Entrevista Exclusiva: Fabiano Augusto, o Chespirito de “Chaves – um Tributo Musical”
Fabiano Augusto, artista premiado por trabalhos na televisão como o programa “Turma da Cultura”, além de “Intimação”, exibido pela Rede Vida e pelo qual recebeu reconhecimento pela ANDI (Agência Nacional pelos Direitos da Infância), também coleciona personagens importantes em espetáculos como “Rita Lee Mora ao Lado”, onde viveu o cantor Ney Matogrosso, “Carmen, a Grande Pequena Notável”, onde viveu Mario Cunha, entre outros personagens. Atualmente, o ator vive Roberto Gómez Bolaños em “Chaves – Um Tributo Musical”, que esteve recentemente em cartaz em São Paulo e deve seguir em turnê nacional em breve. Conversamos com o artista sobre este personagem, carreira e desejos para o futuro. Confira a seguir!
Acesso Cultural: Durante esse tempo como Bolaños, você acha que trouxe alguma característica da personalidade dele para a sua vida? Se sim, qual?
Fabiano Augusto: Eu acredito que o personagem, por mais diferente que ele seja de você, ele é você, porque ele é a sua forma de pensar o mundo, é o seu corpo, é a sua voz. E o meu ponto de encontro com o Bolaños foi, de cara, essa personalidade mais introvertida, muito organizado no trabalho dele, e eu também sou assim. Eu tenho uma timidez que, às vezes eu não sei o que fazer com as mãos… E o Bolaños também tinha isso, você pode ver que quando o Bolaños não está de personagem, quando ele é o Bolaños pessoa física, não a jurídica, você vê ele muito com as mãos no bolso. Então eu acho que a gente se encontrou muito nesse lugar. E o Bolaños não era um cara super extrovertido. Quando ele chegava no set de gravação, não “chegava chegando”. O Ramón Valdés (Seu Madruga) era o mais expansivo de todos, aquele cara que “chegava chegando”. O Bolaños era mais tímido, muito quieto, ele gostava de trabalhar. Eu acho que isso eu tenho muito dele. Ele chegava para trabalhar, muito concentrado. Na verdade, são personalidades muito próximas. É claro que eu tive que abrasileirar e fazer tudo isso do meu jeito. Mas eu lembro quando veio uma pessoa do grupo Chespirito para assistir ao nosso ensaio e ele me falou uma coisa muito importante: “Não deixe que a introversão e a timidez do Bolaños tirem o seu brilho na cena”. Então eu tive que dar uma “adaptada” nesse Bolaños tímido e introspectivo.
AC: Qual foi o maior desafio na construção de um personagem como Chespirito? Conte um pouco sobre como foi trazer Roberto Gómez Bolaños para os palcos brasileiros.
FA: O maior desafio de fazer o Bolaños nesse espetáculo é que eu não sou nem palhaço, nem personagem da vila, então eu fiquei um pouco sozinho, foi um trabalho muito solitário na peça. E o grande desafio foi exatamente isso. O único personagem realista, naturalista no meio de tanta exuberância. Ao mesmo tempo, você comunicar no meio de tudo isso. O desafio foi justamente buscar essa simplicidade na interpretação, e buscar muito dos meus sentimentos, levar uma verdade mesmo para esse trabalho. O personagem só funciona se ele for verdadeiro, no meio de tanto “colorido”.
AC: O que você espera da turnê de “Chaves – Um Tributo Musical” e como está, pessoalmente, se preparando para ela?
FA: Eu estou louco para fazer essa turnê! A gente estava com tudo pronto, a gente ensaiou com os novos atores que estão substituindo o Diego (Velloso, intérprete do Quico) e o substituto do Davi (Gabriel Ebling, ator e dublador). Estava tudo pronto, tudo tinindo, e com a história do COVID-19, a gente achou de bom senso adiar a nossa turnê. A gente vai fazer a turnê! Só não sabemos ainda quando. Vai depender muito da nossa saúde pública, mas espero que seja logo. Estou louco para levar o “Chaves” para outras plateias, para outras cidades.
AC: O público de “Chaves” é muito fiel há anos a tudo o que envolve o universo de Chespirito. Como foi a aceitação desses fãs a respeito do seu personagem?
