Sucesso nos anos 2000, líder da banda Twister, Sander Mecca provocou suspiros e até “40 graus de febre” nos fãs da época. Agenda lotada, compromissos inúmeros, uma vida contratualmente regrada, e até um fatídico episódio de abuso sexual, fizeram o músico buscar a liberdade de uma forma perigosa, as drogas. O cantor pagou um alto preço em sua vida até entender que precisava realmente de ajuda e encarar de frente a luta contra a dependência química.
Num papo informal sobre o lançamento do seu novo livro, o qual faz questão de vender pessoalmente, em sua rede social, fizemos o convite para um bate-papo no nosso site. Ele topou de cara e por telefone mesmo, Sander Mecca nos falou abertamente da nova fase em que está vivendo. A espera da pequena Sofia, fruto de seu relacionamento com a Adriana, que tem uma curiosa e apaixonante história com o cantor, contou que está limpo há 4 meses, reescrevendo sua história em seu novo livro “Correntes Invisíveis”.
Em um bate papo muito franco sobre vida nas drogas, novos projetos e a biografia, Sander afirma que seu livro é um grito de alívio e um alerta para quem possa sofrer situações semelhantes. Segundo o músico, este divã literário, não é narrado na ordem cronológica, mas são relatos francos que o ajudam a entender o processo do seu tratamento e um incentivo para quem quer fazer uma história diferente e sair do buraco negro que as drogas podem levar. Confira o bate papo com o cantor!
Acesso Cultural: Sander é um prazer tê-lo aqui no Acesso Cultural. E vamos começar falando dessa nova fase que você está vivendo. Prestes a ser papai e, literalmente, reescrevendo sua história, como você pode descrever esse momento da sua vida?
Sander Mecca: Eu estou muito feliz, por ter a oportunidade de ser pai. Eu não imaginei que ia conseguir parar de usar droga e quiçá ser pai. Com uma pessoa que amo, uma parceirona que é a Adriana, a gente tá muito feliz esperando a Sofia. Oportunidade de construir uma família com alguém que é importante para mim, eu tô curtindo o momento, comprando as coisinhas, montando enxoval, aproveitando juntos esse momento, esperando a Sofia chegar. Eu tô muito feliz por estar limpo, por poder ser um parceiro pra Adriana estar ao lado dela nos exames, pensando nas roupinhas, no berçinho….Esse momento todo é muito mágico.
AC: A Adriana, sua esposa, foi fã da banda Twister. Conta pra gente como foi esse reencontro de vocês.
SM: A Adriana foi super sortuda e ganhou uma viagem pro Caribe, um cruzeiro para as Ilhas do Caribe, com o Twister e nós nos conhecemos lá. Isso foi no ano de 2001, no auge do Twister. Foi uma viagem muito especial, muito bacana. E nós voltamos a nos falar na pandemia, através das redes sociais, ela me deu uma canseira de seis meses (sorri enquanto relembra), mas ficamos juntos e estamos juntos e felizes aguardando a chegada da Sofia (primeira filha do casal).
AC: Você acabou de lançar uma nova autobiografia intitulada “Correntes Invisíveis” quais são essas correntes invisíveis na sua vida hoje?
SM: As Correntes Invisíveis são pra mim, e não tem como deixar de ser, a adicção a qual me torna escravo da droga, do álcool e qualquer substância que me tire da realidade e torne escravo mesmo. Eu me drogava para viver e vivia para me drogar. Eu estou limpo há quatro meses e meio, porém, ela não deixa de ser uma corrente invisível. Por que eu tenho que viver sempre com todos os cuidados e terapia para eu poder ter uma vida de qualidade. Posso ter, como já estou tendo (uma vida de qualidade), mas com todos os cuidados.
AC: O seu primeiro livro foi o “Inferno Amarelo”, o qual, recentemente, foi relançado em uma edição super especial, com fotos e novos depoimentos de amigos. Voltando um pouquinho no tempo, quais as diferenças que você enxerga daquele jovem Sander com 19 anos de idade e do Sander de agora?
SM: A diferença que eu vejo do Sander de 19 anos, quando escreveu o “Inferno Amarelo” e o Sander de agora é a consciência do problemão que é a droga na minha vida. Aos 19 anos, eu não tinha a menor ideia, eu achava que eu tinha controle, não sabia que seria tão difícil eu ficar sem usar droga um dia que fosse. Não tinha ideia que fosse uma doença incurável e fatal. Eu não olhava para droga como uma doença grave.
AC: Você encerra o “Correntes Invisíveis” falando um pouco das “meias verdades” trazidas no primeiro livro. Em que momento você enxergou a necessidade de falar abertamente das coisas que foram ocultadas no passado?
SM: Eu termino o “Correntes Invisíveis” falando das meias verdades que tinha no primeiro livro e eu desmistifico essas meias verdades. Eu fiz isso por que, primeiro o que me trouxe a fazer isso foi meu processo de terapia que eu faço há muito tempo e o processo de recuperação que é importantíssimo pra eu me livrar dessas mentiras. Quando eu passei a estudar e a entender a minha doença, que é a adicção, eu passei a entender que a mentira é um problema e um sintoma da doença. Então, em recuperação eu preciso me livrar das mentiras que eu trago na minha vida, né? Não é que foram mentiras, era o olhar que tinha paras as coisas naquela época e muita coisa eu não contei porque eu tinha medo, não tive coragem de falar eu tinha só 19 anos. Faz parte do meu processo de recuperação, me livrar das mentiras do passado e não repetir isso no meu presente.
AC: Com tudo o que você já viveu. Se você tivesse o poder de reviver um momento e apagar completamente um outro momento da sua memória. Quais seriam e porquê?
SM: Eu acho que tudo é importante para o que nós somos hoje, tudo que a gente viveu faz o que a gente é hoje. E cabe a gente lidar com o dia de hoje e com as consequências. Por isso que a gente tem terapia para fazer e ajuda muito nesse processo. Eu sou uma pessoa que vive o dia de hoje, e claro, o que eu posso fazer de diferente daqui pra frente eu tomo cuidado com meu olhar e o meu jeito de viver para que não se repitam os mesmo erros e as mesmas escolhas.
AC: Estamos vivendo em um “mundo pós-pandêmico”, embora a pandemia não tenha de fato acabado, muitos ainda estão retomando discretamente suas atividades. Você tem planos na música, algum projeto em que esteja trabalhando?
SM: A música continua sendo a minha essência, eu não vivo sem música. Eu quero gravar um álbum. Até agora eu ainda não consegui gravar um álbum inteiro, tenho alguns singles que eu lancei. Eu tenho um projeto de gravar um álbum inteiro, só de músicas inéditas. Na pandemia, como não tinha lugar pra tocar, eu busquei outra fonte de renda pra mim e acabei gostando muito de fazer o que eu tô fazendo hoje que são as minhas comidas. O Mecca Gourmet foi uma opção de fonte de renda e acabei gostando do que eu tô fazendo e ficou em primeiro lugar. Então, shows não é uma coisa que eu vou fazer, até porque a música me leva pra alguns lugares que não faz muito sentido na minha recuperação. Eu não frequento mais bares, casas noturnas, então os shows que eu for fazer serão mais em teatros. O que eu quero fazer, o meu próximo projeto é gravar um álbum de músicas inéditas. Eu não vou deixar de fazer música, não!
Sander fará sua primeira apresentação, após mais de anos, pós-pandemia. O show está marcado para o próximo dia 17 de Setembro, no Teatro Rotina Bar e Restaurante, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Mais Informações aqui!