Stephen King – Desespero @ São Paulo




Por Gabriel Antoniolli

“In these silences something may rise”



Você nunca sabe o que acontece em seguida. É assim que as coisas funcionam na vida. Por mais claro que esteja o dia, é tudo meio incerto. 

Dessa maneira começa o livro DESESPERO, de Stephen King.

Um casal está lá viajando de carro. Visitaram a irmã do cara e agora estão na Rodovia 50, uma passagem que tem como pano de fundo (e de lado, e de frente). Do nada, aparece uma viatura que acaba os parando e o policial (enorme, diga-se de passagem) age de maneira bem estranha com eles. Acaba apreendendo-os por porte de maconha, e partem juntos, na viatura, para uma cidadezinha ali perto.

Essa história se repete com outros dois contextos bem semelhantes e o mesmo policial, que age de uma maneira bem estranha.

Vi-me mergulhando em uma narrativa densa e intensa, onde King nos faz de seu mundo o nosso mundo. Como se vivêssemos aquilo.

Como se, ao virarmos para o lado, apenas nos depararíamos com… desespero. O desespero de Desespero.

Entendo, mesmo, o apreço pela sobrenaturalidade de Stephen King. Não que eu goste – não gosto -, mas entendo. Entendo que é um modo de envolver o leitor com algo que não está ao seu alcance. Um jeito de fazer com que tudo, por mais controlado que esteja, ainda lhe passe inseguranças. Por mais interessante e complexo tenha sido esse universo criado, ele não me agrada. Mas sei que há muitos que gostam.

De qualquer forma, o embate aqui é entre o bem e o mal. O mal é representado por um espírito demoníaco, Tak, e ele sai incorporando as pessoas. O bem é mostrado como Deus se manifesta através do menino David Carver. Ele, juntamente com sua família, foi uma das vítimas do policial e, consequentemente, de Tak. O garoto é peça importante da história, entrando de fininho sendo considerado especial por ter grande fé e devoção por Deus. Devoção essa que acaba movendo a todos os “confinados” por Tak.

O livro não é de cunho religioso – antes que possa parecer. Em alguns momentos, realmente parece ser, pela intensidade com que toda a fé do garoto é descrita. Com os diálogos a respeito da crença na força superior. Com todo o discurso de fazer a vontade do Senhor e tal. Mas não é.

Embora a narrativa tenha me entretido pra caramba, confesso que em alguns momentos me vi entediado pelas situações. Momentos de flashbacks – não sei porque Stephen King gosta TANTO deles – me cansam. Outra crítica que tenho ao livro é que às vezes os cenários ficaram um pouco confusos. Não conseguia visualizar tão bem a paisagem de onde as coisas aconteciam.


Outro aspecto perceptível é a violência. O autor claramente não tem frescura para falar como as pessoas morrem aqui e ali. Não tem problemas em falar que uma menina de 7 anos morre ao cair da escada e seu corpo é colocado ao lado de outros corpos sem qualquer cuidado – e que o irmão dessa menina se encontra com ela em uma cena bem dolorosa.

Ficaram algumas dúvidas e questionamentos, mas, independentemente disso, eu gostei.