação de desvios na linguagem para encontrar formas dissidentes de expressão.

Local: Arena Valongo

Andréia Bueno

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