Produzido por Swami Jr, aguardado disco de estreia estará disponível em todas as lojas e plataformas.
Por Andréia Bueno
Há algumas pessoas que vibram com a simplicidade das coisas, sabendo dar relevo ao que realmente importa. Essa pureza nos comove porque nos toca mais diretamente, de forma mais rápida e mais intensa. Isto é evidente no aguardado álbum de estreia da cantora Anna Setton, que finalmente chega a todas as lojas e plataformas nesta sexta-feira, 23 de novembro.
Foto: Divulgação
Paulistana, Anna sempre ouviu música em casa, seja pelo violão do pai, seja pelo canto da mãe, que sempre gostaram muito de música, mas nunca profisionalmente. E foi a música que a fez conhecer seu parceiro, o pianista Edu Sangirardi, em volta de um violão na praia de Caraíva, Bahia.
Música boa, precisa e limpa é a essência que liga os dois. É assim que eles veem, ouvem e fazem música, o que é evidente nas faixas selecionadas para o primeiro álbum de Anna, expondo a intensa vivência jazzística do casal. Com mais de 14 anos de dedicação profissional à música, o ponto de virada foi o nascimento da sua filha Dora, há três anos. “Todo o turbilhão de emoções e ressignificados da vida que acontecem quando a gente tem um filho, que revira tudo por dentro e faz do fora um lugar novo, fez com que eu sentisse vontade de dizer e de estar no mundo e na música de uma forma diferente, como autora, como compositora”, afirma Anna.
Como frutos de um longo processo de reflexão e descoberta, foram surgindo canções, com letras de Anna ou André Goldfeder e músicas de Edu (em uma delas, Paisagem Real, Anna também fez a música). Logo perceberam que já havia material suficiente para um primeiro disco, “uma fotografia do momento em que estou vivendo. Um momento em que pela primeira vez me descobri inteira e preparada para mostrar a música que eu acredito e gosto de cantar”, lembra Anna.
Ao piano de Edu Sangirardi, juntaram-se os baixos elétrico e acústico de Bruno Migotto, a guitarra e o violão de Vinicius Gomes, a bateria de Jonatas Sansão, o flugelhorn de Diego Garbin (em Nature Boy) e o sax de Jota P. (em Paisagem Real). “Eu acredito na força da arte, da palavra e do som para transformar e dar significado às nossas vidas. Acredito que posso contribuir para a música brasileira e desejo fortemente ser parte atuante dela. Seguimos resistindo, produzindo cultura, em busca do presente e de novos significados para a nossa existência”, declara Anna.
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Produzido por Swami Jr, o álbum Anna Setton tem dez músicas, sete das quais inéditas, todas com arranjos de Edu, que também assina a direção musical juntamente com Swami. Gravado no Estúdio Arsis, em São Paulo, por Daniel Tápia e Fellipe Baldauf, tem mixagem de Ricardo Mosca e masterização de Carlinhos Freitas (Classic Master). Todo o trabalho de arte ficou a cargo de Júlio Mariutti (Estúdio Logos), com imagens de Ilana Lichtenstein (Liríade).
Anna Setton, faixa a faixa
1. Baião da Dora (Edu Sangirardi / Anna Setton)
Primeira composição do casal, com melodia criada durante a gestação de sua primeira filha e letra feita logo após o nascimento. Baião bem ritmado, forte, de personalidade e, ao mesmo tempo, com letra muito doce, um convite à vida: “Vem, pequena flor, vem nos mostrar o que é o amor (…) xote, xaxado e ciranda, vem tocar junto com essa banda”.
2. Dora (Edu Sangirardi / André Goldfeder)
Envolvente viagem melódica, cheia de sofisticação, onde se percebe claramente as habilidades individuais dos músicos, como o solo de piano de Edu Sangirardi, a percussão ritualística de Jonatans Sansão, o marcante baixo acústico de Bruno Migotto e o contraponto da guitarra de Vinicius Gomes. Performance nada óbvia, assim como as belas palavras de uma mãe em êxtase: “Daquele lugar profundo, na curva que o tempo faz, sua luz acalmava o escuro, fazia o oco cantar, pra voz que já era sua me encontrar”.
3. Toada (Edu Sangirardi / Anna Setton)
De melodia doce, delicada e um tanto etérea, carregada de sentimentos e bela dose de melancolia (como se espera de uma boa toada!), remete a lembranças, saudades, família, sonhos, esperança, “tudo simples, tão forte e tão breve, como o existir…”.
4. Minha Voz, Minha Vida (Caetano Veloso)
O clássico manifesto metalinguístico recebe uma emocionante releitura jazzística, despida de invenções, crua, leve e que expõe a verdade natural da intérprete. Composto por Caetano para Gal Costa em 1981, parece novo em folha e feito sob medida para a voz – e a alma! – de Anna.
5. Paisagem Real (Edu Sangirardi / Anna Setton)
A suavidade e a cadência do ijexá flertam com a força do baião, de certa forma resumindo bem a temática de todo o álbum e o momento por que passa Anna: o exercício de olhar para dentro, sem artifícios, e se deparar com a comovente verdade das coisas simples. Tudo muito bem costurado pelo sax de Jota P.
6. Nature Boy (eden ahbez)
80 anos depois da primeira gravação (Nat King Cole, 1948), esse clássico de letra existencialista (o que foi determinante na sua escolha) ganha uma inusitada pegada latina, em uma performance que evidencia o sangue jazzístico da cantora e da banda, coroada com o flugelhorn de Diego Garbin.
7. A Lenda do Abaeté (Dorival Caymmi)
Os mistérios e encantos da lagoa do bairro de Itapuã, em Salvador, foram um prato cheio para esta pérola de um Caymmi surrealista e surpreendente. Essa estranheza caiu como uma luva para Anna explorar musicalmente toda a diversidade de climas, de forma livre, não racional, praticamente sem ensaio e gravada de primeira.
8. Estrela da Letra (Edu Sangirardi / André Goldfeder)
Choro apaixonado, com duas partes simples que deixam perceber o alcance da cantora e a leveza com que ela interage com piano, guitarra e contrabaixo. Um divertido banho de suingue, mesmo sem bateria.
9. Roda da Sorte (Edu Sangirardi / Toquinho / Paulo César Pinheiro)
Com belo improviso de guitarra de Vinicius Gomes, esta melodia surgiu ao Edu contemplar um final de tarde em um praia e evoluiu com o talento do mestre Toquinho. Composta especialmente para Anna, a letra inspirada de Paulo César Pinheiro é cheia de esperança, força e serenidade.
10. Estrada no Mar (Edu Sangirardi / André Goldfeder)
Balada de harmonia madura, tensa, com um arranjo sem invencionices, em que há espaço apenas para piano e voz, puros, límpidos, nus. Poema de letra intensa e franca: “Vim, num eco, rever o canto nascer e a gente calar”.