FA: Eu, por sorte, não tinha um compromisso de ser igual ao Bolaños. Para fazer este personagem eu teria que falar em espanhol, então eu abrasileirei este personagem e o trouxe muito para o meu universo. Eu estava morrendo de medo do público pensar coisas como “mas esse não é o Bolaños que a gente conhece”. Mas eu fui buscar uma verdade, a minha verdade, a verdade da situação daquela cena de uma forma que o público abraçou o personagem e tem gente que fala “gente, mas você está igual ao Bolaños”, “Você está muito parecido com ele”, “você faz as caras do Bolaños”, “Você tem os trejeitos do Bolaños”. Eu sou péssimo ator para cópias, eu não consigo copiar, não consigo imitar. E eu fui exatamente nisso. Assisti tudo, todas as entrevistas do Bolaños sem estar nos personagens e tentei buscar verdade, a minha verdade de como fazer isso soar verdadeiro no palco. Era isso que o Zé Henrique de Paula, a Inês Aranha, nossa preparadora e a Fernanda Maia me pediram o tempo inteiro.
AC: Se você pudesse ter um encontro com Roberto Gómez Bolaños, assim como Chaves encontra seu criador no palco, o que diria a ele?
FA: Eu não sei se ia conseguir falar alguma coisa. Porque ele é um gênio, e quando a gente vê um gênio, a gente vê o nosso mestre, a gente se cala. Só observa. Tem aquele momento em que o Chaves e o Bolaños se encontram e ficam em silêncio, eu acho que ficaria em silêncio. Daria um abraço nele, mas acho que não conseguiria falar absolutamente nada. Com certeza eu agradeceria. Daria o meu “muito obrigado”, ficaria olhando para ele. Se eu pudesse, ficaria horas só no olhar, ali, ia ser lindo.
AC: Após tantos anos de carreira, você tem algum papel que marcou sua vida? Por quê?
FA: Eu acho que todos os papéis marcaram, porque todos os papéis tiveram o seu grau de dificuldade. Uns mais, outros menos. Mas eu lembro de todos eles com muito carinho, até com aqueles com os quais você não se satisfaz, que você pensa “eu não cheguei onde queria chegar”, até nesses a gente aprende muito, a gente sai modificado. Então não tem um personagem que me marcou mais que o outro.
AC: Qual é seu número predileto em “Chaves”?
FA: O meu número predileto de “Chaves” é, com certeza, aquele que o Chaves está na casa da Bruxa do 71, debaixo da mesa e ela está ali fazendo perguntas para os espíritos e o Chaves começa a responder como se fosse um espirito, mas sem saber que estava fazendo isso. É maravilhoso aquele episódio.
AC: Que conselho você daria para aqueles que, como você, se interessaram e estão seguindo a carreira artística desde muito cedo?
FA: Isso é uma grande questão para mim. Eu comecei muito cedo, por um desejo alucinado que eu tinha, já desde cedo por essa profissão. Eu já nasci, praticamente sabendo que eu ia fazer teatro, nunca tive dúvida. Mas sinto que comecei muito cedo, eu deixei de apreciar outras possibilidades, fui com muita “sede ao pote”. Já queria ser ator, já queria estar no palco. Com isso, eu acho que queimei algumas etapas da vida, como a infância e a adolescência. Então eu sinto muita falta de ter vivido uma vida mais pacata, de ter pensado em outras possibilidades também. O conselho que eu dou é: “estudem, mas não estudem só teatro. Não precisa ter pressa”. Eu sou um pouco contrário a crianças fazendo teatro desde cedo, mesmo que seja o desejo delas, que muitas vezes não é, muitas vezes o desejo é dos pais. A gente tem muito tempo para fazer as coisas, para que a pressa?
AC: Se você pudesse escolher qualquer personagem que ainda não tenha interpretado para fazê-lo, qual seria?
FA: Muitos. Tem muita coisa para fazer ainda. Mas eu estou louco para fazer um personagem feminino. Muita vontade de fazer um pai, um Tennessee Williams, O’Neill, um Brecht… Tem tanta coisa para fazer ainda.
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